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IBOGAÍNA: O QUE É E QUAIS SEUS EFEITOS?

Pesquisas recentes apontam que a terapia assistida com ibogaína pode ser útil para diferentes condições. Mas que substância é essa? Descubra!

No cenário da pesquisa psicodélica, a ibogaína emerge como uma substância fascinante! Ela tem atraído a atenção de cientistas, terapeutas e curiosos em busca de alternativas inovadoras para abordar desafios de saúde mental e do uso problemático de substâncias. 

Extraída da raiz da planta iboga, originária da África Central, a ibogaína tem um histórico rico em práticas rituais tradicionais. Mais recentemente, ela vem sendo explorada por suas promissoras propriedades terapêuticas. E infelizmente dizer que ela está sendo explorada é bem literal: assim como outras substâncias sagradas para povos tradicionais, a história da ibogaína é um testamento de que o colonialismo segue vitimando diferentes grupos nativos ao redor do mundo.

Hoje, a gente vai falar um pouco mais sobre essa substância, mergulhando nas suas origens, explorando seu potencial terapêutico e examinando as pesquisas mais recentes sobre ela. Assim, esperamos ajudar você a entender profundamente como a ibogaína pode desempenhar um papel crucial no campo da saúde mental — mas como seus estudos e usos devem ser tratados com respeito.

Vamos explorar tudo isso?

 

O que é ibogaína?

A ibogaína é uma substância alcaloide psicodélica encontrada na raiz da planta Tabernanthe iboga, nativa da região central da África. Tradicionalmente, ela tem sido utilizada em práticas rituais e cerimônias religiosas por comunidades indígenas. Essas cerimônias muitas vezes envolvem a ingestão da raiz da iboga como um meio de buscar insights espirituais, cura e orientação.

Inicialmente utilizada pelos pigmeus, grupo original do Gabão, a Iboga foi introduzida a outros, como os Bantu e Fang, através do Bwiti. O Bwiti, prática animista, baseia-se no culto aos ancestrais. Nele, a iboga é empregada em rituais de iniciação e cura para promover a cura comunitária e o crescimento espiritual. Certas seitas do Bwiti, como os Fang, incorporam elementos do cristianismo por necessidade de assimilação durante a colonização. No sul dos Camarões, ele é conhecido como Ziliang ou Mimbiri. 

Ao longo do século XX, o catolicismo estigmatizou o Bwiti. Nos anos recentes, a igreja evangélica conservadora tornou-se a principal ameaça, sendo considerado maligno pela maioria cristã do Gabão. Apesar de algum respeito por essas práticas tradicionais, persiste uma atitude generalizada de medo e desprezo, prejudicando os esforços de conservação e proteção do Bwiti e da iboga.

Em termos de pesquisa, a ibogaína continua a ser objeto de estudos científicos. Eles buscam compreender melhor seus efeitos, segurança e potenciais aplicações terapêuticas. Por isso, é fundamental abordar a ibogaína com cautela e respeito — devido à sua natureza poderosa, aos saberes ancestrais relacionados a ela e aos desafios associados ao seu uso!

 

Quais os efeitos da ibogaína?

ibogaína
A ibogaína é um psicodélico poderoso, com efeitos duradouros. Imagem: Iboga Quest.

A ibogaína produz efeitos psicodélicos e dissociativos de longa duração. Estudos mostram que, quando ingerido, esse alcaloide interage com diferentes partes do nosso sistema nervoso central. Eles incluem os receptores dopaminérgicos, serotoninérgicos, nicotínicos, GABA e muscarínicos.

Após a ingestão da ibogaína, seus efeitos psicodélicos geralmente começam a aparecer dentro de algumas horas. Eles são divididos em três fases:

  • fase visionária: esta primeira fase entra em vigor dentro de uma a três horas após a ingestão da ibogaína. Os usuários geralmente mantêm os olhos fechados durante esta fase, que pode durar entre quatro e oito horas;
  • fase de introspecção: pode começar dentro de quatro a oito horas após ingerir a ibogaína. Geralmente, ela dura de oito a vinte horas e é caracterizada por emoções reflexivas e insights poderosos;
  • fase residual: cerca de 12 a 24 horas após a primeira ingestão da planta, os efeitos da ibogaína diminuem na fase residual. Nesta fase, ocorre uma diminuição nos níveis de alerta e um aumento na necessidade de sono.

Entre os efeitos negativos, estão náuseas, boca seca, vômitos, paralisia temporária e até mesmo ataque cardíaco. Por isso, seu uso é delicado e deve ser feito apenas em contextos próprios.

