Coluna Makana

Fogo nos racistas!

Fogo nos racista! Um diálogo entre Djonga e Karl Popper.

Texto por: Marcio Makana

Em 2017 a frase icônica do artista Djonga marcou a história do RAP nacional. Desde a origem o movimento Hiphop foi, também, um instrumento de denúncia contra os abusos sofridos pela comunidade negra. Denunciar racismo no RAP não era novidade. Porém, “o menino que queria ser Deus” conhece a emergência dessa luta e soube chamar a atenção gritando a plenos pulmões:

FOGO NOS RACISTAS!

Essa frase de fato causa impacto. Porém, quando observamos com mais profundidade percebemos que essa música fala sobre intolerância. Sobre como o rapper é uma pessoa intolerante.

Intolerante aos intolerantes, mais precisamente. Eu vou explicar.

Segundo Karl Popper, filósofo austríaco, existe um conflito de interesses observado em diversas sociedades. Popper, batizou esse conflito de “Paradoxo da Democracia”. O intelectual europeu aponta que na disputa entre pessoas tolerantes (abertas ao diálogo e aceitação) contra pessoas intolerantes (que não aceitam o diferente), os INtolerantes levam vantagem. Justamente por serem intolerantes usam da sua liberdade em forma de violência (física, verbal ou digital atualmente) para silenciar os outros, pois não concordam com suas ideias. Assim, os intolerantes impõem a sua vontade. Vimos isso na Alemanha Nazista, por exemplo.

Capa do CD “O Menino Queria Ser Deus” - Djonga
Capa do CD “O Menino Queria Ser Deus” – Djonga

Agora vamos trazer esse paradoxo para a realidade do nosso país.

Sabemos que o racismo é uma realidade no Brasil. Vemos esse preconceito escancarado quando observamos o número de jovens pretos vitimados pela polícia todo ano, principalmente nas favelas. O racismo mata pessoas diariamente. Isso é uma dura realidade.

O preconceito racial é uma intolerância a pessoas de pele mais escura. Ou seja, essa intolerância racial, por ser aceita, contribui para morte de pessoas pretas na estrutura racista da nossa sociedade.

O racismo estrutural é um sintoma dessa intolerância. Quando na música o artista diz “quem tem minha cor é ladrão/quem tem a cor de Eric Clapton é cleptomaníaco” ele sintetiza essa perseguição que o jovem negro sofre, evidenciada em estatísticas quando o mesmo delito tem dimensões diferentes dependendo da cor da pele do infrator. A lei é mais severa (e abusiva) com pretos e pobres. A polícia mata mais na favela.

Já que a intolerância racial causa tantos prejuízos a maneira de combatê-la é a conclusão do paradoxo de Popper: não podemos tolerar os intolerantes. Devemos ser intolerantes com os intolerantes.  

Precisamos combater as práticas e as pessoas racistas para que assim seja possível diminuir essa desigualdade. O artista usa da sua licença poética para dizer isso. Precisamos reduzir o racismo a cinzas pois ele segue matando gente preta. Os racistas, pessoas que propagam racismo, tem que ser confrontadas para afastarmos essas posturas. “FOGO NOS RACISTA!” dialoga diretamente com isso.

No final do som, Djonga faz questão de ressaltar o quão potentes são as pessoas pretas. Cita o fenômeno do boxe Floyd Mayweather. E encaminha a conclusão dizendo que “os pretos tá tão no topo que para abater só um caça da força aérea”. Isso resume o lógico: quando pessoas pretas alcançam oportunidades também são capazes de construírem histórias incríveis. O racismo nos diminui de tal maneira que nos obriga a lembrar isso à sociedade. Por isso também ainda é tão fundamental exaltarmos os nossos.

Como fez Beyoncé na sua última música “Black Parade” lançada dia 19 de junho (vamos falar disso na semana que vem). 

Sendo assim, conseguimos entender que a expressão cunhada pelo rapper mineiro quando devidamente analisada mostra toda sua força e importância na luta antirracista.

Vamos juntos contra a intolerância! Pois como disse semana passada:

O futuro só não tolera o atraso. 

Grande abraço a todes, até semana que vem e

FOGO NOS RACISTAS! 

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