Entenda o que é chemsex e porque a popularização da prática tem preocupado os adeptos da Redução de Danos!
Tanto o sexo quanto as drogas podem, sim, ser fontes de prazer para o ser humano. Afinal, se não fossem, não seriam tão populares! Mas o que acontece quando unimos ambos? Aí surge o chemsex, ou chemical sex — traduzindo do inglês, seria algo como sexo químico. Adeptos costumam ressaltar que o uso de substâncias ajuda na desinibição e até nas práticas sexuais menos convencionais, como BDSM e afins.
Mas, embora a mistura não seja exatamente uma novidade para ninguém, ela veio se popularizando durante a pandemia e traz várias preocupações. Isso porque, sem o devido cuidado, ela pode acarretar problemas que vão desde a desidratação até a exposição a Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) e HIV.
Por isso, é essencial falarmos sobre a prática de chemsex, entender seus riscos e como podemos usar da Redução de Danos para diminuí-los. Essa mistura não precisa ser, necessariamente, um perigo. E a gente vai explicar direitinho o porquê!
Vem com a gente!
Como funciona o chemsex?
O conceito de chemsex é, basicamente, usar substâncias psicoativas para fazer sexo.
“Meninas, então fumar um beck antes de transar é chemsex?”
Se formos usar o termo de uma maneira bem genérica e simplista, pode ser até que esse ato se encaixe na definição. Mas geralmente o sexo químico envolve outros elementos. Por exemplo, dentre as características mais comuns no contexto atual da prática, podemos citar que:
- É o uso de substâncias com a finalidade específica de fazer sexo;
- Ela é mais comum entre homens cisgêneros gays ou bissexuais, embora, claro, não seja exclusivamente praticada por eles;
- É associada a “uma significativa melhoria da qualidade do sexo, devido à diminuição da inibição e aumento da excitação sexual e prazer”;
- Quando o combo pode ser responsável por relações prolongadas e envolvendo múltiplos parceiros, além de facilitar práticas sexuais mais desafiadoras;
- Durante a pandemia de Covid-19, ela se tornou mais comum aqui no Brasil em comparação a outros países, como Portugal;
- Normalmente, envolve um risco aumentado de exposição a ISTs e HIV, justamente pelo maior número de parceiros sexuais e até mesmo por trocas de seringas.
Tudo isso foi o suficiente para que muitos países entrassem em estado de alerta — antes mesmo da pandemia. A verdade é que, embora seja tentadora e muita gente curta, o rolê não é muito seguro, e pode envolver substâncias e situações mais arriscadas do que o simples ato de acender um beck e aproveitar a noite de love.
Quais são as substâncias mais comuns no chemsex?
São várias as substâncias que podem ser usadas pelos praticantes com a finalidade de prolongar o sexo. As mais comuns são as que, de uma forma ou outra, aumentam os estímulos sexuais no usuário ou usuária, como:
- Maconha;
- Cocaína;
- Ecstasy e/ou MDMA;
- Ketamina;
- Poppers;
- Metanfetamina;
- GHB e/ou GBL.
De todas essas citadas, no entanto, as mais comuns são o GHB (gama-hidroxibutirato), o GBL (gama-butirolactona) e a metanfetamina, também chamada de Tina, Ice, Speed ou cristal.
O primeiro se trata de uma substância anestésica, que traz efeitos desinibidores e mais “controláveis” do que o álcool, por exemplo. Já a metanfetamina, conhecidíssima pelos fãs de Breaking Bad, é um psicoestimulante que traz sensações de euforia e excitação. Esses efeitos aumentam a frequência cardíaca e a pressão arterial do usuário.
“Mas quais os motivos de usar tudo isso para transar?”
Eles podem ser os mais variados possíveis.
Normalmente, o uso de drogas com efeito desinibidor ajuda os praticantes a se tornarem mais abertos e se sentirem mais confortáveis com os próprios corpos, com sua sexualidade e seus desejos. Com eles, fica mais fácil de lidar com o próprio prazer sem vergonhas ou julgamentos. Já os estimulantes são muito visados por intensificarem o desejo e garantirem energia para longas jornadas sexuais.
Quais os riscos da prática de sexo com drogas?
Os desafios dessa prática podem ser complexos, já que ela envolve diferentes fatores de risco.
