Usando apenas a nossa respiração, em ambientes terapêuticos seguros, é possível ter experiências psicodélicas intensas e cheias de revelações pessoais. Vem conhecer a Respiração Holotrópica!
Já imaginou poder ter uma viagem psicodélica com algo que nunca pode ser proibido? Na Respiração Holotrópica, isso é possível: através de métodos de inspiração e expiração ritmados, o paciente atinge uma expansão de consciência que permite encontrar raízes de traumas e respostas para integrar a experiência. Ela é uma saída legal para quem deseja mergulhar nas águas mais profundas do autoconhecimento, atravessando barreiras físicas, psíquicas e psicossomáticas.
Enquanto uma ferramenta terapêutica cheia de potencial, também precisamos fazer um alerta: é essencial que ela seja aplicada por profissionais sérios e certificados no método, com cuidados especiais durante e depois da prática. Muitas vezes, a gente até ignora o poder da nossa respiração – mas, acredite, ela pode dar origem a respostas fisiológicas e psicológicas bastante desafiadoras, e é fundamental que ela seja acompanhada de perto por alguém preparado especialmente para isso!
Mas, para realmente conhecer a Respiração Holotrópica, precisamos falar sobre a sua história rica. O método foi, e ainda é, extremamente revolucionário e, por trás dele, temos uma teoria que une o ser humano como um todo, suas experiências no campo físico e emocional, e muita psicodelia como forma de lidar com elas.
Vamos lá? Vem com a gente saber mais sobre isso!
O que é a Respiração Holotrópica
Uma abordagem terapêutica experimental focada no autoconhecimento, na autoexploração e em todas as dimensões do ser: criada por Stanislav Grof e Christina Grof, pesquisadores treinados em terapia psicanalítica, essa é uma das definições da Respiração Holotrópica.
Enquanto pesquisavam os efeitos do LSD, o casal se interessou pelos estados expandidos ou incomuns de consciência e como eles poderiam ajudar a capacitar as pessoas a lidar com traumas, comuns a todos nós. Inclusive, algo muito interessante é que alguns participantes conseguem reviver o próprio nascimento – já que deixar o útero é o primeiro grande trauma pelo qual passamos. Assim, eles procuraram desenvolver um método para alcançar uma experiência psicodélica via respiração, apenas para autoconhecimento e cura interior.
A Respiração Holotrópica usa o potencial de cura e transformação dos estados ampliados de consciência, em um ambiente seguro e acolhedor, com pessoas especialmente treinadas para lidar com todas as situações que essa busca interna pode gerar.
Nesses estados, os participantes vivenciam experiências de todos os tipos, que podem propiciar o acesso às raízes de transtornos emocionais e psicossomáticos. Além da melhora de condições nos campos emocional e físico, os efeitos benéficos das sessões podem também trazer uma transformação completa, que vai desde mudanças positivas na personalidade ao modo de ver o mundo e seus próprios valores pessoais.
“Holotrópico” significa “movendo-se em direção à totalidade” e sugere tanto um movimento de reintegração de partes fragmentadas de si mesmo, quanto de reconexão com uma dimensão maior.
Mas é impossível falarmos desse conceito sem antes entendermos a psicologia transpessoal. Já ouviu falar dela?
A psicologia transpessoal
No ano de 1967, um pequeno grupo formado por Abraham Maslow, Anthony Sutich, Stanislav Grof, James Fadiman, Miles Vich e Sonya Margulies se reuniu em Menlo Park, na Califórnia, com o propósito de criar uma nova psicologia. Na época, eles estavam insatisfeitos com as abordagens existentes – focadas em estudos comportamentais ou na análise freudiana. Para os profissionais, era necessário conceber uma orientação capaz de honrar o espectro inteiro da consciência humana e suas manifestações, bem como seus vários estados incomuns e a dimensão espiritual da existência.
Durante essas discussões, Maslow e Sutich aceitaram a sugestão de Grof e deram à nova disciplina o nome de Psicologia Transpessoal. Em seguida, fundaram a Association of Transpersonal Psychology (ATP) e lançaram o Journal of Transpersonal Psychology.
A principal diferença entre essa e as vertentes existentes é que, na Psicologia Transpessoal, o homem é concebido como um todo, interconectado com toda a existência e toda a manifestação de vida, não encapsulado e limitado por um ego. É o princípio holográfico, onde não só o Todo contém as partes, mas também as partes contêm o Todo. Especial demais, né?
