O loló, primo do lança-perfume, não é nenhuma novidade, mas vem sendo mais e mais usado pelos jovens dentro e fora de contextos de festa. Aqui, explicamos o que ele é e como reduzir seus danos!
Se lá fora a coisa já é assim, não é pouco dizer que no nosso país o loló conquistou um bom público – cerca de 2,8% da população geral, segundo dados da Fiocruz. Barato e de fácil administração, seu uso está bastante associado a festas – mas não só a elas. Para entender um pouco mais sobre ele, conversamos com a galera do grupo “Que Lança é Esse?” (@quelanca.rd no Instagram), um projeto de extensão da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) criado para promover o debate sobre o uso dessa substância sob a perspectiva da Redução de Danos.
Bora saber que droga é essa? Vem com a gente!
Lança-perfume e loló: o que são?
De acordo com o pessoal do projeto, o lança (apelidinho do lança-perfume) começou a se popularizar no Brasil no início do século XX. Composto principalmente por cloreto de etila e acondicionado sob pressão em frascos para uso em forma de spray, ele se tornou extremamente comum em bailes de carnaval no país inteiro. Ao ser borrifado, ou “lançado”, a substância exala um cheiro perfumado característico – a partir do qual recebe seu nome.
O tempo passou e o lança foi mudando. Ele foi proibido nos anos 60, mas, como todas as outras drogas, não deixou de ser usado – e muitas variações tanto na sua composição quanto nos nomes foram surgindo. Hoje, ele é bem famoso como “cheirinho da loló”, ou apenas loló, para os mais íntimos.
E qual a diferença entre lança-perfume e loló, meninas? Bom, como explica a galera do Que Lança, o nome lança-perfume ainda está mais associado a essa apresentação na forma de spray, enquanto loló geralmente se refere a produtos de fabricação caseira, que podem ser comercializados em diferentes embalagens – como pequenos frascos de vidro ou de plástico. Entretanto, esses nomes quase sempre são usados como sinônimos pela população em geral. Em letras de funk, por exemplo, falam em “lança” para se referir não ao spray, mas ao próprio loló.
De onde eles vêm?
No início, o lança-perfume era feito a partir de substâncias como cloreto de etila, éter e clorofórmio. Entretanto, com as proibições e a restrição ao acesso a elas, vários outros tipos de solventes passaram a ser usados. Afinal, solventes geralmente são substâncias de fácil acesso – e estão presentes em produtos como diluentes de tinta, removedores de esmalte, solventes de cola, antirrespingo de solda, entre outros.
E o projeto trouxe alguns dados interessantes, como:
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Um estudo realizado com amostras de Pernambuco, apreendidas entre 2007 e 2011, encontrou diferentes misturas contendo clorofórmio, éter, diclorometano, além do etanol, que é de fácil aquisição e pode potencializar os efeitos das demais substâncias.
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Outro estudo que analisou a composição de ampolas de vidro apreendidas no carnaval da Bahia em 2015 identificou diversos compostos e misturas entre eles. Alguns dos mais frequentes foram o diclorometano, etanol, diclorofluormetano, clorofórmio, éter e o cloreto de etila – que foi encontrado em apenas 3% das amostras. (Ref 2)
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Alguns ainda contam com uma substância chamada tricloroetileno – que pode induzir à morte súbita se inalada repetidamente.
Ou seja, não dá para saber exatamente o que tem no loló – mas dá para se ter uma ideia.
Geralmente, eles ainda contam com uma essência perfumada. Cheirinhos de coco, morango, cereja ou chiclete são alguns dos mais comuns por aí.
Cientificamente falando, como eles agem?
A ação dessas substâncias é considerada depressora do SNC pela inibição dos receptores glutaminérgicos do tipo NMDA, relacionados a plasticidade e excitabilidade neuronal, e estimulação dos GABAérgicos e glicinérgicos, classicamente inibitórios.
Quais são seus principais efeitos?
Primeira fase: euforia, excitação, alucinações “heroicas”, perturbações auditivas e visuais, e por vezes tontura, náuseas, salivação e faces avermelhadas. Por serem os efeitos mais desejados, os usuários costumam fazer inalações repetidas para que essas sensações se prolonguem por mais tempo.
Segunda fase: início da depressão do Sistema Nervoso Central, associada a confusão mental, perda do autocontrole, embaçamento da visão, cefaleia e palidez.
Terceira fase: depressão dos reflexos, falha na coordenação motora e ocular, redução do estado de alerta, fala enrolada, dificuldade de andar corretamente.
Quarta fase: inconsciência, sonhos estranhos, queda da pressão arterial e, em casos graves, ataques convulsivos.Já os principais efeitos crônicos, que aparecem depois do uso prolongado, são:
- Diminuição (ou atrofia) da massa cerebral;
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Desmielinização cerebral e periférica;
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Fraqueza muscular;
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Déficits intelectual e de memória;
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Dificuldade de concentração;
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Doenças renais;
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Intoxicação do fígado;
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Inflamação e/ou enfisema pulmonar;
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Supressão da medula óssea.
E quais os maiores riscos de usar loló?
Bom, além de tudo isso que a gente já citou acima (e que não é pouca coisa), o loló oferece riscos de danos ao pulmão e coração, além do risco de queda, devido prejuízo na coordenação motora. Isso pode causar ferimentos graves. Além disso, os usuários e usuárias correm risco de morte súbita por parada cardíaca.
Outra coisa que pode acontecer (inclusive acontece bastante) é confundir o loló com bebida e tomar acidentalmente, o que aumenta riscos de intoxicação grave.
