Venha conhecer mais sobre essa espécie diferente que são os cogumelos. Alimentos, medicina, viagens psicodélicas, ritualísticas, e ciência.
Nem animal, nem planta: o cogumelo é tão especial que tem um reino só pra ele, o dos fungos. Eles são tão interessantes que muitos acreditam que eles se comunicam embaixo da terra, usando um tipo de conexão especial através do seu micélio – uma rede que interliga suas raízes. É como se você pudesse se comunicar com seus amigos usando telepatia! Como Paul Stamets diria, a internet da natureza.
Mas o que é mais incrível ainda é que os cogumelos mágicos são os alteradores de consciência utilizados ritualisticamente há mais tempo no mundo.
Os primeiros registros de seus usos são mais antigos até que os da cannabis! Atualmente, seu resgate envolve a ciência, que estuda seus princípios ativos e suas aplicações terapêuticas e até mesmo em tratamentos reconhecidos pela comunidade científica atual.
No nosso terceiro texto da série “Cannabis e outras drogas”, vamos viajar pelo mundo dos cogumelos para entender como eles agem no nosso organismo, de onde surgem seus usos e como as pesquisas sobre eles têm avançado.
Vamos lá? Vem com a gente nessa!
Pra começar: o que são os cogumelos?
Os cogumelos são corpos frutíferos, organismos que pertencem ao reino dos fungos, assim como os mofos, os bolores e as leveduras. Muita gente confunde fungo com planta, e até mesmo a ciência, no passado, já os classificou assim. Entretanto, com o estudo das estruturas celulares, foi possível ver que eles têm inúmeras diferenças e características próprias, como:
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A célula do fungo não possui clorofila, logo ela não tem a capacidade de fazer fotossíntese;
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As suas células têm paredes rígidas, mas que não são formadas por celulose, como acontece com as plantas;
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Nas células dos fungos existe quitina, uma substância também presente na casca de alguns animais, como os insetos.
Os fungos podem ser unicelulares, como as leveduras, utilizadas como fermento na fabricação de massas e até na fermentação de bebidas, ou pluricelulares, como os cogumelos. Eles têm vida livre ou não, e são encontrados nos mais variados ambientes, sobretudo em lugares úmidos e ricos em matéria orgânica.
Os fungos pluricelulares geralmente apresentam hifas – filamentos que se entrelaçam formando uma rede denominada micélio, que é como uma teia branca. Elas crescem e vivem escondidas sob o solo, sob a casca do tronco de árvore ou sob a matéria orgânica, isto é, restos de seres vivos. Através dela que há uma espécie de comunicação entre esses fungos, como citamos lá no início do texto. É bizarro e incrível como a gente se surpreende com a natureza, né?
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Os fungos se reproduzem assexuadamente ou sexuadamente através dos esporos.
Mas a gente sabe que existem os cogumelos – que a gente adora comer com um macarrão ou num risotinho pra bater aquela larica – e os cogumelos mágicos. Grandes partes dos dos cogumelos mágicos se diferenciam dos outros pela presença de psilocibina, substância da família das triptaminas que pode ser encontrada em mais de cem espécies de cogumelos. Após consumida, ela é metabolizada e vira psilocina.
Psilocibina

A psilocibina, presente nos famosos cogumelos mágicos, é um alcaloide psicodélico que ativa principalmente os receptores 5ht2a (receptores de serotonina), mais proeminentes no córtex pré-frontal do cérebro – área responsável pelo nosso humor, cognição e percepção.
Após a ingestão, a psilocibina é absorvida e metabolizada em um processo que dura em torno de 30 minutos, com uma duração que varia de quatro até seis horas. Os principais efeitos relatados depois do consumo dos cogumelos são:
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Sentimentos de alegria, felicidade e euforia;
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Tranquilidade e um “despertar espiritual”;
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Mudança rápida de emoções;
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Desrealização, ou a sensação de que seu meio envolvente não é real;
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Despersonalização, ou uma sensação de sonho;
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Pensamento distorcido, com alteração visual e distorção, halos de luz e cores vivas;
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Pupilas dilatadas (midríase)
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Tontura, sonolência, bocejos e dificuldade de concentração;
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Relaxamento muscular e falta de coordenação;
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Náusea e alguns poucos casos de vômitos com contexto de limpeza.
A psilocibina é normalmente consumida por via oral, como em chás ou em alimentos. Cogumelos desidratados também podem ser esmagados em um pó e preparados em forma de cápsula para melhor ingestão. Alguns usuários revestem os cogumelos com chocolate – para tirar um pouco do amargo característico. A potência varia muito, e pode depender da espécie, origem do cogumelo e se ele é ingerido fresco ou seco. A quantidade de seu peso em massa em psilocybes secos é cerca de 10 vezes superior a de cogumelos frescos. Assim como as bananas, muita água no fruto recém colhido.
