De subproduto a objeto de desejo: como as extrações e os concentrados se tornaram um dos principais produtos do mercado canábico legal? Aqui, vamos contar um pouco mais sobre isso!
Há oito anos atrás, se você chegasse em uma fazenda falando em congelar a maconha de qualquer produtor, o mínimo que aconteceria é você ser tirado para maluco. Hoje, existem cultivos enormes inteiros destinados apenas para essa finalidade. E por quê? Por causa das nossas queridas extrações e concentrados de cannabis.
Lotados de canabinoides, terpenos e outras substâncias terapêuticas, os haxixes isolam e capturam os tricomas da planta – entregando uma pureza não encontrada quando se fumam apenas as flores. Estes concentrados almejam a menor quantidade possível de matéria vegetal e, por isso, são indicados para a vaporização. Além disso, podem ser usados para as mais inúmeras linhas de produtos na indústria – cosméticos, comestíveis, e vários outros.
De lixo, ele se tornou o luxo. Antigamente, o restante do trimming virava compostagem. Hoje em dia plantações gigantes são destinadas para essa finalidade.
Nós acreditamos que esse tipo de produto foi o maior game-changer do mercado legal, principalmente aqui na Califórnia, onde a cultura do hash é incrivelmente forte. Aqui, sua tecnologia foi se desenvolvendo e permitindo que hoje tenhamos os mais diversos tipos de extração – feitas com ou sem solventes.
Tá a fim de saber mais sobre como essa cultura tem moldado o futuro da indústria? Vem ler mais aqui com a gente!
Alerta: concentrados feitos a partir da cannabis podem conter altas concentrações de canabinoides. Isso significa que strains dominantes em THC podem ter concentrações elevadíssimas do mesmo em seu extrato – podendo desencadear sensações desagradáveis, estados de ansiedade, paranoia, entre outros.

A ascensão do hash
Nos anos 80, comprar haxixe era fácil na Europa – especialmente em Amsterdã. O charas, feito a partir da raspagem dos resíduos das mãos após esfregar buds bem resinados, era muito popular, assim como o haxixe negro afegão, haxixe libanês loiro, haxixe marroquino – vendedores geralmente tinham uma espécie de menu impresso para que o cliente pudesse escolher.
Como já contamos aqui, o haxixe tem uma longa história. É o concentrado de maconha original, aparecendo pelo Oriente Médio e sendo usado até religiosamente em regiões como a China, a Índia, o Afeganistão, o Líbano e o Marrocos. Eventualmente, espalhou-se pela Europa no fim do século XIX.
Nos Estados Unidos, no entanto, essa popularização levou um tempo: no início, ele era feito com restos de trima e sobras de menor qualidade após a colheita. O que não podia ser fumado era eventualmente transformado em hash. No país, se desenvolveram muitas técnicas relativamente fáceis de fazer, e elas – em especial as extrações utilizando gelo seco e CO2 introduzidas no final dos anos 80 – ajudaram a torná-lo mais disponível.
Seu uso começou a aumentar constantemente por alguns fatores principais:
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O processo para fazê-lo foi atualizado;
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Houve um boom no interesse pela cannabis;
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O desejo dos Baby Boomers da “velha escola” de experimentar o primeiro concentrado de cannabis com percentagens de THC variando de 10% a 40% – ou mais.
Existem três técnicas bastante populares para fazer hash nos EUA. A maconha pode ser embebida em álcool ou um solvente, onde os ingredientes ativos dos tricomas da planta são dissolvidos. Uma vez que o solvente evapora, o que resta é o haxixe (ou, em um processo semelhante, o óleo). A cannabis ainda pode ser filtrada em uma malha fina, o que permite a passagem dos tricomas. Ou, no método mais moderno, você pode mergulhar a planta de cannabis em água gelada enquanto a filtra, fazendo com que os tricomas endureçam e se separem da planta mais facilmente (resultando no chamado ice ou bubble hash, que a gente ama).
Concentrados incluindo haxixe estão reivindicando uma fatia maior do mercado hoje nos Estados Unidos. Dados do estado de Washington mostram que o haxixe ainda está no radar de consumidores experientes de maconha, representando 6% das vendas de concentrados – com extrações com solvente como wax e shatter reivindicando 55% das vendas de concentrados, representando a linha de produtos de crescimento mais rápido.

