O solo é o maior patrimônio da humanidade, e é impossível falar sobre cultivo sem falar dele. Vamos nos aprofundar sobre as práticas da agricultura industrial e possíveis soluções para esse problema. Vem se informar para poder cuidar!
Toda a vida na Terra começou no solo: dos microorganismos aos vegetais, até os animais e, finalmente, os seres humanos. Hoje, é dele que vem muito do que nos sustenta: nossos alimentos, material para nossas roupas e de construção, objetos e eletrônicos que usamos no cotidiano, e a nossa vida com certeza não seria a mesma se não fosse a sua riqueza. Sem ele, também não teríamos o equilíbrio dos ciclos naturais da chuva, nem a filtragem e o armazenamento da água que bebemos.
Se um solo saudável é o segredo para a vida, um solo infértil pode ser o sinônimo de destruição. E é isso que a monocultura, praticada desde o século XIX, tem causado.
Atualmente, já sabemos e sentimos na pele as consequências do desequilíbrio nessa estrutura. Sem biodiversidade e com um solo cada vez mais degradado, aumentamos as emissões de carbono e torna-se cada vez mais difícil reverter a situação. Mas não é impossível, gente!
Aqui no blog, sempre falamos sobre a importância de práticas agrícolas sustentáveis e holísticas, que respeitam a Mãe Natureza e a Mãe Terra de forma integral. Acreditamos que tudo o que damos para ela nos é devolvido em forma de amor, de saúde e de colheitas incríveis. Mas a importância do solo vai muito além da cannabis que plantamos ou mesmo dos alimentos que chegam no nosso prato – seja do mercado ou diretamente da horta. Ele é o maior bem da humanidade em todos os sentidos.
Por isso, queremos mostrar a você o mundo inteiro que cabe na terra, desde sua estrutura até como o cuidado com ela pode ser uma das maneiras de evitar que desastres naturais continuem acontecendo. Vamos falar sobre isso e refletir sobre a forma que cuidamos dela?

O que é o solo?
Essa parece uma pergunta bem boba, né? Afinal, vemos o solo e lidamos com ele todos os dias, de forma direta ou indireta. Mas a verdade é que o que conhecemos sobre o solo é só a pontinha de um iceberg que poderia derrubar muitos Titanics.
Se o planeta fosse um corpo, o solo seria como a pele. Ele filtra tudo o que colocamos sobre sua superfície, e é um organismo vivo, em constante transformação. A cada cem anos, apenas uma polegada de solo é gerada a partir da erosão das pedras.
Mas ele não é fruto apenas da sedimentação: o solo também é formado por matéria orgânica decomposta, da qual se alimentam incontáveis microorganismos que o mantém fértil, regulado e saudável para produzir as plantinhas que comemos (ou fumamos, hehe). Um solo saudável e rico em microorganismos é o que torna a vegetação saudável, que, por consequência, torna animais e humanos saudáveis também.
Algumas das principais funções que essa enorme estrutura nos proporciona é:
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apoio ao crescimento de plantas (raiz);
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um reservatório de nutrientes e água para a vegetação;
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um lar de organismos com muitas funções ecológicas críticas (um punhado de solo pode conter tantos micróbios quanto pessoas no planeta);
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reciclagem de materiais orgânicos;
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regulação do ciclo hidrológico (água);
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e outras.
Além de tudo isso, um solo saudável e coberto por vegetação pode controlar melhor a temperatura do ambiente, prover alimento para todos os seres vivos e reduzir drasticamente as emissões de dióxido de carbono para a atmosfera.
Com tudo isso, ainda fica difícil de explicar a enorme importância dele para o planeta. Para compreender tudo isso, precisamos primeiro entender como a qualidade do nosso solo foi reduzida, ano após ano, até chegarmos na situação atual: grandes áreas em processo de desertificação, emissões de gases cada vez maiores devido ao manejo inadequado do solo, perda da biodiversidade e da vida do solo, mudanças climáticas acentuadas e colheitas de alimentos cada vez mais empobrecidos.

