Mais comum em mulheres jovens, a EM atinge cerca de quarenta mil pessoas no Brasil. Mas o que ela causa, quais são seus fatores de risco e como a cannabis pode ajudar a tratar seus sintomas? Aqui, a gente conta para você!
Aos 16 anos, uma jovem holandesa chamada Lidvina sofreu uma queda enquanto patinava no gelo. Outros sintomas acompanharam o episódio: fraqueza, dores e cegueira em um dos olhos. Tudo isso aconteceu entre os anos de 1395 e 1433, quando ela morreu, se tornou a padroeira dos patinadores – e um dos primeiros registros da esclerose múltipla (EM) no mundo.
Atualmente, ela é considerada a doença mais comum do sistema nervoso central no planeta, atingindo principalmente mulheres com idades entre 20 e 40 anos. O dia 30 de agosto é o Dia Nacional de Conscientização Sobre a Esclerose Múltipla, e nada mais justo do que usarmos essa data como um momento para falar sobre a doença e entender como é possível melhorar a qualidade de vida de todos os pacientes.
Nos últimos anos, a cannabis medicinal e/ou terapêutica tem mostrado, em pesquisas e estudos, seu potencial como tratamento para inúmeras condições – e a EM é uma delas. Aqui, vamos explicar um pouco mais sobre esse problema e quais são os potenciais benefícios da planta para quem foi diagnosticado com ela.
Aviso importante: toda possibilidade de uso da cannabis como medicamento deve ser analisada por um especialista que acompanha o histórico de cada paciente. Esse post não é uma recomendação para a automedicação com a cannabis de qualquer forma. Caso acredite que ela pode beneficiar seu quadro, converse com profissionais da saúde.

O que é a Esclerose Múltipla
A esclerose múltipla é uma doença autoimune que afeta o cérebro, olhos e medula espinhal, geralmente diagnosticada em pacientes entre 20 e 40 anos, de maioria branca e principalmente mulheres. O que acontece é que o sistema imunológico dos pacientes afetados confunde as células saudáveis da bainha protetora dos nervos como “células invasoras”, e começa a atacá-las, corroendo e provocando lesões na bainha de mielina.
O processo de desmielinização influencia diretamente a comunicação entre sistema nervoso e todas as outras áreas do corpo, levando a dificuldades motoras, sensitivas, cerebelares e cognitivas.
Vamos dar um exemplo: para abrirmos uma janela, o cérebro envia um comando, por via de estímulo elétrico, que passa pelo nosso sistema nervoso e chega até a mão, que realiza o movimento necessário.
Agora imagine que no caminho entre o cérebro e a mão havia uma barreira. A mensagem nunca seria entregue e a mão nunca abriria a janela.
As células com a bainha de mielina destruída funcionam mais ou menos como essa barreira, e atrapalham o envio de mensagens do cérebro para o resto do corpo. Com o passar dos anos, a doença vai evoluindo e as lesões na bainha de mielina vão se espalhando, causando sintomas que dependem diretamente da área desmielinizada.

