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Um terço dos pacientes que apresentam epilepsia não encontram alívio em tratamentos convencionais – e é aí que entra a cannabis! Vem saber tudo sobre como ela pode ajudar nesses casos.

Um problema com muitas causas: as crises epiléticas são muito comuns, e podem atingir cerca de uma em cada cem pessoas. Na maior parte dos casos, as convulsões são fruto de pequenas lesões ou cicatrizes no cérebro, mas também podem ser sinal de algum outro problema – desde acidentes vasculares cerebrais até síndromes causadas por má-formação congênita.

Enão é de hoje que a cannabis é considerada opção no tratamento da epilepsia e de episódios convulsivos. Estudos mostram evidências de seu uso nesses casos desde a antiguidade, e sua retomada aconteceu gradualmente, pelo esforço de muitos médicos e pesquisadores incríveis como o grande Elisaldo Carlini (descanse em paz, Carlini ❤️). Atualmente, já existem remédios aprovados pela FDA e muitas comprovações de que a erva pode ser uma grande chave para quem sofre com essas condições.

Mas como é feito o diagnóstico, quais os sintomas desse problema e como a planta realmente age para tratar a epilepsia? Tudo isso a gente te conta aqui, no nosso quinto post da série de Cannabis Medicinal e Terapêutica! Vem ver mais.

Aviso importante: toda possibilidade de uso da cannabis como medicamento deve ser analisada por um especialista que acompanha o histórico de cada paciente. Esse post não é uma recomendação para a automedicação com a cannabis de qualquer forma. Caso acredite que ela pode beneficiar seu quadro, converse com seu médico.

Flor de maconha com pistilos coloridos

O que é a epilepsia?

A epilepsia é uma condição neurológica bastante comum: segundo a Organização Mundial de Saúde, cerca de 1% da população mundial sofre com a condição. A doença é caracterizada pela ocorrência de crises epilépticas, que se repetem a intervalos variáveis. Essas crises são as manifestações de uma descarga elétrica anormal dos neurônios, que são as células que compõem o cérebro, e resultam na perda da consciência, com movimentos involuntários ou não.

Ela pode ser causada por inúmeros fatores, que variam de acordo com o tipo de epilepsia e com a idade do indivíduo. Em crianças, por exemplo, falta de oxigênio no cérebro durante o parto e alterações metabólicas que existem desde o nascimento são causas frequentes de epilepsia. Já em pessoas mais velhas, doenças cerebrovasculares e tumores cerebrais estão entre as causas mais frequentes.

Seus sintomas podem variar bastante:

  • Em uma crise tônico-clônica, a comum convulsão, a pessoa pode apresentar abalos musculares generalizados, sialorreia (salivação excessiva) e, muitas vezes, morde a língua e perde urina e fezes.

  • Outras crises podem não ser reconhecidas por pacientes, seus familiares e até mesmo por médicos, pois apresentam manifestações sutis, como alteração discreta de comportamento, olhar parado e movimentos automáticos.

  • Em crianças, é comum a ocorrência de crises de ausência, caracterizadas por uma breve parada da atividade que a criança estava fazendo, às vezes associadas a piscamentos ou movimentos automáticos das mãos.

O diagnóstico de epilepsia é dado geralmente quando um mesmo indivíduo apresenta duas ou mais convulsões. Existem diferentes tipos de tratamento para isso: desde as dietas cetogênicas, ricas em gordura, até intervenções cirúrgicas e remédios anticonvulsivos. Mas uma das opções mais promissoras mostradas nos últimos tempos é a cannabis terapêutica em suas mais variadas formas.

Como a cannabis pode ajudar no tratamento

Adivinha onde tá o segredo de tudo? No nosso mágico sistema endocanabinoide!

Os endocanabinoides (canabinoides sintetizados normalmente no sistema nervoso central) têm um papel na diminuição da liberação de neurotransmissores excitatórios, prevenindo assim as convulsões. Eles atuam nos receptores CB1 e CB2, sendo os primeiros expressos por neurônios centrais e periféricos, enquanto os últimos são expressos principalmente por células do sistema imunológico, mas também são encontrados nas células cerebrais.

A perda de ambos os tipos de receptores resulta em uma forma espontânea e mais grave de convulsões – por isso, a cannabis pode ser uma grande chave nesse tratamento.

São muitos os estudos que apoiam essas evidências. Nessa pesquisa, foi feita uma revisão de literatura sobre o assunto, que levanta várias descobertas sobre a ação dos canabinoides na prevenção de convulsões. Um dos primeiros, inclusive, foi feito em 1978 por Mechoulam e Carlini – brasileiro e pioneiro nos estudos sobre a cannabis terapêutica. Nele, quatro pessoas receberam uma dose de 200mg de CBD diariamente por três meses. Dois dos indivíduos tiveram uma melhora de 100% no caso, enquanto um teve melhora parcial e o quarto não apresentou reação significativa.

