A microdosagem tem ganhado cada vez mais adeptos — mas o que é, quais substâncias podem ser usadas e o que a ciência diz sobre isso? Aqui, vamos contar tudo isso a você!
Se você curte psicodélicos e gosta de pesquisar mais sobre eles, já deve ter se deparado com o termo “microdose”. O assunto é relativamente novo, e passou a repercutir mais e mais quando executivos bem sucedidos do Vale do Silício começaram a espalhar a palavra da microdosagem como forma de aumentar a energia e a criatividade. Mas será que isso funciona mesmo?
Para começar, precisamos pontuar que a microdosagem é o ato de integrar doses subperceptivas de psicodélicos, como LSD, psilocibina e até maconha, em sua rotina. Isso significa que as quantidades usadas, geralmente menos de 1/10 de uma dose padrão, são tão pequenas que você não vai sentir fortes efeitos psicodélicos ou alucinógenos. Mas, segundo relatos e pesquisas recentes, esse pouquinho já pode ser suficiente para provocar reflexos positivos no bem-estar e na saúde mental.
Aqui no blog, já falamos especificamente sobre a microdosagem de psilocibina. Hoje, vamos contar, em linhas gerais, o que é a microdosagem de psicodélicos, quais substâncias podem ser usadas, quais os benefícios dos regimes e o que a ciência diz de tudo isso. Esse texto aqui é bastante inspirado nos guias da Third Wave, que a gente sugere que vocês usem caso desejem se aprofundar mais em cada substância!
Vamos começar?
O que a ciência diz sobre as microdoses?
Embora existam muitas pesquisas sobre psicodélicos em andamento, já sabemos basicamente o que acontece com nossos cérebros quando tomamos uma substância do tipo. Seu funcionamento envolve a serotonina, neurotransmissor que afeta quase tudo o que fazemos, desde como nos sentimos até nossa digestão.
Psicodélicos como LSD e psilocibina compartilham uma estrutura semelhante à serotonina e imitam os seus efeitos. Legal, né?
Como a serotonina é tão importante para a estabilização do humor, os antidepressivos comuns aumentam os níveis de serotonina no cérebro. Os psicodélicos, por sua vez, funcionam mais diretamente imitando a serotonina. Um dos principais efeitos da psilocibina é estimular um receptor de serotonina chamado “5-HT2A” localizado no córtex pré-frontal, o que leva a dois resultados importantes:
- A produção do “Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro” (BDNF), uma proteína que estimula o crescimento, as conexões e a atividade cerebral.
- O aumento da transmissão de glutamato, neurotransmissor responsável, em partes, por funções cerebrais como cognição, aprendizado e memória.
Por conta disso, os psicodélicos estão sendo estudados como resposta para problemas relacionados à saúde mental e neurológica. Ainda temos poucas pesquisas científicas sobre microdosagem, mas aqui vão algumas:
Um estudo sistemático de microdosagem de 2019 descobriu que ela levou a uma melhora na saúde mental e na concentração a longo prazo. Esse mesmo estudo descobriu que as expectativas dos microdosadores não alteraram suas experiências, sugerindo que os benefícios da microdosagem não são apenas um efeito placebo!
Pesquisas recentes também indicam que baixas doses de LSD podem reduzir a percepção de desconforto, sugerindo o potencial de uma abordagem totalmente nova para o alívio da dor.
Ainda esse ano, o notável micologista Paul Stamets lançou um estudo importantíssimo mostrando que quem usa microdoses de psilocibina demonstra maiores melhorias no humor e na saúde mental em um mês em relação aos controles sem microdosagem.
Quais são os benefícios da microdosagem?
De acordo com um estudo do Harm Reduction Journal, os benefícios da microdosagem incluem:
- Melhora do humor, tranquilidade, bem-estar geral, calma, felicidade e redução dos sintomas de depressão;
- Foco aprimorado e maior capacidade de concentração;
- Criatividade e curiosidade aprimoradas;
- Automotivação, autoconfiança e senso de agência;
- Mais energia;
- Empatia, maior senso de conexão e mais extroversão;
- Benefícios cognitivos como maior clareza mental, melhor recuperação da memória e melhor capacidade de resolução de problemas;
- Ansiedade reduzida;
- Aprimoramento fisiológico, incluindo redução de enxaquecas e dores de cabeça e maior qualidade do sono.
Quais são as melhores substâncias para fazer microdose?
Se uma substância é psicoativa, você pode ter certeza de que alguém fez uma microdose com ela! As pessoas tentaram microdosar mescalina, N,N-dimetiltriptamina (DMT), ayahuasca, LSA, 2-CB, maconha, ibogaína, ketamina e praticamente tudo mais que você possa imaginar.
Mas as duas substâncias mais comumente usadas, bem pesquisadas e produzidas de forma mais ética e sustentável para microdosagem são a dietilamida do ácido lisérgico (LSD) e a psilocibina. Mas vamos falar um pouquinho mais sobre elas, e sobre a maconha também!
Microdoses de LSD
A microdosagem com LSD é um processo bastante simples. Essencialmente, você precisa preparar suas microdoses por diluição volumétrica, consumir a microdose no momento apropriado e seguir um protocolo de um mês para maximizar seus benefícios.
Um protocolo padrão seria microdosar dez microgramas a cada três dias, ou seja, com dois dias de folga no meio.
Uma parte essencial disso é o que James Fadiman, considerado um dos pais da microdosagem, chama de “observação”. Nela, você deve manter um diário de pensamentos, sentimentos e sensações corporais que surgem para você durante a microdosagem. Essa prática permite que você se torne mais consciente do seu progresso e construa um hábito de autorreflexão positivo.
