Conquistar nosso espaço como mulheres na indústria nunca foi fácil, e isso não é diferente quando falamos da maconha. Aqui, vamos falar mais sobre essas dificuldades.
“Buy weed from women”: você já deve ter visto esse slogan, que significa “compre maconha de mulheres”, em algum lugar por aí. Ele traduz um sentimento que, na nossa opinião, é importante demais — nós, como mulheres, precisamos apoiar umas as outras dentro desse mercado tão novo, mas que se mostra tão parecido com as demais em seus aspectos mais negativos. A verdade é que é muito difícil a realidade das mulheres na indústria da maconha, dentro e fora do Brasil.
Como diria Simone de Beauvoir, “basta uma crise política, econômica e religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados”. Nossos direitos são muito novos, e foram conquistados com muita luta ao longo do último século. Mas isso não significa que a gente esteja em pé de igualdade com os homens, e o patriarcado tem maneiras sujas e cruéis de nos lembrar disso todos os dias. Seja em casa, seja no trabalho.
Hoje, viemos falar sobre os desafios que percebemos enquanto mulheres dentro da indústria da maconha — tanto no mercado legal dos Estados Unidos quanto no Brasil, que ainda luta pela legalização e regulamentação da planta. Mesmo em realidades tão diferentes, muitos dos pontos de atenção são os mesmos.
Vem com a gente entender os problemas que enfrentamos, e como podemos nos fortalecer para lutar pelo espaço que merecemos

Mulheres na indústria da maconha em dados
Nos Estados Unidos, já vemos de cara um problema: a indústria legal de maconha tem crescido, mas a participação das mulheres está cada vez mais baixa. Em 2017, as mulheres ocupavam 37% dos cargos de nível executivo. Em 2022, esse cenário mudou para um total extremamente baixo de 8%, segundo dados do MJ Biz.
Mas quer saber o mais maluco de tudo isso? Segundo um white paper recente do The Arcview Group e da National Cannabis Industry Association, empresas com mulheres em cargos de liderança são realmente mais lucrativas e produzem mais do que o dobro da receita por dólar investido do que aquelas sem elas.
Ou seja: mesmo trabalhando duro e gerando resultados, ainda não conseguimos um espaço sequer similar ao dos homens.
Isso também é uma responsabilidade dos investidores, que ainda insistem em dar mais dinheiro justamente para… empreendedores do sexo masculino. Ainda de acordo com a reportagem do MJ Biz, as mulheres abrem negócios no setor da cannabis quase na mesma proporção que os homens — especialmente mulheres não-brancas. Entretanto, estamos recebendo apenas 3% do financiamento distribuído pelas indústrias por capitalistas de risco todos os anos.
No Brasil, não temos dados tão específicos sobre a indústria canábica. Isso porque, por conta da falta de regulamentação, as coisas ainda são muito novas por aqui. Entretanto, quando olhamos para o número geral de mulheres na indústria, vemos que ocupamos apenas 24% dos cargos executivos no país. E isso com certeza se reflete no novo mercado que estamos criando.
Mulheres no lado do consumo
Enquanto os homens dominam o lado do mercado, as mulheres são a parcela de consumidores que mais cresce quando o assunto é maconha.
De acordo com o Brightfield Group, as usuárias de cannabis representam 59% dos novos usuários nos Estados Unidos e tendem a ser consumidores mais jovens e mais pesados do que os homens. Olhando para as consumidoras em particular, descobriu-se que a parcela de mulheres usuárias de cannabis aumentou constantemente até 2020, atingindo 51% no primeiro trimestre de 2021.
O número varia de acordo com o estado, mas é a primeira vez que vemos as mulheres em maioria no consumo de maconha e derivados.
Enquanto a maioria das mulheres e homens consomem flores de cannabis, as usuárias superam os homens em outros tipos de produtos, incluindo comestíveis, cartuchos de vape e produtos tópicos. Uma liderança feminina seria o ideal para pensar nas necessidades dessas consumidoras — no entanto, o cenário que vemos é bem diferente.
