Delta-8-Tetrahydrocannabinol é uma das diversas substâncias presentes na nossa plantinha favorita. Mas o que ele tem de tão especial? Aqui, a gente te conta!

Embora o THC e o CBD tenham sempre ganhado um destaque especial na hora que o assunto é cannabis, não podemos esquecer de que a planta é composta por milhares de outras substâncias – que variam de espécie para espécie e fazem com que cada uma ofereça sensações e benefícios diferentes. Atualmente, outro canabinoide entrou em cena e está sendo estudado por suas propriedades terapêuticas: o Delta-8-Tetrahydrocannabinol (ou delta-8 THC, para os mais íntimos).

Mas existem muitas perguntas que precisamos responder quando pensamos no delta-8 THC. O que exatamente ele é e o que faz? Para quê serve? Onde vive? Do quê se alimenta?

Brincadeiras à parte: esse canabinoide pode começar a aparecer mais e mais por aí, e é importante estarmos bem informados para entender como ele age e como ele pode ser usado terapeuticamente.

Vamos aprender mais sobre ele? Vem com a gente!

Edit: desde a publicação do texto, estados como Alaska, Arkansas, Arizona, Colorado, Delaware, Idaho, Iowa, Mississippi, Montana, Rhode Island e Utah baniram o delta-8 THC pela falta de medidas regulatórias e pesquisas sobre a substância.

O que é o delta-8 THC?

O delta-8 é um composto de cannabis que se tornou popular devido à sua semelhança com o THC, principal agente psicoativo da cannabis. O THC é o que causa aquelas sensações de euforia, felicidade, sedação, e outras tantas, que dependem também da quantidade e da interação com outros componentes da strain.

Mas não vamos confundir: o THC que mais ouvimos falar é o delta-9-tetrahidrocanabinol, ou delta-9 THC, ou apenas delta-9. Já o delta-8 é a abreviação de delta-8-tetrahidrocanabinol ou delta-8 THC. O Delta-8 THC pode causar efeitos semelhantes ao delta-9 THC regular – mas eles são bem menos potentes.

Delta-8 e delta-9 são duas formas de THC. Geralmente, quando as pessoas se referem apenas ao THC, elas estão falando sobre delta-9 THC.

Nos Estados Unidos, a legalidade do delta-8 é um assunto nebuloso. Ele pode ser extraído tanto do cânhamo quanto da cannabis e, por causa da lei agrícola de 2018, o cânhamo pode ser cultivado legalmente e usado para extrações em todo o país. Isso torna o delta-8 legal em estados onde o delta-9 THC é ilegal – às vezes.

Quase todo o delta-8 THC no mercado estadunidense hoje é fabricado a partir de CBD derivado do cânhamo, o que o torna, pelo menos em teoria, parte de uma cadeia de origem legalmente federal. Muitos extratores estão aumentando a produção do delta-8 para atender a essa nova demanda e enviá-lo para todos os Estados Unidos, e esse é um dos principais motivos pelo qual ele está sendo tão estudado.

Quais as diferenças entre delta-8 e delta-9 THC?

O delta-8, assim como o delta-9 (THC regular), é absorvido pelo nosso sistema endocanabinoide do corpo, que nos faz sentir a chapadeira. Quimicamente, o delta-8 e delta-9 são bem parecidos, pois ambos possuem uma ligação dupla em suas estruturas. Acredita-se que essa dupla ligação é o que produz os efeitos psicoativos que fazem a gente chapar ao usar a cannabis.

Mas os dois THCs são quimicamente diferentes na colocação da ligação dupla. Ambos os canabinoides têm uma cadeia de átomos de carbono, mas o delta-8 tem a ligação dupla no oitavo carbono, enquanto o delta-9 a tem no nono (a falta que faz prestar atenção na aula de química para entender esse papo, né?).

Assim, o delta-8 liga-se ao sistema endocanabinoide de uma maneira ligeiramente diferente devido à localização de sua ligação dupla. Isso é o que torna o delta-8 muito menos potente do que o THC normal!

E quais as suas propriedades?

Em estudos recentemente divulgados, alguns dos destaques entre os benefícios do delta-8 THC são:

• Analgésico natural;

• Aumenta o apetite;

• Propriedades neuroprotetoras;

• Alivia a ansiedade;

• Alivia a náusea;

• Alivia o estresse;

O delta-8 não foi tão amplamente estudado como os principais canabinoides, como o CBD e o delta-9 THC, principalmente porque é mais difícil de isolar, extrair e obter amostras suficientes para as pesquisas. Mas o que temos até agora já é bastante promissor!

