A mistura de substâncias psicodélicas com alguns antidepressivos pode desencadear a síndrome serotoninérgica. Venha entender os riscos.
Quando falamos sobre Redução de Danos e drogas em geral, um dos nossos maiores pontos de atenção é a mistura de substância e possíveis interações entre elas. Embora algumas possam ser quase que “inofensivas”, outras podem levar a problemas potencialmente fatais. A síndrome serotoninérgica é uma dessas possíveis consequências negativas, e seu risco é aumentado quando você faz o uso de algumas drogas específicas — aquelas que interagem com nossos receptores de serotonina.
Causada pelo acúmulo desse neurotransmissor em nosso organismo, a síndrome torna bastante arriscado o consumo de algumas substâncias para pessoas que fazem tratamento com antidepressivos. Por isso, todo cuidado é pouco: sempre peça orientação médica antes de tomar qualquer atitude.
Se você não se sente confortável em abordar esse assunto com sua terapeuta, pode ser uma boa contar com um profissional da área da saúde mental antiprobicionista.
Avisos e recados à parte, vamos ao que interessa. Aqui, explicamos melhor o que é a síndrome serotoninérgica, quais seus riscos para quem faz uso de antidepressivos e outras substâncias e como evitá-la. Vem com a gente!
O que é a síndrome serotoninérgica?
De acordo com a Mayo Clinic, uma das maiores instituições de saúde e pesquisa dos Estados Unidos, a síndrome serotoninérgica é uma reação medicamentosa grave, causada por medicamentos que provocam um acúmulo de altos níveis de serotonina no organismo.
A serotonina é uma substância química que nosso corpo produz naturalmente, e é fundamental para o bom funcionamento das células nervosas e do cérebro. Entretanto, o seu excesso pode causar sintomas que podem variar: desde os mais leves, como tremores e diarreia, aos graves, como rigidez muscular, febre e convulsões. Caso não identificada e tratada a tempo, ela pode levar à morte.
Sim: essa condição é bem perigosa, e por isso é essencial nos mantermos alertas.
Formas leves dessa condição podem desaparecer dentro de um ou dois dias após a interrupção dos medicamentos que causam sintomas. Às vezes, também é recomendado que o paciente use medicamentos que bloqueiam a serotonina.
Quais as principais causas da síndrome serotoninérgica?
Como mencionamos ali acima, o acúmulo excessivo de serotonina no corpo é o que cria os sintomas da síndrome serotoninérgica.
Normalmente, as células nervosas do cérebro e da medula espinhal produzem serotonina, um neurotransmissor importantíssimo para o nosso bem-estar. Ele ajuda a regular a atenção, o comportamento, a digestão, a respiração, a temperatura corporal e outros processos fundamentais para nossa existência. Outras células nervosas do corpo, principalmente nos intestinos, também produzem serotonina.
E, embora seja possível que tomar apenas um medicamento que aumente os níveis de serotonina possa causar a síndrome serotoninérgica em algumas pessoas, essa condição ocorre com mais frequência quando as pessoas combinam certas substâncias.
Por exemplo: a síndrome serotoninérgica pode ocorrer se você tomar um antidepressivo com um determinado medicamento para tosse, ou usar um psicodélico enquanto faz tratamento com uma medicação do tipo.
Outra causa da síndrome da serotonina é a overdose intencional de medicamentos antidepressivos.
Quais substâncias podem contribuir para isso?
Vários medicamentos de venda livre e prescritos podem estar associados à síndrome serotoninérgica, especialmente os antidepressivos. Mas algumas outras drogas de uso adulto e até suplementos herbais podem estar associados à condição.
Os medicamentos e suplementos que podem causar a síndrome da serotonina incluem:
Inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRSs), antidepressivos como citalopram, fluoxetina, fluvoxamina, escitalopram, paroxetina e sertralina.
Inibidores da recaptação de serotonina e norepinefrina (SNRIs), antidepressivos como desvenlafaxina, levomilnaciprano, milnaciprano, duloxetina e venlafaxina.
Bupropiona, um antidepressivo e medicamento usado para parar de fumar tabaco.
Antidepressivos tricíclicos, como amitriptilina e nortriptilina.
Inibidores da monoamina oxidase (MAOIs), antidepressivos como isocarboxazida e fenelzina.
Medicamentos antienxaqueca, como carbamazepina, ácido valpróico e triptanos, que incluem almotriptano, naratriptano e sumatriptano.
Medicamentos para a dor, como analgésicos opioides, incluindo codeína, fentanil, hidrocodona, meperidina, oxicodona e tramadol.
Lítio, um estabilizador de humor.
Drogas psicodélicas, incluindo LSD, MDMA, e outras.