Mercado da maconha protege homens — e ataca mulheres
Ao mesmo tempo em que protege e financia homens, a indústria da maconha cria ambientes hostis para as mulheres. Enquanto criamos iniciativas diversas de proteção e incentivo para abrir espaço umas às outras, ainda precisamos lidar com ataques, desde os mais sutis aos mais escarrados.
“compre maconha de homens brancos ricos” – estampa debochada das camisetas de um dos expositores da feira da MJ Biz
Julie Chiariello (@juliechiariello) • Fotos e vídeos do Instagram
Um exemplo que chamou nossa atenção nas últimas semanas foi justamente na feira da MJ Biz. As mulheres presentes se surpreenderam com as camisetas de uma das empresas expositoras, que, como um deboche, carregava a frase “compre maconha de homens brancos ricos”. Se você é homem, essa provocação pode passar despercebida ou até parecer bobagem, mas a verdade é que é um privilégio não ser atingido pelas medidas machistas da indústria.
Vamos ser honestos e honestas aqui: se não enxergarmos o problema em uma indústria 81% operada e dirigida por homens brancos, basicamente aceitamos a derrota de que o mercado da maconha é igual aos demais.
Poucos meses atrás, outra polêmica envolveu uma das maiores marcas de haxixe legal da Califórnia. Em uma postagem no Instagram, um homem usava uma mulher em posição sensual como mesa para dab, em uma objetificação aberta e escrachada. Depois da repercussão negativa, a postagem foi apagada, mas serviu para mandar o recado: para eles, a mulher não passa de uma ferramenta. E isso, para a gente que trabalha todos os dias pela planta e tudo que ela traz, é degradante.
Como lutar contra o machismo na indústria da maconha?
Ler mulheres, indicar mulheres, consumir produtos feitos por mulheres… tudo isso é importante quando o assunto é aumentar a atuação feminina no mercado canábico. Acreditamos que aumentar o espaço de atuação, disseminar informações e construir locais seguros é uma forma de empoderar e mudar o cenário que vemos por aí.
Aqui no Girls in Green, por exemplo, uma das maiores missões é incentivar a conexão feminina com a planta — seja através do nosso conteúdo ou da nossa própria estrutura. Todos os nossos processos, desde a criação e direção da empresa até o conteúdo, o design e a operação, são liderados por mulheres, pois acreditamos na nossa potência. Queremos ver cada dia mais cultivadoras, hash makers, criadoras e disseminadoras de conhecimentos, empreendedoras e líderes no nosso mercado.
Existem algumas esferas e ações essenciais no processo de empoderamento feminino dentro da indústria:
Pague mulheres. A disparidade salarial é um dos problemas que mais afeta as mulheres em qualquer indústria. Nós acreditamos que dividir nossas riquezas entre nós pode ser uma maneira incrível de financiar iniciativas femininas. Afinal, vivemos em uma sociedade capitalista, onde o dinheiro facilita muito o acesso a tudo.
Promova mulheres. Educação, mentoria e treinamento para mulheres é uma maneira de torná-las independentes e qualificadas para subir degraus e chegar ao topo da indústria.
Se una a outras mulheres. Rivalidade feminina é tão século passado… uma das melhores formas de empoderar mulheres nasce da união. Fomentar parcerias e comunidades nos fortalece.
Proteja mulheres. Usar sua voz para degradar outras mulheres é um desperdício de espaço e de poder. Que tal usá-la para divulgar potências femininas que você gosta e em quem acredita?
Esperamos que esse texto ajude você a entender um pouco mais os desafios das mulheres na indústria da maconha, e como podemos melhorar esse cenário. Sabemos da importância dos homens nesse processo, e entendemos que precisamos trabalhar em união para reverter a realidade atual. Ao mesmo tempo, nós, mulheres, precisamos nos proteger e enxergar umas às outras com mais empatia.
Que tal começar hoje? Dê uma olhada na nossa lista de empreendedoras e incentive os negócios femininos!
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Até a próxima!