O charas foi o primeiro haxixe produzido no mundo, e nós somos fascinadas pela história que envolve essa sabedoria. Afinal, ela permitiu que diversos outros tipos de extração surgissem! Vem saber mais sobre esse tema com a gente.
Se você é um maconhista experiente, provavelmente já ouviu falar, viu ou até experimentou charas. Esse haxixe, nascido e criado na Índia, tem uma história extremamente rica, permeada por ritos religiosos e lendas antigas que o tornam sagrado para algumas culturas. Foi através dele também que começou a tradição dos haxixes e concentrados canábicos, que avançaram com a ajuda de novas tecnologias até se tornarem a febre que são nos dias de hoje.
O mais interessante, que diferencia o charas de qualquer outro hash, é que tudo o que você precisa para fazê-lo é: cannabis e suas mãos. Isso torna ele uma das extrações mais fáceis e seguras de fazer por quem está começando a se aventurar nesse mundo.
Neste post, trouxemos um apanhado de informações, que vão desde o conceito e surgimento do charas, informações sobre as tradições do consumo e até tutoriais fáceis de como fazê-lo e usá-lo. Vamos aprender mais sobre isso? Vem com a gente!
O que é o charas e como ele surgiu?
A história da cannabis é milenar e começa na Ásia Central. Há evidências do uso da maconha e dos derivados de cânhamo em diversas civilizações desde o surgimento da humanidade. Ele era tanto medicinal, aconselhado em caso de insônia, dores musculares e também em casos de paralisia e convulsões, como também religioso. Foram encontradas evidências do uso de maconha em um cemitério da Ásia Central de 2,5 mil anos atrás.
Ainda não existe um “berço oficial” da maconha: Índia, Paquistão e Afeganistão disputam esse título. Pesquisadores sabem que foi entre o norte do Afeganistão e as montanhas dos Himalaias, onde ela cresce até mesmo sem ser plantada (as famosas landraces). Mas a história indiana e suas tradições estão extremamente ligadas à planta. Nos Vedas, livros sagrados do hinduísmo, ela é considerada uma das cinco plantas sagradas, e os escritos a descrevem como libertadora de ansiedades, fonte de prazer e alegria.
E foi por lá, no norte da Índia, que surgiu o charas, uma extração de tricomas que se diferencia por ser totalmente artesanal – como já mencionamos, ele é feito usando apenas as mãos. Um dos seus principais diferenciais quando comparamos com outros tipos de haxixe é que ele é feito com a planta ainda viva: as flores e folhas são colhidas cerca de duas semanas antes da maturação completa, o que as torna ainda mais ricas em THC.
Tradicionalmente, ele também é feito com plantas locais que crescem adaptadas às regiões que se encontram, majoritariamente plantas indicas. Na maior parte das vezes, em montanhas com paisagens paradisíacas.
Algumas de suas principais características são:
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O charas é um marrom bem escuro quase preto por fora, e geralmente verde escuro ou marrom por dentro.
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Tal extrato é feito com plantas ainda vivas! O que deixa o perfil de terpenos desse haxixe algo muito especial.
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Ele é macio e pode ser manipulado facilmente. Quando seco, pode esfarelar mais facilmente.
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O charas é extremamente potente, pois tem uma altíssima concentração de canabinoides – alguns dos originais podem ter até 40% de THC.
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Como é feito manualmente e sem solventes, é uma ótima estratégia de Redução de Danos!
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O charas original é muito raro. Isso porque o processo para produzi-lo é demorado e rende pouco. O preço pode ser bem elevado também por conta disso!
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E um ponto negativo: o rendimento é muito baixo.
Processo de fabricação do charas Fonte: cannaconection
Quais são as principais lendas ao redor desse hash?
Além de ser considerada sagrada nos textos dos Vedas, escritos há mais de dois mil anos, ela tem um papel de destaque em muitos rituais e festividades na Índia. Segundo lendas e contos locais, o próprio deus Shiva consumia charas durante suas meditações nas montanhas.
No país, ele normalmente é vendido em pequenas bolinhas ou bastões, e tradicionalmente é fumado no chillum – uma espécie de cachimbo utilizado pelo monges hindus, os sadhus.
Como já falamos aqui no blog, o significado espiritual deste ritual é comparável à ingestão de vinho tinto pelos católicos. Frequentemente, um chillum é partilhado por um grupo. Cada pessoa dá uma tragada e passa para o seu lado direito. A famosa frase “boom Shankar” vem do uso do chillum.
Os homens sagrados levavam-o em direção à sua testa na hora de acender, convidando o deus Shiva e alguns outros para aproveitar do prazer do hash com eles. Segundo a simbologia hindu, o charas representa a mente, o chillum simboliza o corpo de Shiva e a fumaça representa a influência sagrada dos deuses.
Além do uso do charas, várias antigas lendas hindus falam sobre o deus Shiva e seu consumo de cannabis, especialmente em uma bebida conhecida como bhang. Por exemplo, é contada uma história na qual deuses hindus agitaram o oceano cósmico para acessar o elixir da imortalidade (Amrit). Algumas versões dessa lenda afirmam que a cannabis começou a crescer onde as gotas desse elixir caíram.
