Antes de originar a delicinha que alivia sua TPM, o cacau já era venerado como o alimento dos deuses por culturas latinas e mesoamericanas. Vem saber mais sobre ele e suas cerimônias!
Embora o cacau seja mais conhecido na forma de chocolates deliciosos, ou como ingrediente de algumas das melhores laricas do mundo, ele também possui outras propriedades incríveis. Seu nome científico – Theobroma cacao – significa, literalmente, comida dos deuses. Para povos originários antigos, como os Olmecas, a sensação de bem-estar promovida pelo alimento o tornava não apenas medicinal, mas também sagrado. Acreditava-se que ele tivesse poderes especiais, que permitiam eliminar toxinas do corpo e promover o autoconhecimento.
A partir disso, diferentes povos passaram a usá-lo em cerimônias e rituais. Retomados hoje, na modernidade, adeptos da prática o enxergam como uma fonte de cura, conexão e inspiração.
A gente, aqui do Girls in Green, teve a oportunidade de conhecer tudo isso de pertinho no México – inclusive aprendemos a arte de fazer o cacau para rituais! Quer entender mais sobre essa sabedoria ancestral e toda a ciência por trás disso? Nesse post, vamos contar 7 coisas que você precisa saber sobre o cacau, seus usos ritualísticos e cerimônias.
Vem com a gente!
1. De onde vem essa tradição?
Evidências arqueológicas do uso do cacau remontam a 3.900 anos atrás na América Central – e, embora muitos pensem que o México é o berço do fruto, evidências genéticas recentes datam o uso do cacau a 5.300 anos atrás na Amazônia. Ainda assim, o uso dele pelos povos mesoamericanos é melhor documentado.
Sabemos que para os Olmecas, Zapotecas, Maias e Astecas, o cacau era uma planta de importância central: ele é mencionado extensivamente no Popul Vuh, a história da criação maia, e pode ser encontrado em muitas gravuras que retratam oferendas e rituais. Sabemos que:
- a planta começou a ser cultivada pelos Olmecas, e havia grandes depósitos de grãos de cacau;
- o cacau era usado como moeda por alguns desses povos originários,e valia mais do que ouro (alô, Sílvio Santos!);
- era um símbolo de abundância, usado em rituais religiosos dedicados a Quetzalcoatl (para os Astecas) ou Chak Ek Chuah (para os Maias);
- também era usado na hora do funeral das elites como oferenda;
- o fruto era consumido em uma bebida – em alguns casos, destinada apenas a guerreiros e nobres.
Embora os rituais sejam muito antigos, pouco se sabe sobre eles, tanto pela falta de registros quanto pelo genocídio (físico e cultural) conduzido pelos espanhóis em sua chegada às Américas. Atualmente, o que existe é uma tentativa de resgate dessa relação sagrada entre nós, seres humanos, e o espírito do cacau – afinal, as culturas originárias acreditavam que cada planta carregava uma alma eterna.
2. Qual o principal princípio ativo presente no cacau?
A principal responsável pelos efeitos do cacau é a teobromina, um alcaloide da mesma família que a cafeína e que, assim como ela, também tem poderes psicoativos. Isso significa que ela possui, sim, efeitos no nosso sistema nervoso central (SNC)!
Teobromina é um estimulante leve, que aumenta a energia, o foco e a concentração. Ela ainda conta com poderes vasodilatadores, que melhoram a circulação sanguínea (e daí vem seus créditos como afrodisíaco).
Entretanto, estudos mostram que, em comparação com a cafeína, a ação psicoativa da teobromina é considerada fraca. Ela pode causar mudanças no humor e aumento do estado de alerta, mas somente em doses de cerca de 560 mg – quase três vezes a dose necessária para que a cafeína induza efeitos similares.
Atualmente, são poucas as pesquisas que exploram os potenciais da teobromina em um nível mais elevado. Entretanto, estudos preliminares mostram um possível poder neuromodulador, que pode ajudar na prevenção de condições como o Alzheimer. Incrível, né?
Mas assim, vamos lembrar: cacau e chocolate são coisas diferentes. No cacau puro, as concentrações de teobromina são muito maiores do que no chocolate – versão processada do fruto. Também existem suplementos de teobromina, que podem ser uma boa opção para quem deseja entender seus efeitos de maneira mais empírica!
3. Além de tudo, ele é um superalimento!
A ação do cacau está longe de ser provocada apenas pela teobromina. O fruto conta com mais antioxidantes fenólicos do que a maioria dos outros – o que deu a ele o título de superalimento. Merecidíssimo, né? Aqui, a gente lista alguns de seus principais efeitos, de acordo com esse estudo bastante completo:
- Seus flavonoides, incluindo catequina, epicatequina e procianidinas predominam na atividade antioxidante.
- A epicatequina do cacau é o principal responsável por seu impacto favorável na circulação – por meio de seu efeito na regulação positiva tanto aguda quanto crônica da produção de óxido nítrico. É um efeito de vasodilatação parecido com o da maconha, inclusive!
- Outros efeitos cardiovasculares são mediados pelos efeitos anti-inflamatórios dos polifenóis do cacau.
- Além disso, os efeitos antioxidantes do cacau podem influenciar diretamente a resistência à insulina e, por sua vez, reduzir o risco de diabetes.