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Na Califórnia, as vendas de concentrados de maconha dispararam mais de 40% no ano passado e representaram uma parcela maior do mercado geral de cannabis, à medida que os consumidores se sentiam mais confortáveis com o modo de consumo e as novas tecnologias tornaram os produtos mais fáceis de usar.
A tendência de vendas de concentrados continuará, de acordo com um estudo publicado no International Journal of Drug Policy: “Agora que possuir máquinas de extração não cria risco de prisão, não há razão para descartar o THC contido nas folhas e outras partes da planta além das flores. Uma vez que a maior parte do peso da planta está nas folhas, não nas flores, uma parte considerável dos canabinoides aparecem em partes da planta que não poderiam ser facilmente levadas ao mercado antes da legalização.”
Atualmente, um grama de hash feito sem o uso de solventes de alta qualidade é mais caro que um grama de ouro.
Quais as principais mudanças visíveis?
A busca constante por uma maior qualidade no mundo dos concentrados mudou muita coisa. No cultivo, podemos destacar a ação honrosa dos breeders – criadores de novas variedades de sementes e plantas cada vez mais resinadas. Os nossos queridinhos hoje já não são criados a partir de sobras da produção que não poderiam ser utilizadas para mais nada, e sim por uma cannabis desenvolvida especialmente para resultar no melhor haxixe possível.
Existem fazendas que destinam a maior parte da sua produção para a indústria do haxixe – como é o caso da Sunrise Mountain Farms. Localizada nas montanhas do condado de Humboldt, a uma altitude de 2.500 pés, o microclima único e os métodos de cultivo regenerativos testados ao longo do tempo contribuem para os perfis de sabor complexos em suas flores ricas em terpeno e crescidas ao sol.
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Esse tipo de fazenda é abastecida pelas novas sementes desenvolvidas por bancos de genética, como a Symbiotic Genetics, a Oni Seed Co, a Exotic Genetics, entre outros.
Essa área também tem uma ligação especial e um respeito ao mercado tradicional, ainda irregular – principalmente porque ele foi o primeiro espaço onde a qualidade conseguiu se desenvolver. O que começou com pessoas que cultivavam ou tinham amigos growers e faziam em pequena escala não conseguiu se transformar por completo: no mercado legal, por conta das testagens de alto valor, é impossível fabricar haxixe artesanalmente e conseguir pagar as contas.
Entretanto, muita gente conseguiu entrar no esquema da regulamentação, e trabalha trazendo essa carga e o mesmo culto à alta qualidade que sempre esteve presente na cena americana dos concentrados!

E o que mais traz essa indústria?
A popularização e o aumento da qualidade dos concentrados não apenas deu origem a um mercado por si só, como também impulsionou e facilitou a criação de diversos outros. Um exemplo disso é a empresa Papa & Barkley – da qual a nossa parceira Papa’s Select faz parte. Federalmente, eles podem produzir e vender produtos com CBD, e sua origem principal são as extrações.
Dessa forma, eles conseguem produzir:
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Tinturas e óleos;
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Comestíveis, como gummies e chocolates;
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Tópicos como cremes, pomadas e adesivos transdermais.
Outras empresas do ramo também usam destilados canábicos para criar cosméticos, pastilhas, cartuchos vaporizáveis e muitos, mas muitos outros produtos. Além de facilitar o seu desenvolvimento, eles possibilitam um tempo de prateleira muito maior – já que, completamente livres de matéria vegetal, o material se torna muito mais estável.
A indústria dos concentrados ainda alavancou alas completamente novas do mercado, principalmente as de equipamentos para consumo. Além de trazer uma maior visibilidade a artistas e sopradores de vidro, que fabricam vidros e nails incríveis para dab – são verdadeiras obras de arte e podem custar milhares de dólares, há também a expansão de empresas voltadas à criação de ferramentas automatizadas para isso.
A Puffco é uma delas! A companhia começou em 2013, quando o CEO Roger Volodarsky decidiu que queria mais do que o padrão da indústria poderia oferecer. Em resposta, ele reuniu as disciplinas de design, tecnologia e engenharia para criar a Puffco, com a missão de fornecer a melhor plataforma para o consumo de concentrados – ou seja, vaporizadores especialmente criados para concentrados. Com várias premiações, inclusive como produto revolucionário no universo canábico, esse nicho de mercado está constantemente se desenvolvendo e criando mais objetos de desejo.