Inclusive, é por conta de tudo isso que a Índia foi na contramão do proibicionismo e sempre se mostrou contra ele em convenções internacionais. Embora tenha perdido algumas lutas, o uso tanto da cannabis quanto do charas é tolerado no país.
É possível fazer charas em casa?
Como já contamos, o charas tradicional indiano é artesanal e feito com a planta ainda viva. Para retirar os tricomas, se esfrega a palma das mãos lentamente e repetidamente sobre as flores e folhas próximas a elas, até que todos os tricomas fiquem grudados nas mãos.
Para você ter uma ideia, em oito horas de trabalho, normalmente são extraídas cerca de 12g de charas, e é por isso que ele é tão valorizado por aí! E também o motivo pelo qual pessoas com o seu cultivo pessoal não costumam fazer isso em casa. Se bem que quem nunca limpou a tesoura ou as luvas do trimming, não é mesmo?
Portanto, se você pretende fazer hash assim, prepare-se para um dia de trabalho duro. Para fazer em casa, você vai precisar de:
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Buds (flores) de cannabis de plantas vivas que ainda estejam enraizadas.
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Mãos muito limpas – você não quer germes no seu hash.
Passo a passo de como fazer seu charas:
Primeiro passo: antes de começar, limpe as mãos com muito, mas muito empenho. Para obter os resultados mais orgânicos possíveis, use sabonete não residual e não perfumado para isso – como os glicerinados neutros.
Segundo passo: pegue uma flor de cannabis na mão e remova as folhas ou caules.
Terceiro passo: coloque a flor entre as duas palmas e comece a enrolar suavemente, em um movimento circular. Não aplique muita pressão, ou você pode contaminar seu hash com matéria vegetal.
Quarto passo: você vai começar a ver uma resina grossa e se formando no interior de suas mãos e dedos. Isso é essencialmente o charas. Raspe esse hash em uma superfície limpa e pressione-o para criar um pequeno bloco ou bola. Repita quantas vezes e com quantos buds achar necessário.
Nossa recomendação é que você entenda primeiramente se esse processo todo vale a pena para você. Afinal, são várias horas e muita força investida para poucos gramas de hash. Se você pratica o auto cultivo, pode ser interessante testar!
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Aqui, a gente ensina outras quatro formas de fazer extrações em casa (fica a dica)!
Como consumir charas?
Existem várias formas de consumir hash, e com o charas não é diferente. Você pode usá-lo:
No beck:
Coloque sua flor dichavada (ou outro tipo de fumo) na cuia. Faça uma cobrinha de charas, picote ela e misture bem o conteúdo da cuia. Bole seu baseado normalmente com essa misturinha, sem esquecer da Redução de Danos – seda de qualidade, piteira longa e filtro sempre!
Você também pode enrolar a cobrinha no baseado já fechado, mas pode ser mais difícil de carburar dessa forma.
Algumas pessoas consomem o charas com maconha, e outras com tabaco. Ambos fazem parte das tradições desse consumo. Se você escolher fumar com tabaco, primeiro você deve aquecer o equivalente a um cigarro (sem queimá-lo) para que ele seque e esfarele bem. Faça isso na própria mão ou em uma tigela. Depois, junte o haxixe e misture com os dedos. Transfira a mistura para o recipiente do chillum (onde há uma pequena pedra).
Separe um tecido de preferência de algodão para usar como um filtro embaixo do chillum. Você vai se surpreender em como o algodão ajuda a filtrar algumas toxinas do processo de combustão. E aí estamos é prontes para fumar!
Essa maneira é mais ritualizada e deve ser feita sempre com respeito.
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Aqui, a gente ensina mais formas de usar seu hash – com apetrechos especiais ou até utensílios da sua cozinha!
Cuidados ao usar seu hash
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O ideal é saber a procedência do seu hash e como ele foi feito. O “pretinho” que vemos por aí, aliás, nem sempre é charas original indiano! Geralmente o que circula aqui no Brasil é de origem paraguaia – assim como o prensado.
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Tenha muito cuidado na hora de dosar: as extrações são concentrados potentes de canabinoides, e podem ter muito mais THC do que seu corpo está acostumado. Por isso, comece devagar, vá observando como seu corpo reage antes de consumir mais.
Não use instrumentos improvisados, como canetas ou bong de garrafa pet. Eles podem quebrar o galho, mas vão encher seu pulmão de pedacinhos tóxicos de plástico – e a gente não quer isso.
E aí, gostou de saber mais sobre esse hash tão tradicional e cheio de história? A gente adora o charas e tudo o que ele proporcionou ao mundo – afinal, se hoje nos aventuramos pelo mundo das extrações, é em boa parte por causa dele. Além disso, entendemos o quanto a sua importância histórica e religiosa é mantida através de muita luta, mesmo em meio às pressões mundiais do proibicionismo e da Guerra às Drogas.
Você já provou um charas? Conta aqui pra gente como foi essa experiência!
Também existe uma lenda que não se compra um chillum, se dá! Quem sabe dar de presente um chillum para uma colega próxima pode ser uma opção bonita para fazer o uso ritualístico da cannabis!