Afinal, a plantinha ajuda ou atrapalha os atletas? E, se ajuda, poderia ser proibida em competições por conta disso? Fique por dentro dessa polêmica e entenda qual o papel da maconha nos esportes.
Não é de hoje que os atletas estão usando e defendendo a maconha — nomes como Bob Burnquist, Daniel Chaves, Megan Rapinoe e muitos outros estão dentre os esportistas que defendem o uso adulto e/ou terapêutico de canabinoides. Entretanto, algumas competições importantes, como as Olimpíadas, ainda classificam a substância como “doping” e impedem os usuários de competir. Esse foi o caso da corredora Sha’Carri Richardson, no ano passado.
Mas a pergunta que não quer calar é: a maconha pode melhorar o desempenho nos esportes? Se sim, ela deve ser proibida para atletas profissionais?
Enquanto algumas agências reguladoras, como a Agência Mundial Antidoping (WADA), já permitem o uso do canabidiol, regras estritas ainda atingem atletas que utilizam o THC — princípio canábico mais conhecido pelos seus poderes psicoativos. O assunto é controverso, mas precisamos olhar para a ciência e entender o que a planta pode fazer pelos esportistas, sejam amadores ou profissionais.
Vem com a gente entender a maconha no mundo dos esportes!
Como a maconha pode beneficiar atletas?
A ideia de que a maconha vai fazer você colar no sofá e virar uma versão humana de um bicho-preguiça pode até fazer sentido nos filmes — mas, na vida real, não é bem assim. Existem muitos maconhistas que levam uma vida bastante ativa, e que usam a plantinha para melhorar a sua rotina de atividade física.
Mas quais os motivos que levam a essa decisão? De acordo com usuários, especialistas e cientistas, são muitos:
- Atletas profissionais usam a maconha como uma forma de reduzir a ansiedade e o estresse antes e/ou depois de partidas esportivas, principalmente se precisam performar diante de um grande público.
- Evidências científicas apontam que as atividades anti-inflamatórias promovidas pela cannabis podem ajudar na recuperação muscular dos atletas, reduzindo dores agudas ou crônicas, causadas pela prática esportiva ou mesmo por lesões mais sérias. Essa ajuda é o que mantém muitos deles longe de opioides e opiáceos, substâncias que podem causar danos muito mais severos e até levar à overdose, quando usadas incorretamente.
- Essas geralmente são as propriedades mais procuradas por quem pratica esportes, mas não são as únicas mudanças observadas por quem utiliza maconha antes de fazer exercícios. Atletas como Shaun Smith, do Dallas Cowboys, contam que percebem um aumento do foco e um melhor aproveitamento das partidas ao contar com a cannabis.
Mas seu papel, segundo pesquisas recentes, não para por aí.
Motivação para começar
Para quem não é atleta profissional e tem dificuldade em se exercitar regularmente, a maconha pode ser uma ferramenta perfeita para motivar as atividades físicas. Olha só que interessante:
- Estudos norte-americanos descobriram que, em comparação com não usuários, os usuários de cannabis têm uma prevalência menor de obesidade. Isso levou alguns pesquisadores a entrar mais à fundo na questão e descobrir a relação entre maconha e atividade física.
- Então, uma equipe liderada pela professora Angela Bryan entrevistou mais de 600 usuários de cannabis sobre suas rotinas de exercício. Quatro em cada cinco deles disseram que usam maconha antes ou depois da atividade física. Esses usuários praticam esportes com maior regularidade do que os que não utilizam a plantinha antes de se exercitar.
Nessa última pesquisa, cerca de 70% dos entrevistados que usaram cannabis antes de se exercitar disseram que isso tornava a atividade física mais agradável. E isso tem explicações químicas!
Por exemplo: a liberação de endorfina durante a prática de exercícios é o que muitos cientistas ligam às sensações agradáveis que temos pós-atividade. Acreditava-se que elas ativavam os receptores opioides, e por isso tinham esse efeito. Entretanto, novas pesquisas mostraram que mesmo pessoas que tomam drogas bloqueadoras de opioides antes do exercício ainda podem alcançar estados de felicidade durante um treino.