Um estudo mostrou como ele tem um poder analgésico único sobre dores. Os analgésicos são diferentes dos anti inflamatórios, pois interrompem a linha de comunicação entre o cérebro e os nervos que transmitem mensagens aos nossos receptores de dor. No entanto, o delta-8 também parece ter atividade anti inflamatória, o que significa que ele pode ter ação dupla na hora de aliviar desconfortos físicos.

Outra propriedade estudada está relacionada ao apetite. Os usuários de cannabis sabem que o THC pode aumentar o apetite – a famosíssima larica. Portanto, não é muito surpreendente que o delta-8 possa atuar como um auxiliar do apetite, o que pode ser ótimo para pessoas em tratamentos de doenças e condições que causam a perda da fome.

Além disso, algumas pesquisas sugerem que a substância pode ter propriedades neuroprotetoras, assim como o CBD. Isso significa que ela pode preservar o bem-estar geral dos neurônios no cérebro e desempenhar um papel no controle da epilepsia, que é causada pela atividade elétrica dentro do sistema neurológico.

Outros estudos mostraram benefícios diversos, incluindo poderes ansiolíticos (alivia a ansiedade) e antieméticos (anti-náusea).

Possíveis efeitos colaterais

Embora esteja sendo mais e mais estudado, o que já se sabe sobre o canabinoide é majoritariamente baseado em estudos com animais. Pesquisas em animais indicaram que o delta-8 THC (junto com o delta-9 THC) resultou no aumento da pressão arterial ao contrair temporariamente os vasos sanguíneos. O aumento da pressão arterial foi seguido por uma queda na pressão arterial e uma frequência cardíaca mais lenta.

Mas os efeitos observados em animais podem ser muito diferentes dos efeitos em humanos, conforme mostra uma revisão sistemática de 2018 publicada na Pharmaceuticals. Nesse caso, enquanto o delta-8 THC diminuiu significativamente a frequência cardíaca em animais, ele aumentou a frequência cardíaca em humanos. Os autores da revisão concluíram que há dados limitados sobre os efeitos do delta-8 THC e mais estudos precisam ser realizados em populações humanas para entender como ele induz mudanças no fluxo sanguíneo.

Como ele age no efeito entourage?

Se você é leitor assíduo aqui do blog, já deve saber o que é o efeito entourage. Mas vamos recapitular rapidinho: o efeito entourage é o princípio de que todas as substâncias contidas na cannabis atuam em conjunto, desde o CBD e o THC até outros canabinoides, terpenoides, flavonoides e outros compostos presentes na plantinha.

Este efeito pode criar resultados terapêuticos melhores quando se utiliza um extrato full spectrum em comparação com o THC isolado. Embora o conhecimento sobre o efeito entourage seja baseado no delta-9 THC, a semelhança molecular do delta-8 THC também pode significar que ele produz efeitos melhores quando ingerido como medicamento com outros canabinoides e componentes da erva.

Enquanto alguns concentrados delta-8 THC isolados existem, outros produtos podem combinar delta-8-THC com CBD ou delta-9 THC para um efeito de espectro mais completo.

Mais pesquisas são necessárias, no entanto, para obter insights detalhados sobre o efeito entourage do delta-8 THC e se sua presença ajuda a mediar os efeitos de outros canabinoides.

Usar o delta-8 THC é viável no Brasil?

Bom, pode ser que sim, mas pode ser que não. Como temos visto ultimamente, a abertura do país para a comercialização de extratos de CBD (como medicamento ou mesmo complemento fitoterápico) pode abrir essa possibilidade com o tempo. Entretanto, enquanto vivermos em um país proibicionista, o acesso a esse tipo de concentrado fica muito restrito à elite e pessoas com melhores condições financeiras.

Resolvemos falar sobre esse assunto por ainda ser um tema bem nebuloso, mesmo na comunidade canábica. Por ele vir do cânhamo, ele poderá ser possível em um futuro breve – e queremos informar antes desses produtos chegarem ao mercado. Além disso, também pode ser uma maneira de “burlar” o proibicionismo e usar um extrato com efeitos mais psicoativos, principalmente para quem já tem autorização de importação da Anvisa e receita médica.

O que devemos fazer:

1) Seguir lutando para que haja uma regulamentação no Brasil, não apenas para melhorar a acessibilidade ao medicamento para quem precisa como também para podermos atestar a qualidade de tudo que está sendo consumido.

2) Ficar de olho em produtos do mercado paralelo que afirmem ter esse composto. Infelizmente, assim como no comércio ilegal de ganja, muita gente leva gato por lebre, a mesma coisa pode acontecer nesses casos.

E aí, o que você achou desse canabinoide que tá dando o que falar? Curtiu conhecer mais sobre ele?

Atualizado em: 30/05/2021.