Ela ainda entende que nossa consciência manifesta propriedades não limitadas pelo espaço e/ou tempo, e considera a espiritualidade como uma parte de todos os seres humanos. Através dela, nos sentimos conectados a essa totalidade. Nesse contexto, a espiritualidade não se refere apenas a nossa religião ou nossas próprias crenças internas, e sim uma dimensão que transcende a própria do psiquismo humano. Ela seria, de acordo com a vertente, uma fonte importante de plenitude, discernimento e consciência ética em relação à vida e à vida dos demais seres.
Para os próprios fundadores e seguidores da Psicologia Transpessoal, o afastamento entre espiritualidade e ciência é uma das principais causas do mau uso do saber científico e do grande vazio existencial presente no mundo moderno. E foi através dela que Stanislav Grof e Christina Grof criaram todos os seus métodos.
A abordagem holotrópica
Os estados ampliados de consciência, chamados por Grof de “estados holotrópicos”, são uma categoria especial de estados alterados. Ele o cunhou pois o termo “estado alterado de consciência” é amplo demais, já que inclui estados como:
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delírios causados por doenças ou estados de total desorientação, como quando uma pessoa sofre traumatismo craniano e suas funções cerebrais são prejudicadas;
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estados místicos, meditativos, experiências xamânicas, vivências com substâncias psicodélicas e hipnose.
Além do potencial terapêutico, para Stanislav, nesses estados é possível acessar informações e insights sobre a natureza da psique humana e da realidade.
Os estados ampliados (ou holotrópicos) de consciência são cultivados há milênios pelas mais diferentes culturas com o objetivo de promover cura, transformação e conexão espiritual. As culturas antigas e aborígines desenvolveram diferentes métodos para induzir esses estados, como músicas, cantos, danças ritmadas, isolamento social e sensorial, jejum, privação de sono e uso de plantas psicodélicas – como é o caso dos cogumelos e da nossa amada ayahuasca.
Como são as sessões Respiração Holotrópica
A Respiração Holotrópica usa uma combinação de técnicas que podem até parecer simples – elas combinam respiração acelerada, música evocativa e um trabalho corporal específico que ajuda a liberar bloqueios emocionais, biológicos e energéticos. As sessões normalmente são realizadas em grupos: os participantes trabalham em pares e se alternam nos papéis de “respirantes” e “acompanhantes”. Esse processo ainda é supervisionado por facilitadores treinados e certificados, que podem intervir e ajudar os participantes sempre que surge alguma experiência mais desafiadora.
Depois das sessões, os participantes expressam suas experiências e compartilham os relatos de suas viagens internas com o grupo. Entrevistas de acompanhamento e outros métodos complementares são utilizados quando necessário, com o objetivo de facilitar a conclusão e a integração da experiência. É como outras terapias assistidas com psicodélicos – tirando o fato de que nenhuma substância é necessária, apenas o ar e as técnicas de respiração.
Em sua teoria e prática, a Respiração Holotrópica combina e integra diversos elementos:
- Da psicologia profunda;
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Da pesquisa moderna da consciência;
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Da psicologia transpessoal;
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Das filosofias espirituais do Oriente, incluindo pranayamas – técnicas de respiração ligadas à yoga;
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Das práticas nativas de cura.
Assim, ela se torna muito diferente dos métodos tradicionais de psicoterapia, que utilizam essencialmente meios verbais, como a psicanálise e outras escolas da psicologia profunda. No entanto, a Respiração Holotrópica se destaca dessas abordagens ao utilizar o potencial intrínseco de cura de estados incomuns de consciência.
Quais são seus benefícios?
Os benefícios da Respiração Holotrópica podem ser muitos, quando feita por pessoas treinadas! Desde que foi desenvolvida, como já falamos mais para o início do texto, ela foi vista como uma maneira de ajudar os pacientes a lidarem com traumas, que se consolidam em memórias e podem gerar problemas psicossomáticos. Por isso, a técnica se mostra uma ferramenta poderosa aliada à psicoterapia, auxiliando especialmente quem apresenta comportamentos de fuga.
Ela ainda é bastante eficaz na diminuição da ansiedade nos praticantes, trazendo sensação de calma e criatividade após cada sessão.
Além disso, houve relatos pessoais de consciência expandida e maior autodescoberta com esse método. Outros relatam um nível mais alto de confiança em si mesmo, liberação de estresse e uma nova perspectiva sobre questões pessoais com as quais lutam.
E existem riscos?
A técnica pode não ser a mais recomendada para pessoas que são propensas a ataques de pânico, têm histórico de psicose ou aquelas que sofrem de pressão arterial alta ou baixa, glaucoma ou doença cardiovascular – já que ela mexe muito com o nosso próprio corpo e suas funções.
Onde encontrar?