Fonte: mundoeducaçao
Quais são as principais causas e sintomas da EM?
A função do sistema de defesa do corpo é ajudar a combater infecções. No caso da EM, como já contamos acima, ele identifica a mielina como uma ameaça e passa a atacá-la. Até agora, ainda não se sabe exatamente o que dá origem a esse processo, mas imagina-se que tal ação possa ser relacionada a fatores como:
Genética: a predisposição pode ser uma característica de facilitação para o aparecimento da doença;
Histórico familiar: 5% de pessoas com EM têm um irmão com a doença, e 15% têm parente próximo acometido por ela;
Ambiente: menor incidência do sol e baixos índices de vitamina D, além do tabagismo passivo ou ativo, podem ser fatores de risco;
Dieta: ainda não está muito clara a relação com a EM, mas há indícios de que dietas com alto teor de sódio e pobres em ácidos graxos ômega 3 possam ter um papel no desencadeamento do processo;
Outros: obesidade e infecções virais, como herpesvírus ou retrovírus, também são apontadas como possíveis causas.
Tanto os fatores quanto a evolução da doença podem ser muito diferentes de um paciente para o outro.
Na sua fase inicial, os sintomas costumam ser bem sutis e quase sempre desaparecem em aproximadamente uma semana. Por conta disso, muitos pacientes passam anos sem diagnóstico nem tratamento. Entretanto, os sinais tendem a se intensificar de acordo com a progressão do estágio da doença, podendo, inclusive, deixar a pessoa incapacitada. Os principais são:
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Fadiga;
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Dificuldade em andar;
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Dificuldade de equilíbrio e de coordenação motora;
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Problemas de visão, como visão dupla, visão borrada e embaçamento;
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Incontinência ou retenção urinária;
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Dormência ou formigamento em diferentes partes do corpo;
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Rigidez muscular e espasmos;
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Problemas de memória, de atenção e na compreensão de informações.
Ter um ou mais dos sinais e sintomas relacionados não significa que a pessoa tem esclerose múltipla, já que eles são bastante similares a outras condições neurológicas. Por isso, é muito importante consultar um médico para ter o diagnóstico correto, a indicação do melhor tratamento para o caso e entender se a cannabis pode ser um agente benéfico para o caso.
Como a cannabis age na Esclerose Múltipla
A Esclerose Múltipla, ao longo dos anos, pode fazer com que o paciente desenvolva problemas relacionados a dores crônicas e ao aumento da atividade inflamatória no corpo. Como já falamos aqui no blog, segundo pesquisas, a planta age diretamente no nosso sistema endocanabinoide, mais especificamente em nossos receptores endocanabinoides.
Os nossos receptores endocanabinoides (CB1) se encontram espalhados em várias estruturas importantes para a dor no nosso cérebro, em áreas como o cinza periaquedutal, o núcleo do trigêmeo espinhal, a amígdala e os gânglios da base. Assim como eles, os receptores CB2, fora do sistema nervoso central, também estão ligados à supressão da dor.
Diante disso, estudos apontam que, em situações onde o paciente não responde mais aos tratamentos convencionais que já existem ao longo de décadas, como no caso do antiespásticos, relaxantes musculares ou benzodiazepínicos, os medicamentos à base de canabinoides têm sido um tratamento alternativo para a dor e espasticidade na EM, devido sua ação sedativa no sistema nervoso central.
Mesmo com todos os avanços recentes da medicina, ainda não existem terapias que consigam promover a cura da esclerose. Nesse caso, as opções de tratamento baseiam-se na prevenção dos surtos, onde é recomendado às mudanças de hábitos alimentares, exercícios físicos, acompanhamento psicológico e uso de imunomoduladores para que a doença não avance.
No caso da utilização da maconha na esclerose múltipla, seu uso é debatido no tratamento sintomático e preventivo, já que estudos comprovam que o uso de derivados da Cannabis sativa, tais CBD e o THC, podem ser aliados no tratamento da doença possibilitando aos pacientes decréscimo da liberação de citocinas inflamatórias, diminuição da apoptose celular, da espasticidade muscular e da dor neuropática.
Pesquisas demonstram ainda que a espasticidade é uma das características principais da esclerose múltipla, paralisia cerebral e lesão medular. Logo, sintomas relativos a tremor, ataxia e incontinência contribuem diretamente para a elevada incidência de depressão e ansiedade, em tais condições.
Como já sabemos, os derivados de cannabis (principalmente em sua forma full-spectrum) podem ser aliados nos tratamentos de transtornos mentais e psiquiátricos decorrentes de diferentes diagnósticos, como a EM e o câncer, que geralmente estão relacionados à:
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Depressão;
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Ansiedade;
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Insônia.
Ainda existem muitos estudos em andamento que focam nos poderes neuroprotetores tanto do THC quanto do CBD, que têm o potencial de desacelerar (ou até interromper) o processo degenerativo das células. Essa propriedade é bastante interessante para o tratamento de outras doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer e o Parkinson, mas ainda faltam referências que mostrem especificamente a sua ação no caso da EM.
Portanto, no momento, a cannabis pode ser considerada um agente de tratamento dos sintomas da doença, mas não uma possível cura para a condição.

Como conseguir a medicação no Brasil
Mesmo que a cannabis seja proibida no país, pacientes podem conseguir acesso a ela através da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Atualmente, é o órgão que regula a entrada de medicamentos à base de maconha no Brasil, e é necessária uma autorização especial para poder efetuar a compra desse tipo de remédio.
Além da importação, existem ainda outras opções, como as associações de pacientes de cannabis medicinal. Elas são hoje, no Brasil, grandes responsáveis pelo desenvolvimento de políticas públicas e pela pressão às autoridades na regulamentação adequada da planta. Essas organizações civis de pacientes e familiares que precisam da medicação por inúmeros motivos ajudam a facilitar o acesso a ela por meio de aconselhamento legal e jurídico, cursos e workshops de como plantar e desenvolver sua medicação, ou até mesmo de distribuição de medicamentos.
O que pode ajudar no tratamento?
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Tire um tempo para entender a condição, assimilar seu diagnóstico e tomar o controle no gerenciamento da doença. O maior objetivo é manter sua qualidade de vida;
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Pesquise sobre o tipo de sua enfermidade e fique atento às suas manifestações. Fazer um diário e anotar possíveis sintomas é uma boa alternativa;
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Evite desconsiderar sinais, mesmo que pequenos ou súbitos, e busque orientação médica o mais rápido possível;
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Siga o tratamento na forma indicada por seu(s) médico(s) e compareça às consultas regularmente;
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Mantenha uma dieta saudável. Embora não exista uma dieta específica para pessoas com EM, uma alimentação balanceada previne outros problemas de saúde, como doenças do coração e constipação, e ainda melhoram o funcionamento geral do organismo;
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Invista em atividades físicas aeróbicas, alongamento e musculação. Fale com seu médico antes de iniciar qualquer atividade para saber quais são as melhores opções no seu caso;
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Você pode complementar seu tratamento com outras práticas da medicina tradicional ou complementar. Ioga, meditação e mindfulness ajudam no controle de sintomas como dor, ansiedade e depressão, e podem ter um efeito positivo no seu quadro;
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Busque apoio familiar, psicológico ou social para manter as emoções em equilíbrio. Com o apoio de outras pessoas, fica mais fácil lidar com o tratamento e com os sintomas;
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Evite interromper o uso de qualquer medicamento por conta própria. Essa medida pode agravar a doença.
Gostou dessas informações?
Acreditamos que falar sobre a EM é essencial para desmistificar a doença, facilitar diagnósticos precoces e espalhar informações sobre os possíveis tratamentos
– principalmente com a cannabis, essa planta que tem o nosso coração e que ainda pode beneficiar muitos.
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Até a próxima!