Saúde

Como a cannabis pode ajudar indivíduos com dores crônicas

A dor crônica pode ser um sintoma de diversas doenças e síndromes, e se apresentar em quadros leves ou mais graves. Aqui, a gente te conta porque a cannabis é um tratamento promissor nesses casos!

Quando experimentamos uma dor, ela pode ser momentânea ou não. Nos casos em que ela não passa com facilidade, é preciso investigar mais a fundo para descobrir o que está acontecendo. Mas uma coisa é certa: é impossível conviver com ela sem um tratamento adequado. E, segundo pesquisas recentes, a cannabis pode ser uma opção muito promissora!

Aqui no Brasil, o assunto não é tão comentado, mas nos Estados Unidos, existe uma crise crescente devido a alguns dos remédios mais utilizados para sanar os desconfortos da dor crônica. Os opioides, em suas mais variadas formas e rótulos (como morfina e codeína), trazem os diversos efeitos colaterais – e um deles pode ser a dependência. O fato é que, no país, eles já foram a causa de mais de 50 mil mortes apenas em 2019. Por lá, a maconha terapêutica ou medicinal é usada como uma forma de prevenção a esse risco.

Mas como ela pode funcionar e quais outros benefícios elas podem trazer a pacientes que sofrem com condições que causam a dor crônica? Aqui, no nosso terceiro texto da série sobre cannabis terapêutica e medicinal, vamos te contar tudo isso – e um pouco mais! Vem ver o que você precisa saber sobre esse assunto.

Aviso importante: toda possibilidade de uso da cannabis como medicamento deve ser analisada por um especialista que acompanha o histórico de cada paciente. Esse post não é uma recomendação para a automedicação com a cannabis de qualquer forma. Caso acredite que ela pode beneficiar seu quadro, converse com seu médico.

O que é a dor crônica?

A dor crônica é geralmente caracterizada pelos médicos como uma dor que persiste por pelo menos três meses. Outros apontam um mínimo de 6 meses para considerar uma dor como crônica. Por conta dessas variações, acaba sendo muito difícil precisar exatamente em que ponto uma dor aguda (momentânea) se transforma em crônica, e é um fator que pode variar muito dependendo de cada caso.

A dor crônica por ser dividida em dois tipos principais: a dor nociceptiva, ligada a uma lesão no tecido, e a dor neuropática, que se relaciona a alguma lesão nos nervos. 

Em muitos casos, não há uma explicação clara sobre os motivos da dor ainda persistir. As pessoas costumam associar a dor como um sinal de que há alguma doença no corpo.

A condição pode ou não indicar uma doença ou distúrbio. Existem casos que ela pode estar ligada a artrites, diabetes, câncer, esclerose múltipla, ou até síndromes mais raras – como é o caso da Alice, que tem dores crônicas causadas pela espondilite anquilosante. Em outros, ela pode ter um agente oculto, e aparecer sem uma causa específica.

Um problema comum em relação à dor crônica é que tratamentos que costumam funcionar com as dores agudas não funcionam, e em alguns casos chegam a piorar o quadro. Por exemplo, o repouso costuma ser algo indicado para uma dor mais aguda, como em casos de fraturas. Por sua vez, em um caso de dor crônica, o repouso excessivo é contraindicado, já que pode causar enfraquecimento dos músculos e ligamentos.

Para amenizar essa condição, costumam ser usados diversos tipos de tratamentos, como radiofrequência ou bloqueios anestésicos, exercícios físicos, psicoterapia, relaxamento e  acupuntura, acompanhados por medicamentos, como por exemplo anti-inflamatórios, antidepressivos, analgésicos, anticonvulsivantes ou, como vamos ver a seguir, cannabis.

Como a cannabis age na dor crônica

Um dos efeitos mais comentados da cannabis dentro da comunidade médica é o seu poder analgésico, que pode ajudar tanto em casos de dores agudas, como cólicas menstruais, como nas dores crônicas. Nos Estados Unidos, um estudo revelou que 62% das pessoas que procuraram a maconha medicinal usaram a erva para tratar desses desconfortos constantes.

