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CANDY FLIPPING: COMBINAÇÃO DE PSICODÉLICOS PODE REDUZIR DANOS?

Candy flipping não é novidade, mas pesquisas recentes indicam que a prática de combinar psicodélicos com MDMA pode ter seus benefícios. Vem entender!

Falar sobre a interação entre diferentes substâncias e os possíveis riscos do poliuso é uma das maiores missões da Redução de Danos. Mas, segundo estudos recentes, existem algumas práticas de combinar drogas que podem até ser benéficas! Esse é o caso da estratégia chamada candy flipping

Enquanto o uso de psilocibina (cogumelos mágicos) ou LSD pode ser incrível, essas viagens nem sempre são livres de efeitos desconfortáveis. No entanto, de acordo com um novo estudo conduzido por pesquisadores do Centro de Medicina Psicodélica da Universidade de Nova York e do Centro de Pesquisa Psicodélica do Imperial College London, combinar psicodélicos com uma pequena dose de MDMA pode reduzir esses sentimentos e realçar aspectos mais positivos da experiência.

Mas o que é candy flipping, como ele é feito e quais as implicações dessas novas descobertas? Aqui, você descobre tudo isso. Vem com a gente!

 

O que é e como é feito o candy flipping?

“Candy flipping” é um termo que se originou no Reino Unido. Ele se refere ao ato de tomar LSD (ou outros psicodélicos, como psilocibina) e MDMA durante a mesma experiência. E essa não é exatamente uma tendência nova, mas uma das combinações de drogas mais antigas e populares por aí! 

Há certo debate online sobre o momento certo de tomar cada substância e o que realmente qualifica um “candy flip”. Tradicionalmente, ele começa com o uso do psicodélico de escolha, seguido pelo MDMA aproximadamente quatro horas depois. 

Mas esse tempo é bem variável: aparentemente, existem pessoas que tomam em um intervalo de duas a cinco horas. Outros tomam ambas substâncias simultaneamente. Mas isso não é tão recomendado, pois seus efeitos atingem um pico em momentos similares e isso não é o desejado.

 

Quais os efeitos do candy flipping?

Segundo estudos, o candy flipping pode tornar experiências psicodélicas menos desafiadoras. Imagem: Tyler Spangler.

De acordo com o estudo publicado na revista científica Nature, usar psilocibina/LSD com uma dose auto-relatada baixa de MDMA foi associado a “experiências desafiadoras totais significativamente menos intensas, tristeza e medo”, escreveram os autores, “além de um aumento na auto-compaixão, amor e gratidão.” Isso, é claro, em comparação com o uso de psilocibina e/ou LSD isoladamente.

Para chegar a esses resultados, os pesquisadores entrevistaram 698 pessoas que haviam usado recentemente psilocibina ou LSD. Dentre essas pessoas, 27 relataram ter usado MDMA em conjunto com os psicodélicos. Analisando as experiências relatadas pelos participantes, juntamente com as doses das substâncias consumidas, a equipe comparou então os efeitos relatados do uso conjunto com aqueles do uso isolado dos psicodélicos.

Descobriu-se que os efeitos variaram consideravelmente de acordo com a dosagem das substâncias. Vamos explicar: o uso de uma dose consederada baixa de MDMA juntamente com psilocibina ou LSD “foi associado a níveis significativamente menores de experiências desafiadoras totais”, em comparação com pessoas que não haviam usado MDMA. No entanto, essa diferença desapareceu quando os participantes usaram doses médias a altas de MDMA. Nesses casos, resultados bem similares foram observados para a tristeza e o medo.

Pequenas quantidades de MDMA também pareceram amplificar as experiências positivas. Elas levaram, por exemplo, a “níveis mais elevados de auto-compaixão, sentimentos de amor e experiências de gratidão.” Lindo, né?

Além disso, essa prática não tornou as experiências com psicodélicos menos místicas ou espirituais. Ou seja: ela reduziu efeitos negativos, mantendo os aspectos positivos de uma viagem psicodélica usual.

 

Por que essas descobertas são animadoras?

Além das implicações do estudo para quem normalmente usa substâncias por aí, essas descobertas também podem permitir que mais pessoas se beneficiem das terapias assistidas com psicodélicos

A pesquisa reconhece que tanto a psilocibina quanto o LSD têm potencial terapêutico para tratar distúrbios da saúde mental. Entretanto, as experiências psicodélicas podem ser difíceis de controlar precisamente. Isso pode deixar tanto os pacientes quanto os terapeutas com um pé atrás.