Para quem quiser adicionar à lista de viagens, a gente recomenda o Esalen Institute. O centro educacional holístico sem fins lucrativos fica em Big Sur, na Califórnia, e se coloca como um ambiente de conforto voltado para exploração interna desde 1962. Com diferentes Workshops e programas, eles ainda oferecem bolsas de estudos para quem deseja aplicar sua entrada em algum dos cursos existentes no seu calendário.
No Brasil, temos o Holotrópica Brasil, uma página de divulgação da Respiração Holotrópica no no país. Ela oferece informações sobre a teoria e prática da Respiração Holotrópica e uma agenda de palestras, oficinas e módulos de formação realizados por facilitadores certificados. Para participar de um workshop, fique de olho na agenda.
Experiências das Girls
Em 2017, na primeira vez que a Alice veio para a Califórnia, ela participou de um congresso chamado Psychedelics Science. O Psychedelics Science não era só um congresso com palestras, mas ele também tinha vivências e workshops. Sem saber muito sobre o que estava fazendo, ela sentiu um chamado para tentar a Respiração Holotrópica, porque era trabalhar exatamente com isso: com uma via que não era proibida, que é a respiração.
Na hora, ela diz que não entendeu totalmente a potência disso. Quando chegou para entender mais sobre Respiração Holotrópica, ela entendeu que o trabalho que já tinha feito de Redução de Danos em contexto de festa dava conta da experiência, porque, com o ar, você acessava estados alterados de consciência, e também, por conta da hiperventilação, você tinha várias reações fisiológicas no corpo que eram difíceis. Tem pacientes que se debatem, que convulsionam ou que sentem uma dor física muito forte.
Era um workshop de dois dias. No primeiro, ou você era o sitter de uma pessoa (cada um tem um sitter individual) ou você passava pela experiência e você tinha um sitter. Ela, então, decidiu ser a “respirante”. Em uma sala com mais de cem pessoas, cada um tinha seu cuidador individual, e, além disso, existiam grupos de dez – cada um dos grupos de dez tinham dois anjos, que eram sitters coletivos para cuidar dos grupos.
Então, ela começou a respirar. A experiência toda também é feita com música, e essa música ajuda a entrar em um estado alterado de consciência e a guiar a velocidade da sua respiração. Segundo ela, você começa e eles pedem para você respirar cada vez mais rápido – e foi aí que Alice se jogou nessa experiência. Ela começou a sentir as mãos e os pés formigarem, e lembra de sentir uma dor e um incômodo físico muito grande.
Em dado momento, ela pulou para um estado alterado de consciência, onde realmente tudo que estava ao redor já não existia mais, e quando se iniciam as visões psicodélicas.
Sua experiência foi o adeus da avó: “eu não estava presente quando minha avó faleceu e minha família não quis esperar para fazer o enterro. E eu nunca imaginei que isso me incomodasse tanto, ou que isso estivesse cravado na minha consciência dessa forma. Então, na minha experiência, eu me despedi da minha vó. […] Então, para mim, foi a finalização do processo de luto com ela, e foi muito intenso mesmo”.
Ela lembra de sentir muita dor e de precisar de ajuda durante o processo. Nesse momento, um dos cuidadores vem para respirar mais rápido – você tem a opção de parar de respirar tão rápido e começar a diminuir a incidência do que está acontecendo, ou de respirar mais rápido até passar por esse obstáculo. “Foi muito intenso. Perdi completamente a noção de tempo e espaço, parecia que tinha passado uma hora e foram quatro”.
No outro dia, Alice teve a experiência de ser cuidadora e poder ver o que estava acontecendo ao redor. Foi aí que ela se sentiu sortuda por ter passado pela respiração sem saber o que esperar. “Eu olhei para o lado e vi muitas loucuras acontecendo, pessoas se debatendo, se machucando, o que me mostrou a importância de estar num espaço que consegue acolher e dar conta dessa demanda, que é a mesma coisa que uma viagem psicodélica muito forte”.
Depois que você passa pela experiência da respiração, você vai desenhar – o que faz parte da fase de integração, que é uma das partes mais importantes. Não é possível apenas fazer isso e ir embora – é preciso usar o espaço para integrar todos aqueles conteúdos que apareceram e que se desenvolveram nesse momento de alteração de consciência e rebaixamento das estruturas da psique.
E aí, gostou de saber mais sobre esse assunto? Ficou curiosa(o) para passar pela experiência? Se já tiver passado, conta para a gente como foi – pode ser aqui nos comentários ou no nosso Instagram @girlsingreen710, onde postamos vários conteúdos para vocês.
Até a próxima aventura!
Que blog SENSACIONAL! MEus parabéns pela riqueza de detalhes, impressionante.