Apostamos que todo o canabista já ouviu falar da terminologia Indica e Sativa para descreverem os efeitos da maconha. Venha com a gente e vamos desmistificar esse tema!
Nós do Girls In Green apostamos com vocês que quase toda/todo a/o canabista já se deparou com a terminologia Indica e Sativa para descreverem a cannabis – seja os efeitos dela no corpo, estrutura das folhas ou mesmo regiões distintas para o seu cultivo. Por mais que tal terminologia tenha sido utilizada extensamente nos últimos, sabemos que tal é uma divisão extremamente dicotômica para descrever essa plantinha.
Existe um enorme debate onde muitos acreditam que essa terminologia não é tão relevante, já que a maior parte das strains que encontramos hoje são híbridas – um cruzamento de plantas indicas e sativas já citados.
Acreditamos na importância das terminologias, mas mais ainda de nos mantermos sempre atualizadas e informadas discussões como esta que até hoje geram tantos debates na comunidade canábica mundial!
Para saber mais sobre isso, vamos falar um pouquinho sobre a história da cannabis, o surgimento dessa diferenciação e o que sabemos sobre ela atualmente e desmistificar as ideias da separação de plantas indicas e sativas com base na porcentagem de canabinóides.
Vamos lá? Vem com a gente!

Para começar: um pouco sobre indica, sativa e híbridas
O conhecimento popular sugere que as strains de sativa são as que causam mais euforia, provocando aquele efeito de “chapadeira energética” e mais alegre – muitos relatam que é uma cannabis que funciona como um cafezinho. As de indica, por sua vez, eram julgadas como as melhores para relaxar, ficar zen, dormir – mais terapêutica, a famosa strain que te deixa presa no sofá.
Bom, estudos já mostram que isso não é 100% verdade. Quando vemos o perfil químico de cada uma delas, não existem motivos para crer que uma vai fazer você ficar elétrico, e outra fazer você apagar. Isso porque grande parte do poder da cannabis não está ligada apenas aos canabinóides, mas também aos terpenos.
Os terpenos e terpenóides (presentes na cannabis já curada) interferem diretamente como os efeitos da maconha vão se desdobrar no corpo de cada um. Eles têm benefícios medicinais e, quando combinados com canabinóides, sinergizam no sistema endocanabinóide humano.
Ed Rosenthal, guru canábico conhecido pelos seus livros, publicações e estudos (e até sua própria strain, a Ed Rosenthal Super Bud!), fala bastante sobre o assunto. Em um de seus textos, que traduzimos aqui no Girls in Green, ele fala sobre como os terpenos são a revolução e alteram a discussão desse tópico.
Pra ele, “poucas genéticas que são realmente “puras” indicas ou sativas, considerando o extenso cruzamento de genéticas da atualidade, torna ainda mais difícil encontrar quais são as caraterísticas dos efeitos de uma ou outra. O que realmente determina o impacto de uma determinada variedade é: como a concentração de canabinóides e índice desses irá interagir com o perfil dos terpenos, e é aqui que encontramos uma pequena correlação entre determinado perfil de terpeno e um efeito que seria de sativa ou indica.”
Mas então, qual é a diferença?
As maiores diferenças entre essas variedades de ervas está nas origens geográficas, características físicas, utilizações e cultivo.
As verdadeiras diferenças entre sativa e indica
Em 1753, o botanista sueco Carl Linnaeus, considerado o “pai da taxonomia moderna”, publicou pela primeira vez o nome científico Cannabis sativa. O termo sativa significa simplesmente “cultivada”, o que leva a entender que Linnaeus usou esse nome pela alta incidência da erva na Europa na época. Em estudos sobre o tema, pesquisadores consideram que a sativa tenha surgido no oeste da Eurasia e especialmente na Europa, onde foi muito usada pela força das suas fibras. Também era usada medicinalmente pela presença do THC, psicoativo encontrado apenas na erva.
Um pouco depois, em 1785, o naturalista europeu Jean-Baptiste Lamarck descreveu e nomeou uma segunda espécie: a Cannabis indica, que recebeu esse nome por ser “nativa da Índia”. Ela, por sua vez, tem o potencial de produzir altas quantidades de THC, e é usada para a produção de haxixe e maconha já à época.
Com o tempo e a disseminação da planta, começam a acontecer as confusões com a nomenclatura. Embora a maior parte dela, usada como droga, seja da espécie C. indica subsp. Indica, os growers domésticos passaram a chamá-la de sativa, devido a semelhança entre as folhas da planta às dessa espécie. Mas os especialistas garantem: a sativa original produz pouquíssimo THC, e, baseando-se na taxonomia tradicional, essa informação repassada por tantos é incorreta.
