Sabia que existe um terpeno exclusivo responsável pelo cheirinho e sabor de algumas variedades de haxixe? Vem entender o hashisheno, uma descoberta relativamente recente!
É sempre surpreendente falar sobre os terpenos! Esses compostos, tão comuns na natureza e abundantes na maconha, são parcialmente responsáveis por alguns dos nossos efeitos favoritos da erva. Além disso, podem ter funções das mais variadas — desde a proteção de diferentes espécies de plantas até benefícios terapêuticos. Mas, há alguns anos atrás, uma descoberta incrível veio à tona: existe um terpeno exclusivo no haxixe.
Isso significa que, embora você possa encontrar o linalol na lavanda, o mirceno na manga, o cariofileno nas pimentas pretas e assim por diante, você só pode encontrar o hashisheno (ou haxixeno) no concentrado. E também não é em qualquer concentrado, não!
Como grandíssimas entusiastas da arte perdida do haxixe, não podíamos deixar de falar sobre esse assunto. Afinal, o que é o hashisheno, quais são os seus efeitos e onde ele pode ser encontrado? Aqui, você encontra todas essas respostas.
Vem com a gente!
Retomando: o que são terpenos?
Você já deve ter ouvido falar sobre os terpenos. Presentes na cannabis e em muitas outras plantas (e até insetos!), eles são hidrocarbonetos orgânicos aromáticos. Na natureza, podem servir como repelente natural de predadores ou para atrair polinizadores úteis.
Mas uma das coisas mais interessantes sobre eles é que cada um possui propriedades terapêuticas incríveis e que, quando combinadas, podem se potencializar. Essas combinações também dão origem a aromas e sabores diferentes entre si.
Na maconha, cada cepa conta com um perfil de terpenos diferente. Ele vai variar não só por conta da espécie, mas também de fatores determinantes, como clima, umidade, qualidade do solo, altitude e outros. Como existem mais de 100 terpenos conhecidos na planta, a variedade de gostinhos e efeitos é imensa!
Além dos terpenos, temos também os terpenoides — terpenos modificados quimicamente através de um processo de secagem e cura, que muda a quantidade de oxigênio do composto.
Os terpenos e terpenoides trabalham em conjunto com os canabinoides e outros compostos da maconha através do efeito entourage, ou efeito comitiva. Basicamente, através do trabalho em equipe, cada componente exalta as características benéficas dos outros. Ao mesmo tempo, podem suprimir efeitos indesejados! Incrível a inteligência da Mãe Natureza, né?

E o que é o hashisheno?
Em 2014, foi publicado um estudo no Journal of Chromatography intitulado Análise multidimensional de constituintes voláteis de cannabis: identificação de 5,5-dimetil-1-vinilbiciclo[2.1.1]hexano como um marcador volátil de haxixe, a resina de Cannabis sativa L. Pouco tempo depois, cientistas em Nice analisaram amostras de haxixe apreendido na França na tentativa de desenvolver um dispositivo que pudesse detectar a presença de contrabando sem precisar de cães.
Ao esmiuçar seus resultados, encontraram um pico misterioso no cromatograma. Mas e aí, o que era isso?
Depois de muita investigação, eles concluíram que esse pico misterioso era ninguém mais, ninguém menos, que o 5,5-dimetil-1-vinilbiciclo[2.1.1]hexano. O composto raro só havia sido detectado antes como um constituinte muito menor da hortelã. Estudando um pouquinho mais, eles encontraram grandes quantidades desse “novo” terpeno em haxixes (cerca de 14% dos constituintes voláteis, ou 0,33% da massa total de uma amostra), mas ainda pouquíssimo em buds secos.
E isso é incrível: até aquele momento, todo mundo acreditava que todos os terpenos podiam ser encontrados em outras ervas, e que seu cheirinho e gostos característicos eram definidos apenas pela quantidade de cada um na amostra. Para a erva seca, isso ainda é verdade, mas esse composto recém-descoberto é tão exclusivo do haxixe que seus descobridores decidiram dar o nome de hashisheno,
Em qual haxixe o hashisheno é encontrado?
Embora seja exclusivo do hash, não é qualquer concentrado que vai contar com a sua ilustre presença. O hashisheno é mais comum no haxixe marroquino — e isso se deve, principalmente, à forma como ele é feito.
Vamos explicar melhor.