Práticas agrícolas modernas
Com o desenvolvimento da agricultura, surgiram algumas práticas que se tornaram bastante comuns nas lavouras do mundo inteiro: lavrar ou arar o solo. E, embora elas sejam comuns, isso não significa que elas não tenham nenhuma consequência negativa.
Lavrar ou arar a terra significa utilizar ferramentas e máquinas para provocar a aeração das camadas, permitindo maior introdução de oxigênio e expulsão de gás carbônico. Para os produtores, isso facilitaria os processos químicos e biológicos da oxigenação, “como uma verdadeira respiração do solo”.
Mas a verdade é que a prática excessiva da aragem leva à erosão do solo, e já foi responsável por um desastre natural praticamente esquecido nos Estados Unidos: o Dust Bowl, tempestades de areia que duraram cerca de dez anos nas planícies do Sul, em 1930.
Por isso, em 1935, o Governo Federal estadunidense criou programas de educação para agricultores, buscando alternativas para possibilitar o plantio sem esgotar o solo. O Serviço de Erosão do Solo, agora denominado Serviço de Conservação de Recursos Naturais (NRCS), implementou novas técnicas agrícolas para combater o problema da erosão e desertificação – mas elas não são as únicas responsáveis por todo esse problema.
Agricultura industrial: a segunda vilã
Embora o ser humano tenha evoluído há milhares de anos com as primeiras técnicas agrícolas, a agricultura industrial é um fenômeno bastante novo. Após a Segunda Guerra Mundial, ela foi a estratégia encontrada para alimentar uma população extremamente enfraquecida devido aos conflitos.
Para prover alimentação em grande escala, as armas químicas criadas pelo alemão Fritz Haber foram importadas para outros países em forma de agrotóxicos. Bom, aí a gente já se pergunta se teria como algo de bom sair de um participante ativo do nazismo, né?
Claramente, a resposta é não. Haber criou os primeiros fertilizantes e pesticidas químicos utilizados no nosso precioso solo. Com eles, os agricultores descobriram que era possível ter ótimas colheitas – mesmo cuidando pouquíssimo da terra e da lavoura. Esses venenos são os aliados número um da agricultura industrial até hoje, e estão pouco a pouco matando o mundo como conhecemos.
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O glifosato, agrotóxico mais utilizado nas lavouras de milho, soja, café, arroz e inúmeras outras, é um possível carcinogênico – principalmente em grandes quantidades.
O problema é que esses químicos não ficam apenas em resíduos em nossos alimentos. Eles são lavados pela chuva e levados para a água que bebemos, o que faz com que estejam em todos os lugares. Eles podem passar para os bebês através da amamentação, e o estresse crônico que ele causa em nosso organismo pode, ao longo do tempo, nos levar a ter doenças diversas.
Uma das partes mais afetadas do nosso organismo é a nossa microbiota. Já ouviu falar dela?
Assim como o solo é composto por milhares de microorganismos vivos, nós também. Inclusive, no nosso corpo, existem mais células microbianas do que humanas. Grande parte delas vive em nosso intestino. Quando nos alimentamos, estamos na verdade alimentando essas bactérias benéficas, que quebram a comida em partículas pequenas, que são absorvidas e nos nutrem.
Sem uma microbiota em bom funcionamento, perdemos a capacidade de absorver diversos nutrientes, o que pode debilitar o corpo e causar as mais variadas disfunções que você possa imaginar. Existem estudos que ligam esse problema até mesmo à depressão.
Se a perda de micróbios causa tudo isso à nós, imagine o que ela faz com a terra?
Terra sem vida = mudanças climáticas
Unindo as técnicas agrícolas danosas e a morte de microorganismos no solo, temos como resultado não apenas o empobrecimento dos nossos alimentos, mas também um papel crescente nas mudanças climáticas do planeta.
“Mas como assim, meninas?”
Primeiro, precisamos ter em mente que a diferença de temperaturas entre um solo coberto e um solo descoberto pode ultrapassar os sete graus Celsius.