Esses cogumelos são encontrados na natureza. No Brasil, sua presença é comum em fazendas onde há criação de gado – pois eles crescem no esterco. Mas é necessário um cuidado grande na hora de identificar eles, pois é possível confundi-los com cogumelos venenosos! Nesse guia aqui, você pode aprender a diferenciá-los em uma caçada.
Segundo o Global Drug Survey, levantamento de saúde pública feito com 120 mil usuários de drogas em 50 países, a psilocibina é a substância psicoativa mais segura do mundo. 10% dos entrevistados, 12 mil pessoas ao todo, afirmaram ter usado os fungos psicodélicos em 2016. Só 24 delas – 0,2% – precisaram de assistência médica emergencial após a experiência.
Essa taxa é pelo menos três vezes menor que a de qualquer outra droga, de origem natural ou sintética.
Os efeitos terapêuticos da psilocibina
Nem só de viagem é feita a mágica desses cogumelos! Na verdade, são vários os assuntos relacionados a essa substância. Aqui, selecionamos alguns dos mais recentes:
A psilocibina pode te ajudar a largar alguns “vícios”, como o cigarro e o álcool. É isso mesmo! Em um estudo de 2017 analisando o uso do tabaco, ela produziu resultados impressionantes que ultrapassam de longe qualquer opção de tratamento convencional. Aos 12 meses após a experiência, 67% dos participantes estavam livres do fumo. A substância, em 2015, também foi eficaz ao tratar um grupo de indivíduos com problemas relacionados ao consumo de álcool. Como a amostragem foi pequena, existem estudos em andamento para apurar melhor essa relação.
A psilocibina pode auxiliar no tratamento de depressão e ansiedade existencial. Um estudo de acompanhamento do primeiro ensaio pioneiro explorando isso relatou que, seis meses após a sessão, 31% dos participantes com depressão resistente ao tratamento relataram efeitos antidepressivos duradouros. Outro estudo de acompanhamento de seis meses revelou uma mudança de uma sensação de desconexão (de si mesmo, dos outros e do mundo) para a conexão, e de um estado de bloqueio emocional para aceitação e início de um processo interno.
Enquanto isso, três estudos separados, na UCLA, Johns Hopkins e NYU, exploraram o potencial da psilocibina para tratar a ansiedade existencial em pacientes com câncer em estado terminal. Eles construíram a base de evidências mais forte, de longe, para qualquer indicação contra a qual a psilocibina já foi testada. Não apenas uma única experiência com psilocibina foi considerada altamente eficaz na maioria dos participantes, os benefícios também parecem ser altamente duradouros, com efeitos antidepressivos e ansiolíticos sustentados.
A psilocibina pode aumentar a empatia, a conexão com a natureza e com o divino. Além de ser um tratamento potencialmente transformador para uma série de condições de saúde mental difíceis de tratar, a psilocibina também tem valor para pessoas saudáveis. Este estudo relatou que, mesmo em doses mais baixas, a psilocibina ainda era capaz de aumentar a empatia e o bem-estar até sete dias depois. Outra análise descobriu que as pessoas eram menos propensas a opiniões autoritárias e relataram se sentir mais conectadas à natureza até um ano depois do uso da substância.
Esta outra pesquisa concluiu que as experiências místicas da psilocibina, em combinação com práticas espirituais como meditação e registro em diário, produziram mudanças duradouras nos valores e comportamentos pró-sociais, enquanto promovem o funcionamento psicológico saudável.
Usos ritualísticos e contextos
Os cogumelos mágicos são, assim como a ayahuasca, elementos extremamente importantes dentro do xamanismo e fizeram (e ainda fazem parte) de muitas religiões e rituais.
No livro Retorno à Cultura Arcaica, de Terence Mckenna, ele conta que “há talvez dezenas de milhares de anos, os seres humanos vêm utilizando cogumelos para fins de adivinhação e indução do êxtase xamanista” e que pretendia “demonstrar que a interação entre homens e os cogumelos não é uma relação
simbiótica estática, e sim dinâmica, através da qual pelo menos uma das partes consegue atingir níveis culturais mais elevados”.
São inúmeros os povos que utilizaram esse tipo de substância em ritos. Na América, por exemplo, os povos Maias usavam o Teonanácatl (Psilocybe Mexicana). Seu primeiro uso data de 1502, durante a coroação do imperador Montezuma. Conhecido como a “Carne de Deus”, é o cogumelo milenar dos índios mexicanos até os dias de hoje.