Estimulantes, como cocaína e anfetaminas.
Suplementos herbais, incluindo erva de São João, ginseng e noz-moscada.
Medicamentos de venda livre para tosse e resfriado contendo dextrometorfano.
Medicamentos anti-náusea, como granisetron, metoclopramida, droperidol e ondansetron.
Linezolida, um antibiótico.
Ritonavir, um medicamento anti-retroviral usado para tratar o HIV.
Sintomas da síndrome serotoninérgica
Os sintomas da síndrome geralmente começam horas após a ingestão de um novo medicamento, do aumento da dose de um medicamento que você já está tomando ou da interação medicamentosa.
Sinais e sintomas incluem:
- Agitação e insônia;
- Confusão mental;
- Frequência cardíaca acelerada e pressão alta;
- Pupilas dilatadas;
- Perda de coordenação muscular ou espasmos musculares;
- Rigidez muscular;
- Suor intenso;
- Diarreia;
- Dor de cabeça;
- Tremores, arrepios e calafrios.
A síndrome em sua forma grave pode ser fatal. Os sinais incluem:
- Perda da consciência;
- Febre alta;
- Tremores;
- Convulsões;
- Arritmia cardíaca.
Se você estiver apresentando esses sintomas após iniciar um novo medicamento, aumentar a dose de um medicamento que já está tomando ou misturar substâncias, ligue para o seu médico imediatamente ou vá para a emergência.
Fatores de risco para a síndrome serotoninérgica
Algumas pessoas são mais propensas a serem afetadas pelos medicamentos e suplementos que causam a síndrome do que outras, mas a condição pode ocorrer em qualquer pessoa. É por isso que precisamos tomar muito cuidado!
Você pode estar em risco se:
- Recentemente começou a tomar ou aumentou a dose de um medicamento conhecido por aumentar os níveis de serotonina, como os que listamos acima;
- Toma mais de um medicamento conhecido por aumentar os níveis de serotonina regularmente;
- Consome suplementos de ervas conhecidos por aumentar os níveis de serotonina;
- Usa/usou uma droga psicodélica ou estimulante conhecida por aumentar os níveis de serotonina.
Então eu não posso usar drogas se uso antidepressivos?
Bom, não existem tantos dados sobre a interação entre psicodélicos e antidepressivos. No entanto, é bem sabido que os psicodélicos têm propriedades agonistas do receptor 5-HT2A, aumentando, a neurotransmissão neste receptor. Por isso, pode ser perigoso misturar as coisas — como o psiquiatra e redutor de danos Rafael Baquit já nos explicou aqui, no nosso artigo sobre interação entre maconha e antidepressivos.
Rafael nos explica que as substâncias, de forma geral, são metabolizadas pelo nosso fígado. Essa metabolização se dá por meio de diferentes mecanismos, mas principalmente por um grupo de enzimas chamado citocromo P450.
Segundo o psiquiatra, no citocromo P450, temos vários tipos de enzimas diferentes, e cada molécula é metabolizada por uma enzima ou por grupos enzimáticos diferentes. Algumas moléculas têm o poder de induzir essas enzimas para que elas trabalhem mais, enquanto outras moléculas têm a capacidade de inibir essas enzimas para que elas não funcionem.
Por exemplo:
- A fluoxetina é um antidepressivo pan inibidor do citocromo P450. Ou seja, ele inibe as enzimas do citocromo P450 de forma geral, então ela faz com que todas essas moléculas aumentem a concentração no sangue. Por isso, a fluoxetina é uma das medicações mais problemáticas de interagir com os psicodélicos, pois induzem ao risco de síndrome serotoninérgica.
Como prevenir e reduzir riscos?
- Saiba sempre quais medicamentos você toma e compartilhe uma lista completa deles com seu médico ou farmacêutico.
- Certifique-se de conversar com seu médico se você tiver sintomas após tomar um medicamento novo.
- Converse também com seu médico sobre possíveis riscos e interações. Não pare de tomar nenhum medicamento por conta própria. Se o seu médico prescrever um novo medicamento, certifique-se de que ele conheça todos os outros medicamentos que você está tomando, especialmente se receber prescrições de mais de um médico.
- Se você e seu médico decidirem que os benefícios da combinação de certos medicamentos que afetam o nível de serotonina superam os riscos, fique atento à possibilidade de síndrome da serotonina.
Saber o que você está utilizando e ter responsabilidade na hora de tomar decisões pode salvar sua vida. Fique de olho nas interações e não assuma riscos sem pensar!
Para mais informações sobre Redução de Danos, maconha e outras drogas, siga a gente no nosso Instagram @girlsingreen710.
Até a próxima!