Por causa da agricultura industrial e dos produtos químicos utilizados por ela, perdemos cerca de ⅓ do solo superficial de qualidade do mundo. Quando você danifica o solo, ele devolve CO2 à atmosfera, enquanto o solo saudável o absorve. Sem os microorganismos responsáveis por essa tarefa, o solo seca e se transforma em poeira. E é isso que significa o termo desertificação – uma palavra chique para uma terra que está se transformando em deserto.
Enquanto 60% das chuvas vêm do oceano e de nossas reservas de água, 40% da chuva vem da terra e da secagem do solo. Quando interrompemos esses pequenos ciclos, mudamos o microclima. Como cerca de 2/3 do mundo estão desertificando, surgem as mudanças no macroclima também – ou seja, no clima do mundo inteiro.
Todos os anos, 40 milhões de pessoas saem de suas terras devido à desertificação. Até o ano de 2050, cerca de um bilhão de pessoas terão de emigrar por causa desse problema, o que pode gerar caos social. Isso gera uma equação:
Terra empobrecida + população empobrecida = discriminação social + inundações e secas + imigração massiva.
De acordo com a ONU, o solo superficial do mundo terá desaparecido em 60 anos. A menos que o salvemos, temos apenas 60 colheitas restantes.

Além da desertificação
O excesso de interferência humana na terra também tem uma consequência bem conhecida: o aumento das emissões de gás carbônico. Todos sabemos que as plantas utilizam o dióxido de carbono para sobreviver; mas você sabia que, além disso, elas podem ajudar a armazená-lo? Esse processo é conhecido como sequestro de carbono.
A Conferência de Quioto, em 1997, consagrou o conceito de sequestro de carbono como uma forma de conter e reverter o acúmulo de CO2 na atmosfera. A forma mais comum de sequestro de carbono é realizada naturalmente pelas florestas: na fase de crescimento, as árvores demandam uma quantidade muito grande de carbono para se desenvolver. Então, elas utilizam o gás da atmosfera e o transformam em carboidratos através da fotossíntese, que são por fim incorporados à parede celular das árvores e viram alimento para todos os microorganismos que vivem embaixo do solo.
Essa forma natural de sequestro de carbono ajuda a diminuir consideravelmente a quantidade de CO2 na atmosfera: cada hectare de floresta em desenvolvimento é capaz de absorver de 150 a 200 toneladas de carbono. É por isso que o desmatamento é um grande inimigo do sequestro de carbono, já que o corte de árvores promove a liberação do CO2 capturado pelas plantas.
Um planeta coberto é um planeta vivo. Segundo especialistas, usando plantas para capturar carbono e mantê-lo embaixo da terra, podemos reverter o aquecimento global. Pode ser uma ideia simples, mas para fazê-la em escala global precisamos de políticas ambientais alinhadas – o que, vocês sabem, não é uma realidade da qual desfrutamos.
Na Cop21 de 2015, na França, foi apresentada a iniciativa 4 per 1000. Concebida pelo governo francês, seu objetivo é aumentar o armazenamento de carbono em solos agrícolas em 0,4% a cada ano para ajudar a mitigar as mudanças climáticas e aumentar a segurança alimentar. Para cumprir a promessa de tal iniciativa, diferentes setores da sociedade precisarão estimular e coordenar uma melhor comunicação entre cientistas, empresas públicas e privadas, legisladores e o público, reconhecendo os solos como capital natural que pode contribuir significativamente para as economias nacionais e o bem-estar humano.
Entretanto, os três maiores produtores mundiais de alimentos (EUA, China e Índia) não assinaram o acordo.
Mais do que políticas globais: educação
É difícil ver a mudança acontecer quando nossos próprios governos não ajudam, né? Mas acreditamos também que a educação é uma das principais chaves para conscientizar, principalmente os cultivadores, sobre todos esses enormes problemas que já estamos enfrentando hoje.
Aqui no blog, falamos sobre diferentes formas de criar um solo mais rico através de cuidados holísticos – com ele e com as plantas que desejamos colher. A agricultura orgânica, regenerativa e biodinâmica são algumas das vertentes que acreditamos estarem mais alinhadas com a cura da nossa terra. Essas técnicas estão longe de serem novas, mas, por serem o completo oposto da agricultura industrial, foram deixadas de lado em nome da produtividade e do lucro.
