Jornalista e pesquisador sobre psicodélicos, Michael Pollan é uma grande inspiração para nós. Entenda do que se trata Como Mudar Sua Mente, sua nova série na Netflix.
Nos nossos estudos, a gente se depara com muitos nomes incríveis e inspiradores. Com Frenchy Cannoli, aprendemos sobre haxixe. Com Paul Stamets, sabemos mais sobre os mistérios e a magia dos cogumelos. E, com Michael Pollan, conseguimos compreender o poder das plantas e, principalmente, dos psicodélicos. Por isso, quando sua nova série documental “Como Mudar Sua Mente” saiu na Netflix, tivemos que ir correndo assistir!
Baseada no best-seller de mesmo nome, “Como Mudar Sua Mente” traz mais do que uma investigação instigante sobre quatro das principais substâncias psicodélicas conhecidas atualmente. Em quatro episódios, Pollan conversa com alguns dos maiores nomes da ciência psicodélica mundial — como Albert Hofmann e James Fadiman, além de voluntários de estudos e psiconautas experientes para dar uma visão completa.
Ainda não assistiu a série e está pensando se vale a pena? Aqui, vamos falar um pouco mais sobre esse jornalista científico pioneiro no campo dos psicodélicos e alguns dos motivos pelos quais acreditamos que você precisa assistir esse rolê!
Vamos lá?
Primeiro: quem é Michael Pollan?
Michael Pollan é professor, autor e jornalista best-seller (“O Dilema do Onívoro”, “Como Mudar Sua Mente”, dentre outras obras). Seu principal foco durante o início da carreira foi a cura proporcionada pelas plantas — que começou através de um interesse pela alimentação e evoluiu até os psicodélicos.
De acordo com o New York Times, no final de 2012, Pollan estava em um jantar em Berkeley, Califórnia, quando ouviu uma psiquiatra falar sobre sua recente viagem de LSD. Para ela, foi um momento importante, que ajudou na compreensão do modo como as crianças pensam e entendem o mundo que nos rodeia. Isso deixou ele com a pulga atrás da orelha.
O jornalista, que até já tinha ouvido falar das pesquisas com psilocibina e seus poderes em pacientes com câncer no combate ao medo da morte, ficou intrigado e decidiu mergulhar na temática da terapia psicodélica. E sorte nossa: essa curiosidade rendeu o artigo “The Trip Treatment”, ou “Tratamento da Viagem”, e mais tarde um livro intitulado Como Mudar Sua Mente.
Agora, o livro virou uma série de quatro episódios da Netflix. Nele, Pollan é produtor executivo (junto com o cineasta vencedor do Oscar Alex Gibney) e a principal presença na câmera — mas a série é muito mais do que um cara gringo falando sobre psicodélicos. E vamos contar para vocês os porquês!
LSD, psilocibina, MDMA e mescalina
A série aborda, em cada capítulo, um psicodélico diferente:
- Primeiro, o LSD;
- Depois, a psilocibina;
- Em terceiro, o MDMA;
- E, por último, a mescalina.
Neles, entendemos todo o contexto das substâncias — desde os primeiros usos, seus principais entusiastas e responsáveis pela sua criação, até sua proibição (afinal, todas elas foram proibidas pela Guerra às Drogas).
Mas, mais do que isso, entendemos toda a cultura que cerca esses psicodélicos. Com o LSD, vemos o boom do movimento hippie e do Verão do Amor. Quando o assunto é psilocibina, entendemos como a ambição dos homens brancos arruinou uma vila inteira, e a vida da incrível curandeira mexicana Maria Sabina. No episódio do MDMA, compreendemos como o ecstasy moldou a cultura das discotecas nos anos 80.
O último capítulo, sobre a mescalina, traz reflexões muito importantes sobre a ética do uso de psicodélicos que fazem parte de culturas tradicionais. O peiote, uma das espécies de cacto de onde a substância pode ser extraída, é sagrado para muitas culturas nativas norte-americanas. O debate, que envolveu indígenas que mantêm essa tradição viva, pode se estender à situação brasileira com a ayahuasca, por exemplo.
É fundamental abordarmos esses assuntos com respeito à ancestralidade que certas plantas de poder representam.