Estratégias de uso
Assim como qualquer substância, os cogumelos também requerem seus cuidados na hora de consumir. Quanto à dosagem, embora não haja como saber 100% quanta psilocibina está presente em cada cogumelo, existem os seguintes parâmetros:
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Para efeitos leves, de 0.5 a 1.2 gramas desidratadas
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Para efeitos moderados, de 1.2 a 3 gramas desidratadas
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Para efeitos fortes, acima de 3 gramas desidratadas
Também é importante avisar um amigo confiável que você está ingerindo a substância, além de se certificar de que você tem água, comida, cobertas e um ambiente calmo disponível. Prepare-se também quanto as suas expectativas: saiba que você poderá experiênciar boas ou ruins, como em um sonho e que você deverá lidar com elas com tranquilidade, sem entrar em pânico. Entrega é o caminho. Lembre-se de que uma grande parte da experiência com qualquer psicoativo depende do set and setting – isto é, onde você se encontra fisicamente e psicologicamente ao consumir.
Cuidados com potenciais riscos
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Pessoas que tomam psilocibina não devem, sob hipótese alguma, dirigir ou realizar qualquer ação em que a coordenação motora seja necessária.
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Algumas pessoas podem sofrer alterações persistentes e angustiantes em percepções (principalmente visuais) que podem durar de minutos e horas, semanas caso o que foi emergido não seja processado até o fim.
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Alguns indivíduos com propensão podem experimentar efeitos mais desagradáveis, como o medo, agitação, confusão, delírio ou abertura de estado psicótico.
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Finalmente, embora o risco seja pequeno, alguns usuários de psilocibina sofrem envenenamento acidental por ingestão de um cogumelo venenoso por engano. Os sintomas de envenenamento por cogumelos podem incluir espasmos musculares, confusão e delírios. Se está atrás de psilocybes, nunca colete em madeira.
Interações da psilocibina com a cannabis
De acordo com o guia de combinação segura de drogas, é preciso ter cuidado ao usar a psilocibina e a cannabis concomitantemente. Isso porque, assim como acontece com o LSD, a mistura pode provocar efeitos indesejados em algumas pessoas – como paranóia, pânico e outras sensações desagradáveis. A mistura não representa risco de morte, mas deve ser feita com cautela! Usuários muito experientes em apenas uma das substâncias também correm este risco.
Quando a gente ama assim um assunto, é normal se estender um pouquinho mais, né? Essa temática rende muito, e é cheia de nuances incríveis para se descobrir e estudar.
Amanita Muscaria, outro princípio ativo
Lembra do cogumelo do Mário? Aquele que dava vida pra ele?
Oficialmente, o cogumelo se chama Amanita muscaria, e basicamente todas as suas partes são altamente psicoativas. O nome do princípio ativo é Muscimol. O problema é que, ao contrário da psilocibina, as substâncias deste fungo podem ser bastante perigosas.
Amanita muscaria é uma espécie de cogumelo que cresce amplamente em quase todos os lugares do hemisfério norte. É listado como venenoso na maioria das fontes de micologia e seu uso não é comum porque seus efeitos podem ser um tanto desagradáveis, embora tenha sido usado tradicionalmente por várias culturas. Existem relatos conflitantes sobre se alguma vez houve uma fatalidade causada por ele; então, a dica é ter muito cuidado! Pode ser venenoso em altas doses ou para indivíduos sensíveis. Sua propriedade mais intoxicante está presente no ácido ibotênico que pode ser retirado do cogumelo secando eles frente a um forno aberto. Seu uso com álcool deve ser evitado.
E aí, gostou de saber tudo isso? Conta pra gente se você já teve uma experiência com cogumelos aqui nos comentários!
Parabéns muito informativo e interessante um excelente artigo
Excelente o artigo, muito bem detalhado em diversos usos e contextos. Gostei também da abordagem sobre os novos tratamentos que vem sido pesquisados de uso dos cubensis para tratamentos de depressão.
Artigo incrívellllll, site incrível!
Excelente artigo meninas. Sem duvidas o tema eh mto vasto e interessante. Parabens
ótimo artigo, seria ótimo ter a referencia completa desse artigo ajudaria muito os alunos que usam essas informações.
Excelente artigo! Seria legal ter também informações sobre as formas de consumo. Gostaria de entender o que esperar da experiência com a ingestão de chá ou simplesmente comer (desidratado ou não).
Excelente o artigo, muito bem detalhado em diversos usos e contextos. Gostei também da abordagem sobre os novos tratamentos que vem sido pesquisados de uso dos cubensis para tratamentos de depressão.
Meus Parabéns!
Faço o uso dos cubensis e todo mundo deveria provar pelo menos 1 vez !
Ótimo artigo