Acompanhamos e participamos ativamente de toda a Marcha da Maconha de São Paulo 2018, entenda mais sobre esse evento contra o proibicionismo e a guerra à cannabis que vivemos no Brasil.
O que é a Marcha da Maconha?
A primeira Marcha da Maconha do mundo aconteceu em 1998 em Nova Iorque, Estados Unidos. Trata-se de um movimento que ocorre em quase cem países, chamado internacionalmente de “Million Marijuana March”. A marcha da maconha é um dia de luta e manifestações em favor de uma mudança nas políticas de drogas proibicionistas. A Marcha da Maconha tem o foco de pedir a legalização da maconha, não só recreacional, mas também medicinal e industrial, uma vez que é possível produzir fibras, papel e outros diferentes artefatos com a cannabis.
A Marcha da Maconha também é um espaço, não físico, mas intelectual para discutir e debater pesquisas relacionadas a cannabis e também políticas públicas e leis. Além da marcha em si, que ocorre mundialmente durante o mês de maio, o evento engloba reuniões, encontros, mesas de debates e festivais.
É também um espaço democrático composto por coletivos. É aberta para todo indivíduo que quer participar. As reuniões são feitas em coletivo e não há uma figura hierárquica como uma coordenação.
Quando começou Marcha da Maconha no Brasil
No Brasil, a primeira Marcha da Maconha aconteceu em 2002 no Rio de Janeiro, mas o movimento só passou a ser organizado em 2007,quando um grupo de membros do Growroom se articulou para dar força à Marcha da Maconha
Em 2008 houve uma tentativa de fazer a Marcha em doze capitais do país, mas a repressão foi muito grande e alguma decisões judiciais proibiram a maioria das marchas sob o argumento que a Marcha fazia apologia às drogas e as reuniões eram “formação de quadrilha”.No ano de 2008 a Marcha só ocorreu em Recife e foi marcada por repressão e prisões.
A luta pelo direito de realizar a Marcha da Maconha
A repressão continuou pelo Brasil, mas o movimento não deixou de existir. André Barros, advogado da Marcha da Maconha do Rio de Janeiro, membro da comissão de direitos humanos da OAB – RJ e mestre em ciências criminais pela UCAM, protocolou em 2009 junto com outros membros, uma representação, com todas as ações e decisões judiciais que proibiram os eventos, na Procuradoria-Geral da República, que propôs assim uma Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental – ADPF 187 e outra Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADI 4274. Ambas ações ficaram paradas no Supremo Tribunal Federal até 2011.
Entre 2009 e 2010, a Marcha da Maconha ocorreu pacificamente no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Belo Horizonte. Em 2011 a justiça volta a proibir a Marcha nessas cidades, até que em 15 de junho de 2011, o Supremo Tribunal Federal decidiu, por unanimidade a legitimidade da manifestação por meio da Arguição de descumprimento de preceito fundamental, entendendo que a Marcha não faz apologia ao crime e que sua proibição é uma ameaça à liberdade de expressão, garantida pela constituição.
Para os ministros, os direitos constitucionais de reunião e de livre expressão do pensamento garantem a realização dessas marchas. Muitos ressaltaram que a liberdade de expressão e de manifestação somente pode ser proibida quando for dirigida a incitar ou provocar ações ilegais e iminentes. Em 2020 o Senado está discutindo sobre a regulamentação da maconha medicinal e esperamos um resultado positivo assim como a decisão do STF.
Toda a resistência de André Barros e da Marcha da Maconha do Rio de Janeiro foram fundamentais para que a maconha fosse debatida livremente no Brasil , pois, antes, qualquer evento sobre o assunto, criminalizado como apologia, era fortemente reprimido. Em 2012, a marcha ocorreu sem incidentes em São Paulo, com público estimado pela Polícia Militar em 2 mil pessoas.
Girls in Green na marcha da maconha
No dia 26 de maio de 2018 tivemos a maior Marcha da Maconha do Brasil, mesmo assim, não ouvimos nada sobre esse grande evento na grande mídia. Mais de 100 mil pessoas reunidas na Paulista na luta pela regulamentação de uma planta que tem um potencial medicinal incrível, porém com pouco estudo devido ao proibicionismo reunidos na luta por uma política de drogas mais justa, contra o genocídio negro e encarceramento em massa, a estigmatização dos usuários de drogas e a garantia de direitos. Em vários momentos a marcha emocionou.
Foi linda, pacífica, incluiu a galera da periferia (eterna admiração por quem colou de longe mesmo com as greves), teve o bloco medicinal, o bloco da redução de danos fazendo o cuidado dos participantes, disseminando informações e distribuindo água…
Nesses dias tão obscuros nasce uma esperança com todo mundo reunido lutando por uma causa em comum.
Por que é importante estar na rua?
A Marcha está lutando por uma política de drogas mais justa, não só pelo direito de fumar maconha. A proibição impacta a vida de diversas pessoas em diferentes esferas. As comunidades brasileiras sofrem diretamente com a violência da guerra às drogas, tanto com o tráfico, mas principalmente com a polícia, que promove uma guerra literal.
A ciência também perde muito com a proibição, pois dificulta as pesquisas sobre as propriedades medicinais da cannabis e a possibilidade de curar ou aliviar a dor de pacientes com câncer, epilepsia, esclerose múltipla, entre outros.
A Marcha da Maconha representa a resistência e a luta por direitos básicos, por uma política de droga mais justa. É uma luta pela liberdade e pela saúde.
FONTES
Periódicos digitais
https://midianinja.org/author/andrebarros/
Plataformas oficiais
https://stf.jusbrasil.com.br/noticias/2737214/stf-libera-marcha-da-maconha
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