A outra explicação é que essa euforia induzida pelo exercício se origina no nosso queridíssimo sistema endocanabinoide. Um estudo de 2003 encontrou níveis elevados de anandamida (conhecida como a molécula da felicidade) no sangue de voluntários depois de correrem ou pedalarem em um laboratório. Como a cannabis tem como alvo esses mesmos receptores endocanabinoides, é especulado que ela possa aumentar essa sensação gostosa que faz com que você queira praticar exercícios com mais frequência.
E quais os pontos negativos?
Bom, o problema é que existem muitas controvérsias para abordarmos neste quesito. Por exemplo: reguladores que são contra a cannabis podem afirmar que seus efeitos, ao melhorarem a performance dos atletas, podem categorizar a substância como doping. Ao mesmo tempo, outros afirmam que essas pesquisas são preliminares e que, na verdade, a cannabis deve ser banida dos esportes profissionais por seus malefícios.
“Mas que malefícios, hein?”
Como vemos por aqui, mesmo que a maconha não melhore o desempenho, a Agência Mundial Antidoping pode justificar a proibição alegando que a substância representa um perigo para a saúde e segurança dos atletas, e que “viola o espírito do esporte” — uma longa lista de valores como honestidade, dedicação e respeito às regras e leis. Como o uso da planta ainda é ilegal na maioria dos países que participam de eventos esportivos internacionais, como as Olimpíadas, o ato poderia ser visto como uma violação.
Especialistas ainda frisam que os “danos potenciais” do uso de maconha podem se apresentar de diversas maneiras, como:
- maior risco de acidentes pelo comprometimento das funções motoras;
- psicose em indivíduos predispostos ao transtorno;
- desenvolvimento do “vício” em cannabis (que, segundo estudos, pode ocorrer em cerca de 9% dos usuários, principalmente os que iniciam seu uso durante a adolescência).
Outros especialistas, como Bryan, entendem que, embora esses riscos possam ser reais, o banimento da maconha é uma questão de estigma — já que o álcool pode ter efeitos negativos ainda mais sérios e não se encontra na lista proibida da WADA. Sua defesa é de que a substância deva ser regulamentada dentro das agências esportivas, mas não completamente proibida. Além disso, com tantos lugares do mundo legalizando o uso adulto da plantinha, essas regras devem ser revisitadas.
Repensando regulamentações
Para falarmos a verdade, o processo de repensar as regras do uso de cannabis no esporte já começou! Entretanto, cada órgão esportivo tem suas próprias políticas em relação ao consumo da planta.
A World Wrestling Federation, por exemplo, conta com uma multa de US$2.500 para quem for pego usando maconha.
Já a WADA, que define as regras para mais de 650 esportes mundialmente, ainda lista a cannabis como substância proibida para atletas em competição. Entretanto, em maio de 2013, a agência aumentou dez vezes o limite de cannabis no sistema de um atleta, de 15 nanogramas para 150 nanogramas. Em 2018, eles também removeram o CBD de sua lista de substâncias proibidas – dentro ou fora de competições.
A NFL também elevou recentemente o limite aceitável de THC no sistema de um jogador de 35 nanogramas para 150 e não suspenderá mais os jogadores por um teste positivo de cannabis. No ano passado, eles ainda anunciaram uma comissão que subsidia pesquisadores que desejam analisar o potencial terapêutico da maconha, CBD e outras alternativas aos opioides para o tratamento da dor.
Em 2019, a Major League Baseball removeu a cannabis de sua lista de substâncias proibidas após pressão do sindicato de seus jogadores. Mas a liga ainda proíbe os jogadores de ficarem chapados durante um jogo ou serem patrocinados por uma empresa de maconha!
Em 2020, a NBA suspendeu os testes aleatórios de jogadores para a cannabis.
Ou seja: para atletas profissionais, o uso de cannabis ainda pode acarretar alguns riscos, principalmente relacionados à regulamentação. Mas nada impede você de fumar aquele baseado gostoso antes da yoga, da caminhada ou do seu exercício de escolha — principalmente se você segue as estratégias de Redução de Danos para se cuidar direitinho enquanto chapa!
E você, tem algum ritual envolvendo nossa plantinha favorita na hora de se exercitar? Conta aqui pra gente nos comentários e não esquece de seguir a gente lá no Instagram @girlsingreen710.
Até a próxima!