- Além disso, o consumo de cacau pode estimular mudanças nas vias de sinalização responsáveis pelas respostas imunes do nosso corpo.
- O cacau ainda pode proteger os nervos de lesões e inflamações, proteger a pele dos danos oxidativos da radiação UV em preparações tópicas e ter efeitos benéficos na saciedade, função cognitiva e humor.
Como o cacau é predominantemente consumido como chocolate, os pesquisadores alertam para potenciais efeitos prejudiciais do consumo excessivo. Mas no geral, as pesquisas até o momento sugerem que os benefícios do consumo moderado de cacau ou chocolate amargo provavelmente superam os riscos!
4. Como são os rituais com cacau?
Como já falamos lá no início do texto, não existem registros claros de como eram as cerimônias ancestrais, e o que existe hoje é uma tentativa de resgate. Por isso, não existe uma fórmula rígida, e sim alguns elementos principais que uma cerimônia do cacau pode envolver. Normalmente, o ritual é organizado por uma ou várias pessoas treinadas na preparação do cacau e na manutenção do espaço sagrado.
Se você foi convidado para uma cerimônia de cacau e não tem ideia do que está prestes a acontecer, aqui está o que você pode esperar:
- Primeiro, é criado um espaço sagrado, com ou sem um altar;
- Depois, se abre um círculo, no qual as pessoas sentam e mentalizam suas intenções;
- O cacau é servido e distribuído. Normalmente, o condutor da cerimônia fará uma espécie de “prece”, honrando o cacau, seu espírito e os espíritos ancestrais;
- Apenas então o cacau é bebido;
- Pode haver técnicas de respiração, meditação, viagem sonora, dança, música… a partir daqui, cabe a quem conduz a cerimônia do cacau escolher a(s) ferramenta(s) que prefira utilizar para amplificar e manifestar as intenções criadas pelos participantes;
- Ao fim, fecha-se o círculo e acontece a integração da experiência.
Assim como as cerimônias de ayahuasca, elas podem assumir diferentes formas dependendo de quem a conduz. Mas tenha sempre certeza de que você está em um grupo sério e confiável, que respeita a tradição e a espiritualidade envolvida no processo!


5. Como ele é preparado?
A preparação do cacau também pode ser feita de diferentes maneiras – mas, aqui, a redatora que vos fala vai contar a forma que foi ensinada lá no México. Você vai precisar de:
- Grãos de cacau cru (1kg é o bastante para várias preparações);
- Um litro de água;
- Canela, especiarias e/ou mel à gosto.
Passo a passo:
Primeiro, você deve tostar o cacau. Coloque os grãos gradualmente em uma panela e aqueça-os até que estourem. Sim, eles fazem uma pequena explosão!
O segundo passo é descascar os grãos de cacau. Com eles cozidos, a casca se solta bem facilmente nas suas mãos.
Depois de descascar, triture os grãos em um liquidificador ou processador de alimentos. Ele vai virar uma espécie de pó meio grudento.
A próxima etapa é colocar um litro de água em uma panela, adicionar de três a quatro colheres de sopa de cacau moído e mexer bem.
Quando a mistura levantar fervura, desligue o fogo. Você vai perceber que o cacau sobe – então cuidado para não melecar o seu fogão inteiro.
Por último, basta adicionar o que você desejar. A bebida pode ser tomada quente ou fria.
6. O que as pessoas sentem ao tomá-lo?
Assim como acontece com a maconha, os efeitos do cacau podem variar bastante de pessoa para pessoa – dependendo não apenas de seu organismo, mas também de suas intenções e de sua abertura emocional. Mas não espere que uma cerimônia de cacau seja como a da ayahuasca: ela costuma ser muito mais leve. Alguns condutores de cerimônia podem combinar o cacau com cogumelos mágicos, ricos em psilocibina, para uma experiência mais psicodélica. Mas isso não é regra!
Normalmente, as sensações envolvem:
- Aumento da energia e vontade de mover o corpo ou dançar;
- Sensação de bem-estar generalizada, pois o cacau provoca a liberação de endorfina e dopamina;
- Conexão com o Eu superior;
- Estímulo da criatividade;
- Desbloqueio de traumas e/ou inseguranças;
- Foco no presente (ótimo para meditações);
- Promoção da cura e abertura para conversas profundas.
7. Curiosidade: o cacau e o sistema endocanabinoide
Lembra de quando falamos sobre outras plantas que estimulam o sistema endocanabinoide? Então: o cacau está entre elas! Ele tem uma ação muito interessante, pois contém N-oleoletanolamina e N-linoleoiletanolamina, que desativam a FAAH, uma enzima que decompõe a anandamida.
Quando a anandamida não é quebrada, seu corpo retém um nível mais alto dela, o que faz você se sentir relaxada ou eufórica por mais tempo.
Em combinação com a cannabis, o cacau pode fazer você se sentir brisadinho por mais tempo. Não é incrível?
E aí, curtiram saber de tudo isso? Os rituais com cacau são experiências muito interessantes, e a gente recomenda para quem deseja aprofundar seu lado espiritual – com muito respeito aos povos originários. Se ficou com alguma dúvida, é só comentar aqui ou falar com a gente lá no Instagram @girlsingreen710 – onde divulgamos novidades quentinhas todos os dias.
Até a próxima!
Muito interessante. Adorei o texto.
Parabéns, vocês são fodas!