Fazer um resgate destes conceitos e de seus ensinamentos pode ser a chave não apenas para o plantio saudável de cannabis, mas para reverter os efeitos devastadores de décadas de manejo inadequado do solo.
Vamos falar um pouco mais sobre eles?
Agricultura orgânica
Ouvimos muito falar nela, mas o que é, realmente, a agricultura orgânica? De acordo com a Associação de Agricultura Orgânica (AAO), é um processo produtivo comprometido com a organicidade e sanidade da produção de alimentos vivos. Para isso, ela desenvolve tecnologias apropriadas à realidade local de solo, topografia, clima, água, radiações e biodiversidade própria de cada contexto, mantendo a harmonia de todos esses elementos entre si e com os seres humanos.
Esse modo de produção assegura:
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O fornecimento de alimentos orgânicos saudáveis, mais saborosos e de maior durabilidade;
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A preservação da qualidade da água usada na irrigação, sem a presença de agrotóxicos, que não polui o solo nem o lençol freático com substâncias químicas tóxicas;
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A estrutura e fertilidade dos solos evitando erosões e degradação através do manejo mínimo, contribuindo para promover e restaurar a rica biodiversidade local;
Por esse conjunto de fatores a agricultura orgânica viabiliza a sustentabilidade da agricultura familiar e amplia a capacidade dos ecossistemas locais em prestar serviços ambientais a toda a comunidade do entorno, contribuindo para reduzir também o aquecimento global.
Uma das grandes precursoras desse movimento aqui no Brasil foi Ana Maria Primavesi. Foi ela quem lançou as bases da agroecologia em solos tropicais, há 41 anos, ao publicar seu livro “Manejo ecológico do solo”, um manual que traduz a ciência da vida contida na terra para que o agricultor a aplique nas suas práticas. Primavesi contribuiu com milhares de outros produtores rurais no sentido de buscar uma agricultura sem uso de defensivos e adubos químicos, e com base em muita observação e na interação entre planta e solo – que, no caso dos trópicos, deve ser vivo, ou seja, repleto de microrganismos que interagem com os minerais e vegetais, num fino equilíbrio.
No meio acadêmico, além de ter se formado em 1942, com mestrado em Agronomia na Áustria, Ana Primavesi lecionou por 12 anos na Universidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, entre 1962 e 1974, onde também realizou pesquisas sobre biologia no solo, juntamente com seu marido, Artur, que fundou o Instituto de Solos e Culturas.
Um dos principais ensinamentos da agrônoma Primavesi era que uma planta necessita de pelo menos 45 tipos de nutrientes para crescer saudável e conseguir, paralelamente, criar defesas naturais contra pragas e doenças. Na agroecologia e com um solo vivo, a riqueza de nutrientes garantida pelo solo nutre a planta – e, consequentemente, os seres humanos. Incrível o legado dessa mulher para todos e todas nós cultivadores!

Agricultura regenerativa
Já a agricultura regenerativa, para o Instituto de Desenvolvimento Sustentável da Universidade do Estado da Califórnia, é uma prática holística de cuidado com a terra que “entre outros benefícios, reverte as mudanças climáticas, reconstruindo a matéria orgânica do solo e restaurando sua biodiversidade degradada – resultando em retirada de carbono e melhoria no ciclo da água”.
Isso significa que a agricultura regenerativa vai além dos cuidados orgânicos, e pode ser a chave para minimizar os impactos negativos do cultivo no mundo – não só o de cannabis, mas de todo o tipo de vegetal. Suas práticas procuram um meio de cuidar e restaurar o solo, antes, durante e depois do cultivo, sem contar com poluentes ou qualquer tipo de material sintético para isso. O que ela prega é que, conhecendo nosso solo e o que ele necessita, podemos plantar vegetais que ajudem em sua recuperação junto com o que buscamos colher ou alternadamente.