Série reúne os principais nomes da psicodelia
Se você já estudou um pouquinho sobre os psicodélicos, pode ser fã de carteirinha de várias pessoas que aparecem na série — seja em entrevistas ou em vídeos de arquivo, no caso de quem já não está mais entre nós. Aqui, resolvemos destacar alguns dos que a gente mais ama (mas, claro, no nosso coração tem espaço pro elenco todo):
Ann e Sasha Shulgin, nossa definição de “casalzão da p@rra”. Se você já colocou o dedo babado no saquinho de MD, agradeça a eles. De acordo com Ann, “a mágica do MDMA é que ele permite que você veja a si mesmo sem auto-rejeição”. Sasha e ela descobriram juntos mais de 200 substâncias psicoativas, que descrevem nos livros livros PiHKAL (Phenethylamines I Have Known And Loved: A Chemical Love Story) e TiHKAL (Triptamines I Have Known And Loved: A Chemical Love Story).
Timothy Leary, um dos ícones da pesquisa com LSD. O psicólogo e neurocientista foi demitido de Harvard por seus estudos com psicodélicos, mas se tornou referência no mundo todo e escreveu alguns dos livros de cabeceira de quem se interessa pela terapia psicodélica. Inclusive, ele propôs os conceitos de set e setting!
Albert Hofmann, o pai do ácido lisérgico, sintetizou e foi o primeiro a testar a substância e se encantar com seus efeitos. Isso aconteceu no dia 19 de abril de 1943 — que comemoramos todos os anos como o Dia da Bicicleta, em homenagem ao passeio pouquíssimo convencional que foi sua volta para casa no dia da testagem. Segundo ele, era como se seus pensamentos tivessem virado fotografias.
Outras figuras notáveis são Rick Doblin, Paul Stamets, Aldous Huxley, Humphry Osmond, James Fadiman, Peter Gasser, Roland Griffiths, Robin Carhart-Harris, Leo Zeff, Paul Daley, e tantos outros.
Relatos de pacientes são únicos e emocionantes
Muito além de especialistas, a série nos aproxima da experiência de pacientes, que fizeram sessões de terapia com psicodélicos assistidas por profissionais. Aliás, já falamos aqui, mas é sempre bom lembrar: a terapia assistida com psicodélicos segue todo um protocolo especial, que a diferencia das experiências que temos por conta própria.
Um dos relatos mais emocionantes (que, infelizmente, pode ser gatilho para quem tem algum transtorno), é o da paciente Lori Tipton, uma mulher de Nova Orleans que enfrentou trauma atrás de trauma. A gente não vai descrever aqui, pois está tudo lá no documentário e não queremos causar desconfortos em ninguém. Mas, para ela, as sessões de terapia assistida com MDMA permitiram a redescoberta da alegria de viver.
Outro paciente, com Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), conta como as sessões com psilocibina fizeram com que, hoje, ele já seja considerado uma pessoa “curada”.
Um terceiro, veterano da Guerra do Iraque, teve ajuda do MDMA para lutar contra o Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT) desenvolvido pela situação. Ele ainda relata: “cresci nos anos 80 e 90, com propagandas proibicionistas, nas quais existiam drogas boas e ruins. As drogas boas estão provocando uma epidemia de overdoses, enquanto as drogas ruins estão curando TEPT. Acredito que precisamos de uma mudança nesse paradigma”.
How to Change Your Mind | Official Trailer | Netflix
Uma visão ampla e científica do assunto
Se você ainda tem algum preconceito contra os psicodélicos, como infelizmente muita gente lá no nosso Instagram, a gente recomenda totalmente essa série. Isso porque ela mostra, acima de tudo, como o proibicionismo e a anti-ciência fizeram com elas o mesmo que fizeram com a maconha.
“Mas meninas, o uso de drogas é arriscado!”
Sim: toda droga oferece riscos e benefícios, assim como o paracetamol que tomamos para dor de cabeça, ou o café que nos mantêm acordadas em um dia complicado. Mas, com a ajuda da ciência, da pesquisa e da popularização da informação, conseguimos encontrar respostas que oferecem mais segurança — o oposto do que faz o proibicionismo.
E aí, fazendo a pipoquinha pra assistir essas aulas incríveis do professor Michael Pollan e seus convidados? A gente recomenda demais, e recomenda também que você espalhe a palavra por aí. Em uma era onde 1 em cada 8 pessoas sofre com pelo menos um transtorno mental, precisamos de uma revolução que trate a causa, e não o sintoma.
Não esquece de seguir a gente lá no Instagram @girlsingreen710, e deixa aqui seu comentário se você assistiu e curtiu.
Até a próxima!
Concordo.A proibição nós coloca como infratores e tantos benefícios ficam a margem de descriminação e falta de patrocínio nesta área magnífica.
Artigos como esse são muito necessários e indispensáveis.
Muito obrigado pela lição!!
Texto perfeito. Eu oriento que editem o início da descrição de Ann e Sasha Shulgin para que este texto chegue a todas as mentes.
Digo com amor, Karina.