Divisões na cultura 710
Se você está ligado aqui no blog, já deve saber o que é 710. Se não, vamos explicar rapidamente: 710 refere-se a 10 de julho, da mesma forma que 420 refere-se a 20 de abril. Essa data foi escolhida pelo simples fato de que, se você virar o número 710 de cabeça para baixo, pode ler a palavra “oil”, uma referência aos concentrados canábicos. Assim como 420 é a hora de acender um baseado, 710 é a hora de dar um dab.
Essa nova cultura já está tão consolidada que já tem as próprias divisões e ramificações internas. A principal delas é a galera dos haxixes sem solvente e a dos com solventes. São quase como a torcida do Corinthians e a do Palmeiras: eles não se misturam!
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Os concentrados com solvente, feitos normalmente com butano ou CO2, dão origem ao que conhecemos como shatter, honeycomb, wax, crumble… Revistas como a High Times ajudaram a tornar as técnicas e produtos mais conhecidos, apresentando o concentrado como um método mais fácil de utilizar partes antes perdidas da planta de cannabis e afirmando que o BHO, por ser um concentrado canábico, tem propriedades superiores de alívio da dor. No mercado legal, uma purga completa é possível e, assim, ele se torna seguro para o consumo. Entretanto, muitas coisas se perdem nas mudanças químicas que ocorrem na cannabis durante esse processo – por exemplo, há uma grande perda dos terpenos e outras propriedades terapêuticas.
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Já os concentrados sem solvente, cujos mais comuns são o ice water hash (ou bubble hash) e o hash rosin, são uma forma de criar haxixes com a expressão mais pura e verdadeira da planta, conservando a estrutura original dos seus tricomas e o seu perfil de terpenos praticamente inalterado. Não é novidade que nós, do Girls in Green, damos sempre preferência a extrações e hashish que foram feitos sem o uso de solventes: afinal, porquê utilizar de técnicas que precisam de solventes químicos pesados enquanto temos outras que precisam apenas de água e gelo, ou mesmo apenas telas? As extrações sem solventes são mais naturais, limpas e seguras, e, por si só, já reduzem danos.
Entretanto, fazer hash sem solventes tem lá os seus percalços. Sua matéria prima principal é o fresh frozen (ou seja, a planta viva congelada com seus tricomas e suas propriedades intactas). Mas como fazer isso ser lucrativo quando esse material tem um rendimento de 3 a 7%? A resposta é: fazendo cálculos. Calcular o rendimento quando trabalha sem solvente pode ser a diferença entre fazer seu negócio crescer – ou falir por completo. Por isso, quando falamos em indústria, muitos preferem tomar o caminho mais fácil.
Nós acreditamos que a educação pode ser um ponto extremamente importante nessa curva! Muitas empresas, como a própria Papa’s Select, já seguem esse caminho e são, atualmente, um ponto de referência no mercado legal de concentrados sem solvente. Nas copas, hoje em dia, já temos subcategorias para esse tipo de produto – e vemos o seu crescimento e sua valorização crescendo cada vez mais.

Mercantilização e saúde
Embora sejam produtos com um enorme potencial terapêutico, percebemos que a mercantilização dos concentrados com alto índice de canabinoides (em especial o THC) não vem acompanhada da Redução de Danos. Criar um objeto de desejo com esse tipo de perfil pode ser desafiador sem contar com a educação dos consumidores – afinal, temos pouquíssimas pesquisas que observam os resultados do alto consumo de THC no nosso organismo ao longo do tempo.
Além disso, não existe uma educação voltada a quem vende esse tipo de produto, o que é um tanto absurdo. Afinal, como criar uma mentalidade de uso seguro de haxixe quando o usuário não recebe informação nem mesmo de quem fornece as substâncias?
Como essa cultura é muito nova, esperamos que com o tempo seja possível desenvolver essa consciência, tanto em quem consome quanto em quem comercializa esse tipo de substância. Ninguém deveria ter que passar por experiências ruins (como dabs quentes demais ou sensações ruins provocadas por altas doses de THC) para aprender que elas devem ser usadas com moderação e parcimônia, assim como tudo na nossa vida.
E aí, gostou de saber mais sobre tudo isso? A indústria regulamentada traz sim possibilidades muito legais de se observar e de se experimentar, mas também precisamos ter um olhar mais crítico sobre ela. A gente quer saber a sua opinião – por isso, deixa ela aqui nos nossos comentários ou vem falar com a gente lá no nosso Instagram @girlsingreen710.
Até a próxima!