Para simplificar toda essa história:
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O que hoje chamamos de cannabis sativa (as plantas altas, com folhas finas e alongadas) é, nada mais, nada menos, do que a Cannabis indica ssp. Indica, que veio de países caribenhos. Diferentemente da sativa original descrita por Linnaeus, ela contém uma grande quantidade de THC.
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Já as plantinhas mais baixas, com folhas mais largas e com tons mais escuros, que atualmente chamamos de cannabis indica, originalmente eram chamadas de Cannabis indica ssp. Afghanica – pois é originária de regiões do Oriente Médio, Índia e sul da Ásia. Foi por lá, inclusive, que as extrações de haxixe mais antigas foram feitas.
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Já o cânhamo, que dá origem às fibras usadas na fabricação de papéis e tecidos e não tem níveis significantes de THC, é o que tradicionalmente foi descrito por Linnaeus como Cannabis sativa, da Europa e oeste da Ásia.
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Os cientistas acreditam que tanto a indica quanto a sativa possuem um ancestral em comum, que ele chamam de C. ruderalis. Elas acabaram se diferenciando pelas condições climáticas onde brotavam ou eram deliberadamente cultivadas, dando origem ao que conhecemos hoje – mas, infelizmente, essa vovó cannabis já está extinta.
O que podemos concluir depois disso é que a maior diferença entre elas importa muito mais para os growers do que para os usuários. Isso porque elas precisam de climas e condições diferentes para se desenvolver, além de serem fisicamente distintas!
Quem é quem no cultivo
Sobre o perfil químico: o que saber
Dois dos mais conhecidos e mais presentes canabinóides são o THC e o CBD. Aqui no blog, já explicamos inclusive porque eles podem te deixar mais ou menos ansiosos conforme sua quantidade na cannabis!
Uma das maiores teorias relacionadas à genética canábica envolve os dois. De acordo com ela, plantas que produzem altos níveis de THC possuem genes que codificam a enzima sintase THCA. Esta enzima é responsável por converter o CBG em THCA, que se torna o THC quando aquecido. Elas são geralmente consideradas indica por quem não usa a nomenclatura tradicional.
Por outro lado, algumas plantas possuem os genes que codificam a enzima sintase CBDA. Esta enzima converte CBG em CBDA, o precursor do CBD. Essas plantas são geralmente consideradas sativa. Com base nisso, plantas indicas têm altos níveis de THC, enquanto as sativas têm altos índices de CBD.
O problema é que, atualmente, muitos cruzamentos produzem quantidades variáveis de ambas as enzimas. Alguns pesquisadores acreditam que isso é devido à hibridização dos conjuntos gênicos, o que explica porque algumas sativas são ricas em THC e alguns indicas não. Outros, como o neurologista Ethan Russo, chamam isso de “absurdo total”.
Ele ressalta que é impossível prever os canabinóides presentes e os efeitos que cada planta causará apenas pela sua aparência física. A proposta de Ethan é abandonar o sistema indica x sativa e focar na concentração de canabinóides presentes em cada genética para agrupá-las e, assim, classificá-las.
Para ele, a realidade seria algo assim:
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Tipo I: THC dominante, com relativamente baixo índice de CBD
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Tipo II: CBD e THC equilibrados
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Tipo III: CBD dominante, geralmente com menos de 0.3% de THC, legalmente classificado como cânhamo.
Essas diferenças podem ser observadas nas strains, que devem ser escolhidas de acordo com o efeito de cada uma dessas substâncias no seu corpo.
Indica X sativa: mandando a real
Muito debate assistido e pesquisa lida depois, a gente percebe que existem duas vertentes que se chocam bastante:
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A dos taxonomistas tradicionais, que nomearam as espécies pelas suas propriedades químicas;
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A dos growers e usuários, que criaram também suas nomenclaturas através da experiência de uso e cultivo.
Você pode encontrar muitas opiniões divergentes na internet, mas o nosso conselho é: conheça bem o perfil químico das suas strains favoritas, seus canabinóides e terpenos, e você nunca mais vai precisar se confundir com indica ou sativa.
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FONTES:
Clarke RC, Merlin MD. Cannabis: Evolution and Ethnobotany. Berkeley, CA: University of California Press; 2013.
https://anthearcs.com/expert-insights-cannabinoid-science-ethan-russo-part-2/
https://www.leafly.com/news/cannabis-101/sativa-indica-and-hybrid-differences-between-cannabis-types
https://haveaheartcc.com/how-to-pick-a-cannabis-strain/
https://www.crescolabs.com/indica-vs-sativa/
https://www.leafly.com/news/industry/reimagining-cannabis-strains-sxsw-2019