Nesse caso, segundo pesquisas, a planta age diretamente no nosso sistema endocanabinoide, da seguinte forma:

  • Os nossos receptores endocanabinoides (CB1) se encontram espalhados em várias estruturas importantes para a dor no nosso cérebro, em áreas como o cinza periaquedutal, o núcleo do trigêmeo espinhal, a amígdala e os gânglios da base. Assim como eles, os receptores CB2, fora do sistema nervoso central, também estão ligados a supressão da dor.

É importante lembrar que não é apenas o CBD que ajuda o usuário a experimentar a sensação de alívio: o THC também é importante. Ambos os canabinoides agem em conjunto, no que é chamado de efeito entourage, ressaltando as características positivas um do outro e suprimindo os efeitos negativos. Por isso, os medicamentos, as tinturas e óleos full spectrum são sempre mais recomendados.

No estudo citado acima, o grupo respondeu o que eles mais gostaram sobre a cannabis medicinal. 36% das respostas foram sobre benefícios médicos – em maior parte, o alívio da dor. Muitos entrevistados foram altamente favoráveis:

“Muda a percepção e a experiência da minha dor crônica”

“Vai quebrar o ciclo da dor crônica”

“Embora não remova a dor completamente, parece entorpecê-la”

“Eu posso tolerar a dor crônica um pouco melhor”

Alguns chegaram a dizer que foi a maior melhora que tiveram em anos.

Flor de maconha em uma plantação
Flor de maconha

E por que isso é tão importante?

Como falamos no início do post, os Estados Unidos enfrentam uma enorme crise relacionada ao uso de opioides – o tratamento mais receitado para pacientes com dores crônicas até o momento. Cerca de 30% da população mundial sofre com pelo menos um tipo de dor crônica, e 20% dos americanos relatam conviver com o problema. E foi basicamente assim que surgiu e se espalhou essa “epidemia” de medicamentos.

Dados do National Institute on Drug Abuse contam que:

  • Aproximadamente 21 a 29% dos pacientes com prescrição para opioides para dor crônica os usam de maneira indevida;

  • Entre 8 e 12% desenvolvem um transtorno por uso de opioides;

  • Estima-se que 4 a 6% dos que fazem uso indevido de opioides prescritos se voltam para a heroína;

  • Cerca de 80% das pessoas que usam heroína primeiro usaram opioides prescritos de maneira incorreta.

Por causa disso, quase meio milhão de americanos morreram de overdose na última década. Encontrar uma nova maneira de tratar a dor se tornou crucial para o país.

Um crescente grupo de usuários de opioides em todo o país encontra alívio na maconha medicinal. Em 2018, um dispensário de Manhattan fez um estudo piloto de clientes que também usavam opioides. Esses dados preliminares, descobrindo que a maconha ajudou a maioria dos usuários, foram encorajadores o suficiente para estimular um projeto muito maior – o primeiro estudo federal financiado com maconha medicinal para combater os altos números das classificadas dependência de heroína e analgésicos.

Em uma entrevista para a Buzzfeed News, um usuário contou que nunca pensou que a cannabis o ajudaria a largar os analgésicos que ele tomava para dores nas costas. Mas mesmo assim, decidiu tentar. Por causa dela, está sem OxyContin ou qualquer outro opiáceo desde maio de 2015.

O estudo de US $ 238.000 financiado pelo Instituto Nacional de Abuso de Drogas (NIDA) seguirá mais de 10.000 pacientes com maconha medicinal em Nova York nos próximos dois anos para ver se o uso de opioides diminui. Em 2016, já existiam pesquisas colocando a cannabis como um tratamento para dores crônicas< /span> mais seguro e tão eficaz quanto os opioides, com uma chance muito menor de dependência – isto é, da perda de capacidade de gerenciamento da substância por parte do usuário.

Mas como conseguir a medicação no Brasil?

Em qualquer caso, quando há desejo de fazer um tratamento com derivados da cannabis, é necessário entrar com um pedido de autorização. Desde 2015, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) permite a importação de medicamentos contendo canabinoides, e você pode revisar o processo aqui nesse post.

Quem desejar, ainda pode entender se o autocultivo é uma opção válida para sua realidade. Aqui no blog, nós já falamos muito sobre razões para adotar o autocultivo, e até tiramos as dúvidas sobre o tema com as advogadas da Rede Reforma. Se, para você, essa alternativa soar melhor, você pode entrar em contato com um advogado de confiança e entrar com pedido de Habeas Corpus individual para se proteger perante à lei.