Algumas de suas principais práticas são:
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A rotação de culturas, ou cultivo de mais de um tipo de vegetal no mesmo espaço;
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Plantio o ano todo em circuito fechado, sem deixar a terra vazia entre safras, para evitar a erosão do solo;
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Cultivo sem aração de campos, para evitar desgaste e emissão de carbono;
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Pastagem de gado, que estimula naturalmente o crescimento das plantas;
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Uso de insumos 100% naturais para fertilização, como esterco ou outros resíduos orgânicos;
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Zero transgênicos para promover e preservar a biodiversidade;
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Bem estar animal e práticas de trabalho justas.
Enquanto na agricultura tradicional e na monocultura, são utilizadas máquinas e equipamentos para retirar água e nutrientes do solo juntamente com a colheita, a agricultura regenerativa busca trabalhar o solo de forma a mantê-lo saudável. Isso melhora a qualidade de tudo o que é colhido, e ainda mantém o solo vivo e rico para reiniciar o ciclo sem danos.

Agricultura biodinâmica
Assim como a agricultura regenerativa, o movimento da agricultura biodinâmica surgiu em resposta às práticas industriais e mecanizadas presentes no início do século XX. O método foi criado com base nas teorias de Rudolf Steiner, filósofo e pai da Antroposofia, com o objetivo de alcançar uma melhor qualidade nutricional dos alimentos sem usar nenhum tipo de produtos químicos sintéticos, fertilizantes artificiais, hormônios do crescimento ou alimentos geneticamente modificados. Além disso, a prática busca compreender o solo como um recurso vivo e não renovável.
Em 1924, agricultores e pesquisadores se reuniram com Rudolf Steiner em Koberwitz para iniciar o que seria o livro Agricultura: Fundamentos Espirituais para a Renovação da Agricultura, com oito palestras e cinco discussões que orientam o caminho para o desenvolvimento de práticas biodinâmicas.
Muitos agricultores estavam preocupados com o esgotamento do solo, o uso de fertilizantes químicos e como essas práticas exerciam um grande papel na deterioração das plantações e biodiversidade. Essa nova abordagem trouxe a ideia de reconhecer a fazenda como um recurso vivo e um organismo auto sustentável por meio de diferentes práticas biológicas e dinâmicas, como utilização de adubos verdes, cover crops, compostagem, plantio companheiro, uso do esterco de diferentes animais, plantio com base no calendário, chás para controle de pragas, homeopatias e radiônicos.
No mesmo ano, o Movimento Biodinâmico foi estabelecido após um longo período de guerra. Essa forma de se relacionar com a agricultura visava uma reconexão com a Mãe Natureza e seus ciclos por meio de práticas sustentáveis de jardinagem.
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Alguns métodos podem causar a impressão de bruxaria, levando em consideração os ciclos do sol, da lua e das estrelas (zodíaco). Mesmo assim, essa abordagem é reconhecida e praticada em todo o mundo, adaptando-se aos ritmos da natureza de qualquer terra e cultura.
A agricultura biodinâmica engloba práticas da agricultura orgânica, mas vai muito além disso.
Uma aproximação com a ciência de uma forma mais espiritual foi algo que Steiner trouxe quando considerou a agricultura como uma temática que deveria ser abordada de forma holística. Dentre os objetivos dessa prática, um dos mais importantes é alcançar um equilíbrio entre o mundo físico e o mundo espiritual. Na jardinagem, a orgânica se alinha com muitas das práticas da agricultura biodinâmica, mas não inclui outros aspectos de compreensão holística.
Steiner defendia a importância de capacitar agricultores individualmente para entenderem como lidar com as suas próprias terras, estimular a sua conexão com elas e, consequentemente, com a Mãe Natureza. Além disso, buscava soluções sustentáveis para um sistema agrícola que fosse regenerativo e levasse em consideração as gerações futuras. A busca de maneiras de restaurar o solo pós colheitas é uma das práticas importantes desse movimento, mas sua compreensão holística abrange inclusive o transporte desses alimentos voltados para consumo local e menores pegadas de carbono.