“Uma preocupação primária associada aos psicodélicos clássicos está relacionada à sua alteração da consciência, que pode variar desde experiências ‘de pico’ altamente positivas até experiências psicologicamente desafiadoras (frequentemente chamadas de ‘viagens ruins’), como tristeza, paranoia e medo’.” 

Em um ensaio clínico, por exemplo, os pesquisadores afirmam que 79% das pessoas relataram sentir tristeza. Outras 56% relataram sentir ansiedade, e 77% relataram sentir sofrimento emocional ou físico. Entre os indivíduos saudáveis que receberam psilocibina, 31% relataram sentir medo forte ou extremo. Outros 22% relataram que uma parte significativa ou toda a sua experiência com psilocibina foi caracterizada por ansiedade ou por pensamentos e lembranças desagradáveis.

Mesmo que a gente saiba que essas experiências difíceis também podem ser benéficas ou terapêuticas, elas podem levar muitos a desistir da terapia com psicodélicos. Nem todos estão prontos para lidar com sensações negativas, ou desejam confrontar traumas de maneira tão aberta.

Ou seja: o candy flipping pode ser uma ferramenta interessante para quem deseja experiências mais leves com as substâncias.

 

Existem possíveis efeitos negativos?

candy flipping
Como toda experiência, um pouco de cuidado pode mitigar efeitos negativos. Imagem: Tyler Spangler.

A maioria dos participantes de uma pesquisa feita na DoubleBlind Magazine relatou rebordoses gerenciáveis imediatamente depois da viagem. Quanto ao dia seguinte ou aos dois seguintes, as respostas foram variadas. Muitas pessoas relataram cansaço ou exaustão. Outras descreveram uma sensação de nebulosidade mental.

Algumas pessoas relataram sentimentos de tristeza ou o de leve depressão nos dias seguintes, principalmente por conta do esgotamento de serotonina que experimentaram devido ao MDMA. Mas pessoas que geralmente praticam candy flip sentem que, após dois ou três dias, essa sensação vai embora e dá lugar a um estado mental mais positivo do que o anterior à experiência.

As dicas para mitigar esses pequenos problemas variam entre:

  • manter a hidratação em dia;
  • tentar descansar adequadamente;
  • comer coisas leves;
  • não usar outras drogas, especialmente álcool, junto ou logo após a experiência.

 

Antes e durante a experiência, lembre-se também de preparar seu ambiente, beber bastante água, ir aos poucos, medir bem suas doses e, se possível, testar suas substâncias antes. É sempre melhor mitigar os riscos do que colher uma bad posterior!

E aí, gostou de saber disso? Não esqueça de nos seguir no Instagram @girlsingreen710 para mais informações sobre maconha, haxixe, psicodélicos, RD e muito mais.

Até a próxima!

 

FAQ

 

O que é candy flip?

Candy flip ou candy flipping se refere ao ato de tomar LSD (ou outros psicodélicos, como psilocibina) e MDMA durante a mesma experiência. 

Como é feito o candy flipping?

Tradicionalmente, o candy flipping começa com o uso do psicodélico de escolha (normalmente psilocibina ou LSD), seguido pelo MDMA aproximadamente quatro horas depois. 

Quais os efeitos do candy flipping?

Segundo pesquisas recentes, o candy flipping pode reduzir experiências desafiadoras com psicodélicos — especialmente relacionadas a medo e tristeza intensos.

Quais os possíveis benefícios do candy flipping?

Por mitigar efeitos negativos e manter efeitos positivos das experiências com psicodélicos, o candy flipping pode ajudar pacientes que desejam experimentar a terapia assistida com psicodélicos mas têm medo de viagens particularmente desafiadoras.

Existem efeitos negativos do candy flipping?

Os efeitos negativos normalmente são parecidos com o de uma rebordose normal, com exaustão, tristeza e nebulosidade mental sendo os mais citados. 

Como mitigar os efeitos negativos de candy flip?

Antes e durante a experiência, lembre-se também de preparar seu ambiente, beber bastante água, ir aos poucos, medir bem suas doses e, se possível, testar suas substâncias antes. Depois, hidrate-se, descanse e coma alimentos leves.

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