E atenção, novinhos e novinhas: os mais jovens são particularmente vulneráveis aos riscos de danos no cérebro, pois nesse período o órgão está em fase de desenvolvimento. Como mencionamos anteriormente, o lança-perfume no sistema nervoso – e, segundo o Que Lança é Esse?, ele pode dissolver a bainha de mielina (camada de gordura que envolve os neurônios e funciona como isolante, impedindo que os impulsos elétricos se dissipem pelo caminho). Até os 20 ou 24 anos, o cérebro ainda está em formação, necessitando das conexões que faz para criar sua estrutura final. Portanto, as lesões podem prejudicar a formação cerebral!
Como ele interage com outras drogas?
Não é recomendado misturar nenhum tipo de substância, principalmente aquelas que não temos como saber exatamente a composição.
Seu uso com álcool é especialmente perigoso: a substância pode aumentar a concentração de tricloroetileno no sangue. Além disso, as bebidas alcoólicas também inibem a biotransformação do inalante, potencializando sua toxicidade. Por ambos serem depressores, ainda há o risco de parada cardiorrespiratória com o uso combinado.
Seu uso concomitante com cocaína também deve ser evitado! Ambas as substâncias sobrecarregam o coração, o que aumenta as chances de parada cardíaca.
Dicas para reduzir danos
O que não podia faltar? Isso mesmo: as dicas de como reduzir os danos de uso do lança ou loló. Aqui, a galera do Que Lança é Esse deu a letra:
Tente espaçar ao máximo os usos e não inalar por um período maior que cinco segundos, pois aumenta a chance de desmaios;
Não segure a baforada por muito tempo, pois isso aumenta os danos ao pulmão;
Faça pausas entre uma baforada e outra para dar ao corpo oxigênio suficiente para se recuperar;
Evite fazer uso em pé, principalmente se estiver próximo a locais perigosos, como ruas movimentadas, escadas ou janelas;
Evite esforço físico durante ou logo após os efeitos, pois aumenta o risco de parada cardíaca;
Evite misturas! Como já falamos acima, elas podem ser extremamente perigosas e causar danos irreversíveis;
Marque o recipiente que está usando e avise pessoas próximas para que ninguém beba seu loló;
E, claro, esteja sempre com pessoas de confiança que possam ajudar em caso de necessidade.
Conheça o projeto Que Lança é Esse?
O “Que Lança é Esse?”, que trouxe grande parte das informações desse texto para a gente, é um projeto de extensão da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) que visa promover o debate, construir e ampliar o acesso a conhecimentos sobre o uso de substâncias conhecidas como lança-perfume, ou loló, a partir da abordagem da Redução de Danos.
Segundo eles, essas substâncias inalantes têm uma alta prevalência de uso e estão associadas a vários casos de intoxicação e morte. No entanto, muito pouco se fala sobre isso e sobre como reduzir os riscos e danos desse uso. E isso tem a ver com o preconceito que existe em relação ao uso dessas substâncias e a marginalização dos usuários!
E, quando falamos de loló, existem dados alarmantes:
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Estimativas não oficiais indicam que, em 2015, 111 jovens morreram em decorrência do uso de lança-perfume somente na cidade de São Paulo, sendo a maioria menores de 18 anos.
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Dados obtidos a partir de estimativas da sociedade civil, como a Associação Rolezinho – A Voz do Brasil, apontam que de cada 100 casos de intoxicação por uso de lança-perfume, 4 acabam em morte.
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São inúmeros os relatos e depoimentos de pessoas que perderam parentes e amigos pelo uso do lança-perfume que reforçam esses indícios.
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Há ainda o fato do lança-perfume geralmente ser utilizado em conjunto com outras substâncias, o que aumenta o risco de intoxicação.
Esse projeto é realizado no âmbito do Laboratório de Toxicologia Analítica com apoio da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da UNICAMP. Ele ainda conta com a parceria do Centro de Convivência É de Lei (@ccedelei) e do Coletivo Repense (@repense.rd), que é um coletivo de redução de danos da UNICAMP e que possui vários membros atuantes no projeto.
Só podemos agradecer com todo o coração essa parceria linda! Esperamos que vocês tenham curtido o conteúdo e usem essas informações com sabedoria – afinal, a gente tem que se cuidar, certo?
Não esqueça de comentar aqui em caso de dúvidas – e vale seguir o “Que Lança é Esse?” (@quelanca.rd) no Instagram para acompanhar esse conteúdo delicioso. Além disso, segue a gente também – lá no @girlsingreen710 – para estar sempre por dentro das novidades e de postagens quentinhas.
Até a próxima
Achei muito esclarecedor o artigo, parabéns! E fiquei feliz de ter negado quando me ofereceram em uma festa. Eu já estava me sentindo muito bem por uso de ecstasy. O meu amigo que encontrei, na melhor das intenções, só ofereceu…
Acho que deve haver uma conscientização dos próprios usuários em saber e explicar os efeitos antes de oferecer para alguém além de, claro, cada um nunca aceitar ingerir algo sem perguntar do que se trata. Afetada, se eu aceitasse, provavelmente teria me intoxicado / sobrecarregado o corpo.
O perigoso é que podemos ficar mais abertos e menos cuidadosos quando já entorpecidos por algo, e mais facilmente aceitar e ingerir mais coisas cuja combinação pode nos fazer muito mal…
Olá
Achei interesante obrigado
Quero compra um
Sinceramente, meus parabéns a quem escreveu este artigo. Muito profissional e com um ótimo design. Não conhecia o site e virei fã.