Outra pessoa importante na abordagem biodinâmica é Maria Thun (1922-2012), uma mulher alemã que dedicou grande parte de sua vida a investigar e escrever sobre a conexão entre forças cósmicas e o crescimento de plantas. Thun fez muitas experiências para desenvolver o que logo se tornaria seu calendário, dividindo seu ciclo em quatro aspectos: dias de folhas, frutas, flores e raízes.
As práticas biodinâmicas incluem fatores espaciais e também temporais da agricultura em seu sistema, reconhecendo a agricultura como parte de um sistema natural como um todo, e não fragmentado (Maria Thun, 2000). Em seu calendário, ela mostra os dias ideais para podar, semear e colher diferentes plantas. Seu calendário de plantio e semeadura é publicado anualmente há mais de 50 anos. A simplicidade de tal sistema pode ser praticada por jardineiros experientes ou iniciantes.

Como o plantio de maconha pode ajudar o solo
A cannabis pode ter um papel incrível não só na regeneração do solo, mas também na sustentabilidade de forma geral, e vamos explicar alguns dos motivos por aqui.
A cannabis e o cânhamo (sua variante com menos de 0,3% de THC) são respostas mais ecológicas à poluição do solo que causa dores de cabeça aos agricultores – e a todos nós que damos importância a nossa terra. A monocultura, seja de milho, soja, trigo ou outros vegetais, causou danos consideráveis em nosso planeta. Vemos o solo se tornando cada vez mais seco, e sua erosão é cada vez mais comum.
O hemp é uma ótima resposta para esses problemas, pois sua ampla adaptação climática e as raízes de um pé de crescimento rápido permitem que ele prospere em condições de seca. Também ajuda na estabilização do solo, graças às suas raízes longas e de rápido crescimento. Internacionalmente, em países como a China, o cânhamo tem sido tradicionalmente usado no controle da erosão. Ele ainda pode ser usado para limpar o solo e retirar desde resíduos de venenos e agrotóxicos até metais pesados!
Além disso, já foi comprovado que o cânhamo absorve mais CO2 por hectare do que qualquer outra planta ou cultura comercial conhecida. Isso o torna ideal para nossa realidade, que precisa urgentemente diminuir os índices de dióxido de carbono na atmosfera. Ele ainda ajuda a limpar o ar, assim como faz com o solo, e pode melhorar a qualidade de vida de populações de grandes cidades que sofrem com as consequências da poluição.
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Para cada tonelada de cânhamo produzida, são removidas 63 toneladas de carbono da atmosfera!
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A pegada anual de carbono de um cidadão médio da União Europeia é de cerca de 10,5 toneladas de CO2. Uma tonelada de cânhamo pode, portanto, neutralizar a pegada de carbono de um cidadão da UE por seis anos.
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Para absorver as 64 toneladas equivalentes de CO2 de uma tonelada de cânhamo, seriam necessárias 2.860 árvores totalmente crescidas.
Ele ainda pode se transformar nos mais variados materiais: tecidos, plástico ecológico e até mesmo materiais de construção podem ser feitos através do cânhamo. Isso ajudaria não apenas no cuidado com o solo e com as nossas emissões de carbono, mas também na transformação do consumo do nosso dia a dia em algo mais sustentável e menos danoso para o planeta.
O solo é a chave para tudo o que o planeta mais precisa no momento: um cuidado que traga a regeneração, devolva a harmonia aos nossos hábitos de produção e consumo, e se volte cada vez mais à natureza. Respeitar o tempo e os processos naturais é essencial para retomarmos uma relação saudável com a existência na Terra, tanto no cultivo e manejo do solo quanto em todas as esferas da nossa vida.
Vamos pensar com mais amor nessa estrutura que carrega nossa existência?
Esse post foi muito inspirado pelo documentário “Kiss the Ground”, da Netflix. Recomendamos a todos que assistam e venham com a gente nessa reflexão. Afinal, ela é fundamental não apenas para a nossa cannabis e nossa alimentação – mas para nossa existência como humanidade.