Flor de maconha em plantação outdoor
Flor de maconha

Dicas das Girls

  • Se você está com dores persistentes, consulte um especialista para investigar o que pode estar acontecendo.

  • Caso você já tenha um diagnóstico e escolha usar a cannabis, lembre-se que estamos em um ambiente proibicionista, e que você deve avaliar a melhor forma possível, para você, de seguir esse tipo de tratamento.

  • A cannabis também pode ter efeitos negativos para algumas pessoas, principalmente as que possuem algum tipo de predisposição ou histórico de ansiedade e condições similares.

  • Lembre-se também de que a planta conta com diferentes strains – ou seja, espécies com perfis de canabinoides e terpenos específicos. Informe-se bem antes de decidir qual experimentar e tente entender qual delas melhor se encaixa na sua realidade.

  • Como qualquer tratamento, não existe uma receita milagrosa que funcione para 100% dos casos. Por isso, vá com calma, converse com seus médicos e descubra a opção que mais se encaixa em suas necessidades.

Outro lembrete importante!

A forma como você consome a cannabis também diz muito sobre como você sentirá os efeitos da planta. Por exemplo:

  • Pode demorar até 90 minutos para sentir os efeitos de um comestível, mas eles podem durar por até dez horas;

  • Quem vaporiza cannabis pode começar a sentir seus efeitos em até cinco minutos, mas ele começa a passar em cerca de duas horas;

  • Já as tinturas geralmente começam a funcionar dentro de 15 minutos. Seus efeitos podem ser sentidos mais rápido se ela for colocada sob a língua em vez de apenas engolida, e podem durar de duas até seis horas.

Mesmo em um país com políticas proibicionistas, é importante mantermos um diálogo aberto e sabermos que existe essa opção – mais natural e que pode ser até mesmo mais barata do que muitos outros medicamentos. Por isso, continue se informando e lutando por melhores condições de acesso à cannabis medicinal ou terapêutica, que pode ajudar nos mais variados casos, desde doenças comuns a síndromes raras.

Gostaram de saber tudo isso? Esperamos você na próxima, para ainda mais trocas sobre essa temática que merece muita atenção e carinho!

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larissa.tschernev@gmail.com
2 anos atrás

Olá! Tenho dores crônicas na coluna desde adolescente, com dores muito desproporcionais ao problemas que tenho. Uma vida pulando de médico em médico, diagnósticos errados, remédios fortes, pulando de espeixlaits em especialista, entrebtando descrédito por parte de.muitos.medicos, pesquisando por mim ci que posso ter dou neuropática ..até que um dia, há pouco mais de 6 meses descobri a terapia canábica. Passei a me consultar com um médico especialista e tomar o óleo diariamente. Não só as minhas dores diminuiram e passaram a ser.
mais toleraveis, mudando totalmente minha qualidade de vida e me permitindo fazer algo além de trabalhar e deitar com dor no final do dia. Agradeço a pessoas como vc que lutam e divulgam os benefícios dessa plantinha maravilhosa …. Desejando que um dia no Brasil haja legalização e mais pessoas possam ter acesso.

Larissa
Larissa
2 anos atrás

Olá! Tenho dores crônicas na coluna desde adolescente, com dores muito desproporcionais ao problemas que tenho. Uma vida pulando de médico em médico, diagnósticos errados, remédios fortes, pulando de espeixlaits em especialista, entrebtando descrédito por parte de.muitos.medicos, pesquisando por mim ci que posso ter dou neuropática ..até que um dia, há pouco mais de 6 meses descobri a terapia canábica. Passei a me consultar com um médico especialista e tomar o óleo diariamente. Não só as minhas dores diminuiram e passaram a ser.
mais toleraveis, mudando totalmente minha qualidade de vida e me permitindo fazer algo além de trabalhar e deitar com dor no final do dia. Agradeço a pessoas como vc que lutam e divulgam os benefícios dessa plantinha maravilhosa …. Desejando que um dia no Brasil haja legalização e mais pessoas possam ter acesso.