Como a gente já contou aqui no blog, o haxixe marroquino é o mais comum em grande parte do mundo, principalmente na Europa. Isso porque o país exporta cerca de 70% do hash disponível por aí. O que é haxixe pra caramba!
Agricultores do Vale do Rif, no Marrocos, semeiam diferentes tipos de maconha, e muitas delas contém uma boa quantidade de CBD. Por isso, o efeito do haxixe que produzem fica bem mais suave. Depois de colhidas, as plantas são secas ao sol, nos telhados dos mesmos espaços que utilizam para processar e embalar seu material.
A mistura de cepas locais, a secagem no telhado e o processo de produção de haxixe geram uma substância levemente pegajosa e perfumada, conhecida na Espanha como “pólen” (quando mais clarinha) ou “paki” (quando mais escura).

Como surge o hashisheno?
Os cientistas franceses especulam que o beta-mirceno, o terpeno mais abundante na maconha, se degrada por conta da luz e do oxigênio e se transforma em hashisheno. Eles presumem que esse processo acontece durante a secagem nos telhados, quando o sol emite raios ultravioleta suficientes para oxidar o beta-mirceno em grandes quantidades. Ou seja, na verdade, ele nem terpeno é — tecnicamente, é um terpenoide.
Como a maioria dos produtores nos Estados Unidos e no resto do mundo prefere produtos frescos, como ice water hash, ou mesmo feitos com uma cura mais cuidadosa, o hashisheno é extremamente raro nos produtos desse lado do oceano.
No artigo que falamos lá no começo, os autores sugeriram que muitos dos terpenoides menores da maconha são produzidos através da oxidação dos principais terpenoides da planta:
- Beta-mirceno;
- Alfa-pineno;
- Beta-pineno;
- Linalol;
- Terpinoleno;
- Cariofileno;
- E humuleno.
O beta-mirceno apareceu em uma quantidade média de 16,8% nas flores de cannabis e apenas 4,3% nas amostras de haxixe. Por outro lado, o hashisheno apresentou 8,4% no hash e apenas 0,36% na cannabis.
Isso significa que muitas das notas interessantes na maconha, como aqueles cheirinhos frutados que a gente adora, aparecem por acidente? Bom, no caso do hashisheno, a reação de foto-oxidação requer um composto sensibilizador especial. Ou seja: algo ainda mais complexo está por trás da formação desses derivados de terpenos, e esse fator ainda está em investigação.
A expressão genética de diferentes sensibilizadores que provocam certas transformações químicas, e não outras, pode estar por trás das diferenças aromáticas que observamos entre as cepas.

E quais os efeitos do hashisheno?
Como derivado do mirceno, acredita-se que os efeitos do hashisheno sejam similares. Na maconha, o mirceno pode alterar a permeabilidade das membranas celulares para permitir uma maior absorção de canabinoides, regulando assim seus efeitos de forma parecida com o CBD. Acredita-se também que o mirceno potencializa o THC, CBD e CBG.
O mirceno tem muitos efeitos terapêuticos, e é usado para relaxar os músculos e combater a dor. Também possui propriedades antidepressivas e anti-inflamatórias, além de efeitos antimicrobianos, antioxidantes, antissépticos e anticancerígenos. Esse terpeno ainda retarda o crescimento bacteriano, inibe a mutação celular (um fator muito importante no combate ao câncer), suprime os espasmos musculares e até é usado para tratar psicoses por causa de seu efeito relaxante e calmante.
Uau, certo?
Seu cheiro é muito complexo, terroso, balsâmico e picante, mas também lembra uvas, pêssegos, baunilha, grama, madeira e pimenta. Tanto o cheiro quanto o sabor se dissipam com altas temperaturas — então é legal vaporizá-lo com cuidado.
Informações técnicas do hashisheno
Nome: 5,5-dimetil-1-vinilbiciclo[2.1.1]hexano
Fórmula: C10H16
Peso molecular: 136,234 g/mol
Ponto de ebulição: 161°C (321°F, 434°K)
Pressão Crítica: 3022,28 kP
A gente sempre fica surpresa com a variedade de componentes da maconha, e achamos incrível que, conforme o número de pesquisas aumenta e o proibicionismo recua, conhecemos essa plantinha cada dia melhor. Curtimos ainda mais saber que o haxixe, nosso queridinho, tem características todas especiais!
E você, gostou de descobrir esse terpeno? Não esquece de seguir a gente lá no @girlsingreen710 para saber ainda mais sobre maconha, concentrados, Redução de Danos e muito mais.
Até a próxima!
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