Em contraste, estudos mais recentes que incluíram mais de 100 participantes mostraram que o uso de CBD resultou em uma redução significativa na frequência das crises. Os efeitos adversos do CBD em geral parecem ser benignos, enquanto os efeitos adversos mais preocupantes (por exemplo, enzimas hepáticas elevadas) melhoram com o uso contínuo de CBD ou redução da dose.

Existem muitos casos em que a cannabis terapêutica opera praticamente um milagre na vida do paciente. Uma das pessoas que já viu e pode atestar isso é a Margarete Brito, fundadora da Apepi (Associação de Apoio à Pesquisa e Pacientes de Cannabis). Com uma filha pequena diagnosticada com síndrome rara, o CBD foi o tratamento mais promissor. Ao compartilhar a experiência com outras mães, ela pode observar situações em que as convulsões, inúmeras por dia, chegaram a zero devido à substância.

CBD, óleo, tintura ou remédio?

Existem diversos tipos de medicação à base de cannabis. Nos Estados Unidos, por exemplo, existe o Epidiolex – um fármaco produzido por laboratórios a partir da planta, que já é aprovado pela FDA. Mas existem também outras formas de consumir a substância – como em óleos e tinturas.

Uma grande dúvida que as pessoas têm em relação ao óleo é sobre a diferença entre o CBD e o full spectrum. Afinal, é melhor ou pior consumir apenas o canabinoide isolado?

A cannabis é uma planta que conta com centenas de ativos, dentre canabinoides, terpenos, terpenoides e outros. Todos eles agem de maneira sinérgica para gerar os melhores efeitos possíveis para quem usa a plantinha. O que acontece quando você tem uma cannabis full spectrum é o chamado Efeito Entourage: com ele, cada substância potencializa os efeitos positivos uma das outras, enquanto suprime os negativos.

Nós sempre acreditamos que uma medicação full spectrum vai ser melhor – mas, infelizmente, o estigma atribuído ao THC pelas suas propriedades psicoativas ainda atinge a sociedade e os pacientes, que acabam se voltando ao CBD isolado.

Mão segurando um frasco de Óleo CBD em uma varanda no Brasil
Óleo CBD no Brasil

Mas como conseguir a medicação no Brasil?

Seja qual for o transtorno ou distúrbio: quando há desejo de fazer um tratamento com derivados da cannabis de maneira 100% legal, é necessário entrar com um pedido de autorização. Desde 2015, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) permite a importação de medicamentos contendo canabinoides, e você pode revisar o processo aqui nesse post.

Quem desejar, ainda pode entender se o autocultivo é uma opção válida para sua realidade. Aqui no blog, nós já falamos muito sobre razões para adotar o autocultivo, e até tiramos as dúvidas sobre o tema com as advogadas da Rede Reforma. Se, para você, essa alternativa soar melhor, você pode entrar em contato com um advogado de confiança e entrar com pedido de Habeas Corpus individual para se proteger perante à lei.

A gente também recomenda que você busque por apoio em associações na sua região, como é o caso da Apepi, que já mostramos aqui, e de diversas outras! Nelas, você vai encontrar médicos que podem receitar a cannabis e pessoas experientes que podem ajudar você em todos os processos.

Bud de maconha do jardim, com céu azul ao fundo
Bud de maconha do jardim

E a cannabis não funciona apenas em humanos…

Nos Estados Unidos, em estados onde a cannabis é regulamentada, também existe um crescimento tanto nas pesquisas como no desenvolvimento de óleos e remédios voltados aos nossos animais de estimação! Em vários casos diferentes, principalmente relacionados à idade, os bichinhos podem desenvolver problemas e passar a ter convulsões. E a cannabis terapêutica já se mostrou benéfica para melhorar a disposição, o apetite e a qualidade de vida de animais idosos, e diminuir as crises convulsivas, caso apresentadas.

É incrível o poder dessa plantinha nas nossas vidas, seja para tratar nossas próprias condições ou dar uma qualidade de vida melhor para quem a gente ama. É fato que o proibicionismo é o maior obstáculo hoje para quem deseja conseguir um tratamento rápido, seguro e barato à base de cannabis aqui no Brasil. E é por isso também que recomendamos que você conheça as associações e contribua como puder com o trabalho dessas pessoas que lutam por uma legislação mais justa e um acesso mais democrático a todos esses benefícios que sempre contamos para você!

Ficou com alguma dúvida sobre esse assunto? Conta pra gente nos comentários!

Até a próxima!

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