Mecanismos de fuga. O uso das substâncias em um contexto específico não é novidade. O problema maior é quando ele extravasa esse limite e se torna algo frequente, o que pode causar consequências tanto físicas quanto psicológicas. Se você está passando por isso, pode ser o momento de pedir ajuda profissional.
Desconhecimento das substâncias. O proibicionismo acarreta desinformação, o que torna o uso seguro de substâncias ainda mais difícil. Enquanto algumas drogas, como a maconha, não oferecem risco de morte, outras, como o GHB, podem levar a paradas cardiorrespiratórias e overdose.
Misturas perigosas. Misturar substâncias nunca é uma boa ideia! O uso prolongado de drogas, em combinação, pode trazer riscos aumentados. Aqui, falamos um pouco mais disso e trazemos uma tabela de interações.
Atenção às necessidades básicas. As práticas de chemsex podem ser longas e exaustivas, o que leva muitos praticantes a ignorar a fome, o sono, a sede e até mesmo a vontade de ir ao banheiro. Isso eleva os riscos trazidos pelo uso de substâncias psicoativas, além de resultar em desidratação e fraqueza.
Riscos aumentados de ISTs e HIV. Estudos relacionam a prática de chemsex a um risco aumentado de contrair HIV, seja pelas relações desprotegidas ou mesmo pelo compartilhamento de seringas e apetrechos para usar drogas. Além disso, por ser uma prática prolongada, pode causar ferimentos, que facilitam a contração de infecções sexualmente transmissíveis como clamídia, gonorreia, sífilis, entre outras.
Como reduzir os danos do chemsex
Redução de Danos começa com informação! A gente acredita que o uso de drogas é comum nas mais diversas situações, e que precisamos quebrar esse tabu. Então, bora fazer uma apologia ao cuidado para mitigar os riscos de práticas que envolvem sexo e drogas?
Para começar, procure entender o que você está usando. Sim, é muito fácil se deixar levar pelo calor do momento e fazer a festa num verdadeiro buffet de substâncias. Mas você precisa primeiro saber muito bem o que elas podem causar ao seu corpo e quais os cuidados que você precisa tomar.
- Na nossa série Maconha e Outras Drogas, falamos sobre algumas das substâncias mais comuns aqui no Brasil e estratégias de RD atreladas ao seu consumo.
Evite a prática de chemsex com desconhecidos. Além de aumentar as chances de exposição a uma doença, também coloca você em situações diversas de vulnerabilidade. Proteja-se.
Falando em proteção: sexo sem camisinha é roubada, né? E não é apenas o preservativo que pode ajudar você a não arriscar a saúde sexual. Tanto a Profilaxia Pré quanto a Pós-Exposição (PEP e PrEP) podem salvar. A PEP é a utilização de antirretrovirais durante 28 dias seguidos, logo após a exposição, que pode reduzir o risco de infecção pelo HIV. Já a PrEP consiste no uso regular de antirretrovirais, ou seja, tomar remédio todo dia, para evitar uma eventual infecção.
Durante a prática, use alarmes para se lembrar da alimentação e hidratação. Existem drogas que aumentam a temperatura corporal — então, beber água é lei!
Não compartilhe ferramentas de uso de substâncias. Agulhas e canudos devem ser descartáveis e/ou pessoais, e não devem ser usados por mais ninguém além de você.
Procure um médico. Faça testagens regulares e cuide bem do seu corpo. Você só tem esse!
O uso de drogas não precisa ser um bicho de sete cabeças, mas, para isso, a gente também tem que se ajudar. Consumir substâncias com consciência é reduzir o risco de ter uma dor de cabeça bem grande no futuro. E a gente não quer isso, hein?
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Até a próxima!
A mulher enfrenta mais problemas sexuais de origem externa, enquanto os homens enfrentam mais problemas internos. Acho que isso explica a maior quantidade de chemsex entre homens cis. São tabus internalizados fortíssimos, como por exemplo toda a narrativa da “viadagem” e uma idealização da masculinidade (Cowboy marlboro).
Gostei do post, porém, acho que o alcool tinha que estar no topo da lista, e com caps lock, hahahaha. Só pq é a droga de escolha do hétero não significa que não é uma droga potente que distorce a realidade.