GIRLS IN GREEN

Pensou em cannabis e já imaginou alguém grudado no sofá? Nem sempre é o caso – mas a relação entre maconha, produtividade e criatividade pode ser bem controversa até para a ciência. Vem entender!

Existem vários mitos sobre a maconha que ouvimos por aí: que a erva mata neurônios, nos deixa burros e preguiçosos, ou que todo maconhista se torna vagabundo. A gente já sabe que isso não é verdade – atualmente, os usuários e usuárias têm sido mais abertos sobre a planta e vemos muita gente inteligente e bem sucedida que, assim como a gente, adora dar um famoso tapa na “pantera”. Mas o quanto será que esse hábito pode afetar nossa produtividade, nosso foco e nossa habilidade de criar?

Vários defensores da cannabis contam que a maconha os deixou mais produtivos. O famoso astrofísico Carl Sagan admitiu ter escrito “onze ensaios curtos sobre uma ampla gama de tópicos sociais, políticos, filosóficos e biológicos humanos” enquanto estava chapado. O diretor Kevin Smith disse que pode ser muito produtivo doidão, enquanto cita o ator e escritor Seth Rogen (coff coff, quem diria?), que admitiu que a erva ajuda seu processo criativo, como sua inspiração. Até Lady Gaga disse uma vez que fuma a erva quando está escrevendo músicas!

As histórias são muitas, mas a ciência tem lá suas dúvidas. Vamos abrir essa temática e analisar esse assunto? Vem aqui com a gente!

Criatividade e maconha

Pesquisas nos contam que a criatividade está associada ao lobo frontal do cérebro. A maconha aumenta o fluxo sanguíneo cerebral (FSC) por lá, estimulando suas atividades. Segundo os pesquisadores, quando indivíduos com alta e baixa criatividade são comparados, os primeiros apresentam atividade basal mais alta do lobo frontal e maior aumento frontal durante a execução de tarefas criativas.

Tudo isso se relaciona à criatividade de duas principais maneiras: primeiro, é ativada a área próxima ao núcleo accumbens do cérebro, que se correlaciona com o aumento da criatividade. Depois, o lobo frontal serve como a sede para algo chamado “pensamento criativo divergente”.

  • O pensamento divergente é uma medida científica comum de níveis de criatividade. É um tipo de pensamento que explora muitas soluções possíveis e normalmente ocorre de maneira espontânea, fluida e não linear. Em outras palavras, o pensamento divergente emprega métodos como brainstorming, pensamento criativo e escrita livre para apresentar ideias inovadoras. Chique, né?

Mas a fórmula maconha + cérebro = criatividade não é tão simples assim. Pesquisadores na Holanda administraram cannabis vaporizada em diferentes quantidades para 53 participantes – que eram consumidores regulares da erva. Um grupo recebeu uma dose baixa de THC (5mg), outro recebeu uma dose mais alta (22mg) e o último grupo recebeu um placebo. O desempenho cognitivo dos participantes foi medido através de dois exames: um que mediu o pensamento criativo divergente, enquanto o outro mediu o pensamento convergente, que é a capacidade de chegar a uma única solução para um problema bem definido.

Os resultados indicam que a administração de cannabis com alto teor de THC para usuários regulares prejudica o pensamento divergente, enquanto a cannabis menos potente não parece aumentar este importante componente da criatividade.

Os pesquisadores ainda afirmam que a evidência disponível permite apenas uma especulação sobre a presença desses efeitos em um grupo de indivíduos que não usam drogas, ou até usuários ocasionais de cannabis. “Em qualquer caso, pode-se entender que a experiência fenomenológica de uma pessoa intoxicada com cannabis pode não refletir necessariamente seu desempenho real. Em particular, o sentimento frequentemente relatado de criatividade intensificada pode ser uma ilusão. Em outras palavras, fumar um baseado pode não ser a melhor escolha quando precisa quebrar o “bloqueio do escritor” ou superar outras inibições artísticas, e fumar vários deles pode realmente ser contraproducente”.

O que podemos entender é que: muito THC, menos criatividade. Menos THC, mais criatividade!

Outro estudo de 2017 ainda descobriu que os usuários de cannabis relataram que eram mais criativos e também pontuaram mais alto quando sua criatividade foi testada. Mas esse efeito pode ser mais uma parte de suas personalidades do que um possível efeito: “embora os usuários de cannabis pareçam demonstrar uma criatividade aprimorada, esses efeitos são um artefato de seus elevados níveis de abertura à experiências”.

Esses resultados apresentam um dilema do tipo “ovo ou galinha”: o uso de cannabis melhora a criatividade ou as pessoas criativas apenas tendem a gostar de fumar um?

Alice fumando um beck com fundo colorido
Relação da cannabis com a criatividade

E a produtividade, onde fica?

Bom, ser criativo e ser produtivo podem ser estados relacionados, mas não significam a mesma coisa. O segundo tem mais a ver com a energia, a disposição e a habilidade de executar bem tarefas – sejam elas práticas ou criativas.