Aqui, ensinamos os regimes de microdosagem que podem funcionar para diferentes psicodélicos.
Microdoses de psilocibina
Preparar cogumelos de psilocibina para microdosagem envolve mais etapas do que microdosagem com LSD, mas ainda é simples. A parte mais complicada é estimar a quantidade de psilocibina em um determinado cogumelo. Diferentes espécies e linhagens de cogumelos não apenas terão diferentes quantidades de psilocibina, e ela também é diferente em fungos frescos ou secos. Mesmo partes diferentes do cogumelo podem conter quantidades ligeiramente diferentes!
Para o Psilocybe cubensis, o cogumelo mágico mais clássico, uma microdose típica é de 0,1 a 0,3 gramas. Trufas de psilocibina são geralmente mais leves, então você pode precisar de uma dose um pouco maior. Muitos cogumelos psilocibina amantes da madeira, como Psilocybe cyanescens, são mais fortes, então você precisaria tomar menos.
Uma vez que suas doses forem moídas em pó e encapsuladas, você pode seguir um protocolo semelhante ao que descrevemos para o LSD.
Inclusive, para facilitar esse processo, já até ensinamos aqui como plantar seus próprios cogumelos mágicos!
Microdoses de maconha
A microdosagem de maconha é relativamente fácil uma vez que você encontre sua dose ideal. Embora seja possível fazer microdoses de cannabis fumando ou vaporizando, descobrimos que o método mais simples e confiável é usar comestíveis.
O Marijuana Policy Project considera que 10 mg de THC seja a dose padrão por porção, então qualquer coisa abaixo disso pode ser considerada baixa dose!
Os produtos que se chamam de baixa dose tendem a estar na faixa de 1mg a 5mg de THC. Uma recomendação da Third Wave é testar 2,5 mg como um ponto de partida para a microdosagem, mas sempre experimentar para entender o que é melhor para você.
Como regra geral, é melhor ir devagar e com calma. Depois de tomar uma microdose, espere pelo menos duas horas para ver os efeitos completos antes de tomar mais. Essa precaução é crucial com os comestíveis, pois eles podem levar um tempo relativamente longo para fazer efeito — como já contamos aqui.
Também não é incomum ouvir falar de pessoas que fazem microdosagem de CBD em conjunto com microdosagem de psilocibina.
Como garantir que minha microdosagem é segura?
Os principais fatores em torno da microdosagem segura são substância, dosagem e efeitos. Vamos falar um pouquinho sobre eles?
Substância: a ilegalidade torna mais difícil conseguir um psicodélico 100% seguro, caso ele não seja plantado ou fabricado por você. Se for usar LSD, por exemplo, verifique se sua substância é pura usando kits de teste para garantir que você não está usando um 25I-NBOMe ou 2,5-dimetoxi-4-iodoanfetamina (DOI). Se você estiver usando psilocibina, certifique-se de que seus cogumelos são as espécies corretas, aprendendo a identificá-los ou apenas adquirindo-os de alguém confiável.
Dosagem: meça cuidadosamente sua microdose usando balanças precisas para cogumelos ou diluindo seu LSD para que seja prático tomar uma pequena quantidade. Esteja ciente de que a força de qualquer psicodélico, natural ou não, pode variar. Alguns cogumelos são mais fortes que outros, e um blotter pode conter mais LSD que outro.
Efeitos: embora a microdosagem deva ser baixa o suficiente para evitar interferir em sua vida cotidiana, esteja ciente de como você está se sentindo nos dias em que você dosou. Não conduza ou opere máquinas pesadas nos dias de microdosagem! Preste atenção a quaisquer mudanças adversas no humor ou outros efeitos colaterais indesejados. Estes são sinais de que você pode precisar pausar ou ajustar seu protocolo.
Esperamos que esse conteúdo tenha ajudado você a tirar algumas dúvidas sobre microdosagem! E, se você gosta da temática, recomendamos pesquisar bastante os trabalhos de James Fadiman e Paul Stamets — ambos têm sido dois dos principais defensores da microdosagem na atualidade, e desenvolvido estudos e livros com seus relatos e descobertas.
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Até a próxima!
Tenho depressão há muitos anos, e nas minhas experiências com psilocibina percebia um revigoramento mental, as coisas pareciam fazer mais sentido após três horas de brainstorm, a vida parecia mais bonita e me sentia mais capaz de realizar qualquer coisa que fosse, acredito que regule a dopamina, e também há um tipo de revigoramento a nível celular, seus sentidos e corpo passa a perceber muito mais facilmente qualquer coisa. Dizem que também era utilizado pelos povos primitivos para a caça, afinal a visão e audição ficam extremamente aguçadas. Acredito mesmo que aprimore o desempenho e performance, física e mental, passei por lutos e violência, os ensinamentos que o cogumelo me fez nenhum outro ser humano me foi capaz de fazê-lo. Nunca utilizei micro doses. As experiências que tive foram bem espaçadas no tempo, entre 6 meses e um, ao menos, mas tiveram um efeito muito revigorante. É como Sidarta Ribeiro fala, é a medicina do futuro, os enteógenos estão no mesmo nível da descoberta dos antibióticos para a medicina, bem como para os estudos da mente. enfim, é um processo de conhecimento, que não pode ser estereotipado nem marginalizado, pois estamos falando de botânica e de diferentes conhecimentos biotecnológicos. A forma mais primordial de conhecimento sobre a própria realidade.