 

Uso terapêutico da ibogaína e possíveis benefícios

A maior parte das pesquisas envolvendo a ibogaína são voltadas ao uso no tratamento de relações problemáticas com drogas. Embora o mecanismo exato dos efeitos anti-aditivos da ibogaína ainda não esteja claro, estudos iniciais sugerem que ela influencia os receptores nicotínicos, receptores opioides e transportadores de dopamina e serotonina. 

Um estudo de 2016 envolveu 30 participantes usuários de opioides, que receberam aproximadamente 12 mg/kg de ibogaína. Os resultados foram avaliados 12 meses depois. Um mês após o tratamento, metade dos participantes relatou não ter utilizado opioides. No décimo segundo mês, sete participantes conseguiram evitar o uso de opioides.

Os pesquisadores determinaram que a ibogaína não é uma cura para a dependência. Em vez disso, ela interrompe a adicção.

Já um estudo brasileiro de 2014, com 75 participantes, mostrou que o tratamento com ibogaína foi eficaz na dependência quando usado em conjunto com a psicoterapia. Após cinco meses, 61% dos participantes permaneceram abstinentes. Um deles, André*, contou sua história e experiência aqui.

Atualmente, outras pesquisas estão explorando os potenciais efeitos antidepressivos da ibogaína e de sintéticos análogos à substância. 

Entretanto, não foram conduzidos muitos estudos de longo prazo ou com amostras maiores de pacientes sobre a ibogaína. Mais pesquisas são necessárias para obter evidências definitivas sobre como ela ajuda (ou prejudica) o corpo.

 

Os problemas ao redor da exploração da ibogaína

Cerimônias com iboga são uma tradição extremamente importante para diferentes povos no Gabão. Imagem: DOSE.

Segundo a organização social Blessings of The Forest (BOTF), dedicada à conservação do patrimônio cultural e natural do Gabão, 95% da iboga e ibogaína vendidas online provém de plantas que foram roubadas das florestas protegidas por caçadores furtivos e vendidas a consumidores no Ocidente. E, muito além da questão do roubo, existe também o problema da apropriação cultural e da falta geral de reciprocidade com as comunidades gabonesas.

Retiros psicodélicos, muitas vezes liderados por pessoas brancas, estão se tornando cada vez mais populares no continente americano. Embora alguns gaboneses sintam que a aliança de estrangeiros vai ajudar a proteger a Iboga e a destigmatizá-la dentro e fora do Gabão, há também a preocupação justificada de que Bwiti e a iboga estejam sendo explorados. 

A colonização estabeleceu uma base de medo e desconfiança dos estrangeiros — e a colonização não acabou. Afinal, como já sabemos, a chamada “renascença psicodélica” está repleta de práticas colonialistas. Isso acontece com diferentes elementos sagrados, desde a ayahuasca até os cogumelos mágicos, o peiote, o sapo Bufo alvarius, e tantos outros.

A autora Jullian Mulligan, na DoubleBlind Magazine, escreve: “A verdadeira reciprocidade não se trata apenas de mudar a origem da obtenção da medicina de sua região nativa para um laboratório, mas também de reconhecer e respeitar a comunidade de onde vem a iboga e compartilhar com essa comunidade os benefícios econômicos advindos da rápida expansão do mercado de tratamento com ibogaína. Sem isso, padrões de colonização continuarão.”

 

E aí, gostou dessas informações? Esperamos que elas ajudem você a entender a importância da preservação de culturas locais, que merecem nosso respeito. 

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Até a próxima!

 

FAQ

O que é ibogaína?

A ibogaína é uma substância alcaloide psicodélica encontrada na raiz da planta Tabernanthe iboga, nativa da região central da África. Tradicionalmente, ela tem sido utilizada em práticas rituais e cerimônias religiosas por comunidades indígenas. 

Quais os principais efeitos da ibogaína?

A ibogaína produz efeitos psicodélicos e dissociativos de longa duração. Estudos mostram que, quando ingerido, esse alcaloide interage com os receptores dopaminérgicos, serotoninérgicos, nicotínicos, GABA e muscarínicos, presentes em nosso sistema nervoso central.

Para que serve a ibogaína?

A maior parte das pesquisas envolvendo ibogaína são voltadas ao tratamento de pessoas com relações problemáticas com drogas. Embora o mecanismo exato de atuação ainda não seja claro, estudos iniciais sugerem que ela influencia os receptores nicotínicos, receptores opioides e transportadores de dopamina e serotonina. 

Quais os riscos da ibogaína?

Entre os efeitos negativos, estão náuseas, boca seca, vômitos, paralisia temporária e até mesmo ataque cardíaco. Por isso, seu uso é delicado e deve ser feito apenas em contextos próprios. A exploração da ibogaína ainda machuca comunidades locais africanas através do extrativismo e do roubo das plantas, sagradas para diferentes povos.

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