Mas temos algumas notícias interessantes para quem curte um baseado ocasional: o consumo de cannabis no tempo livre não está associado a quaisquer efeitos adversos persistentes no desempenho no local de trabalho, de acordo com dados publicados na revista Group & Organization Management.

Uma dupla de pesquisadores da San Diego State University e da Auburn University no Alabama compilou dados de 281 funcionários e seus supervisores diretos com relação ao uso de maconha e desempenho no trabalho. Os autores relataram que o uso de cannabis de um funcionário imediatamente antes ou durante o horário de trabalho foi associado a “comportamentos de trabalho contraproducentes”, enquanto “o uso de cannabis após o trabalho não foi relacionado (positiva ou negativamente) a qualquer forma de desempenho, conforme avaliado pelo supervisor direto do usuário.”

Os autores concluíram que, “ao contrário das suposições comumente aceitas, nem todas as formas de uso de cannabis prejudicaram o desempenho. Na verdade, o uso de cannabis após o trabalho não se relacionou com nenhuma das dimensões de desempenho no local de trabalho. Esta descoberta lança dúvidas sobre alguns estereótipos de usuários de cannabis e sugere a necessidade de mais desenvolvimento metodológico e teórico no campo do uso de substâncias.”

Existe também outra pesquisa analisando o comportamento de usuários de cannabis terapêutica e/ou medicinal. Nesse estudo, é mostrado que, após três meses de tratamento, os usuários não experimentaram déficits no funcionamento executivo, que são frequentemente observados em usuários regulares de maconha.

De fato, os pacientes medicinais evidenciaram melhora em certos aspectos do desempenho nessas medidas, principalmente no que diz respeito ao tempo necessário para completar as tarefas. Além disso, os pacientes relataram algumas melhorias nas medidas do estado clínico e saúde geral, bem como uma diminuição nos produtos farmacêuticos convencionais, principalmente o uso de opiáceos, que foi reduzido em 42% entre a avaliação inicial e a segunda visita!

Entretanto, o presidente da Associação de Especialistas em Cannabis, Dr. Jordan Tishler, acredita que esse fenômeno possa ser isolado aos pacientes medicinais. De acordo com ele, existem evidências muito boas de que a intoxicação por cannabis prejudica a memória e a velocidade de processamento cognitivo – com algumas exceções a essas generalizações.

“Pessoas com ansiedade severa provavelmente veriam um benefício, mas a melhor prática no tratamento da ansiedade usa cannabis à noite antes de dormir, e não durante o dia. Pessoas com TDAH relatam aumento do foco e concentração com o uso diurno de cannabis, mas isso é pelo seu relatório e não está provado de forma alguma”.

Foto de Alex Grey finalizando uma pintura de folha de maconha em fundo colorido
Alex Grey

Sativas para produtividade e indicas para a soneca?

Temos aquele clichê básico quando falamos sobre as variedades da planta: de acordo com a sabedoria popular maconhista, as indicas altamente potentes podem prender uma pessoa por horas no sofá, enquanto as variedades de sativa tendem a provocar o oposto, aumentando o foco, promovendo a produtividade e aumentando a energia.

As cepas dominantes de sativa são geralmente marcadas como cepas “ativas”, mas nem sempre é o caso. Os híbridos podem permitir que você trabalhe enquanto aproveita os atributos físicos agradáveis da genética da indica e da sativa. Existem também muitas cepas dominantes de indica úteis com efeitos suplementares que substituem a estimulação revigorante por um relaxante efeito calmante e centralizador.

Mas o mais indicado sempre é conhecer o perfil de canabinoides e terpenos da sua planta, e conhecer o que funciona melhor para você. O que falta na sua vida e no seu humor para ser mais produtivo? Elevar o astral, acalmar a ansiedade, iluminar a criatividade… Não existe uma única fórmula para tornar alguém mais produtivo. A cannabis pode simplesmente “melhorar” sua abordagem, sentimento e perspectiva em relação às atividades necessárias para ser assim.

Alice em uma plantação legal de maconha na Califórnia
Plantação legal de maconha na Califórnia

Como o sistema endocanabinoide de cada pessoa é diferente, encontrar sua cepa exigirá um pouco de experimentação e reflexão. Se você tem tendência à ansiedade, um bom CBD ou cepa indica pode ajudar a acalmar seus nervos para um melhor foco; se o café é seu estimulante de escolha, tente moderar seus efeitos com um híbrido 50/50.

Note e anote! (Ou salve no celular)

infográfico descritivo de strains para criatividade
strains que estimulam criatividade
infográfico descritivo de strains para produtividade
strains para produtividade

E aí, gostou dessas informações?
Tem alguma dica ou alguma cepa que você gosta para ficar naquele gás?
Conta aqui pra gente nos comentários ou fala lá pra nós no nosso Instagram [email protected] onde a gente ensina vários truques de Redução de Danos no consumo da nossa amada plantinha e de outras substâncias.

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