No 710, tivemos a honra de conferir em primeira mão o documentário Frenchy Dreams of Hashish. Aqui, vamos contar os principais aprendizados dessa experiência!
Há pouco mais de um ano, nos despedimos de uma das figuras mais importantes para o resgate da arte perdida do haxixe. Frenchy Cannoli, nosso querido professor, nos deixou — mas seu legado segue vivo através de todos os seus seguidores, aprendizes e admiradores. E conseguimos ver tudo isso com ainda mais clareza no seu documentário Frenchy Dreams of Hashish.
Lançado neste 7/10, Frenchy Dreams of Hashish mostra a realidade do mestre Hashishin Frenchy Cannoli e de um pequeno grupo de fazendeiros produtores de maconha do Emerald Triangle, no norte da Califórnia. Frenchy e sua esposa Kimberly produziram o doc em colaboração com o diretor do filme, Jake Remington.
De acordo com eles, desde o início, a intenção por trás do filme era reintroduzir o haxixe tradicional ao público e incentivar o espírito da agricultura sustentável, das flores crescidas ao sol e de toda sua qualidade. Entretanto, durante as filmagens, a indústria da cannabis na Califórnia estava experimentando muitas ondas de mudança provocadas pela legalização da cannabis para uso adulto. O filme retrata justamente esse turbilhão de burocracia e hipocrisia, que mostra a luta dos fazendeiros por qualidade e sobrevivência em um mercado desleal.
Aqui, vamos contar a vocês como foi essa experiência, e 5 coisas que aprendemos com Frenchy Cannoli — dentro e fora das telas do documentário. Se liga!
Sustentabilidade precisa sair do papel
“Tudo começa com a terra, o fazendeiro e a genética”.
Desde os primeiros minutos do documentário, Frenchy frisa a importância dos cuidados com a natureza, e sobre como temos uma responsabilidade gigantesca com a sustentabilidade. Quando cultivamos uma planta, recebemos de volta tudo o que colocamos no solo. E tudo o que colocamos no solo também é devolvido em diversos outros sentidos — como nos desastres naturais experimentados pelos cultivadores da Califórnia.
Nos últimos anos, secas, enchentes, terremotos, deslizamentos de terra e, principalmente, queimadas de proporções gigantescas, têm tornado os dias de quem vive pela maconha muito mais difíceis. E a única saída para isso é a aposta em práticas sustentáveis.
Além do cultivo regenerativo, orgânico e com respeito ao meio ambiente, existem outros fatores trazidos à atenção pelo professor. A utilização da maconha como ferramenta para salvar o planeta, principalmente através do uso de suas fibras e do cânhamo, é uma de suas principais bandeiras. Em um trecho de sua palestra na conferência Concentration 2019, mostrada no documentário, ele lamenta: “É uma vergonha que não usemos a planta da forma que ela deve ser usada”.
Senso de comunidade salva vidas (e cultivos)
“Estou tentando fazer um documentário para mostrar o que faço, que é hash making, mas também de onde vem toda a qualidade com a qual trabalho.”
Frenchy não trabalhava sozinho, e sempre teve orgulho em exaltar seus parceiros: fazendeiros, breeders, outros hash makers e aprendizes faziam parte de seu dia a dia e dividiam com ele todos os processos de sua jornada. Juntos, com uma ajuda importante do terroir do norte da Califórnia, eles criaram uma comunidade forte, focada na qualidade e no amor pela planta.
“A qualidade não vem do meu trabalho. Ela é dada a mim pelos fazendeiros.”
É justamente esse senso de comunidade que permite a sobrevivência de produtores, que, atualmente, lidam com problemas de todos os lados.
Não é incomum vermos pessoas perdendo colheitas, equipamentos, casas e vidas inteiras por conta de desastres naturais na região, e é com muita ajuda que cada um consegue se reerguer e continuar seu trabalho. E essa é uma lição que nós, no meio do proibicionismo, também precisamos aprender. Quanto mais segregamos e excluímos em nossos círculos, mais dispersos e fracos ficamos.
Uma comunidade desunida não colhe qualidade. Enquanto isso, quem se une para acabar com a cultura da maconha e todos os seus benefícios tem caminho livre. E já sabemos que isso só prejudica, de formas desiguais e cruéis, quem faz parte dela.
Luta dos fazendeiros é mais pesada do que se vê
“A forma como a legalização está vindo está realmente machucando os fazendeiros menores”.
Quem pensa que a vida de quem planta é fácil em estados legalizados, tá bem por fora da realidade que encontramos ao conversar com qualquer cultivador que não tem tanta grana assim. E a verdade é que, tirando as grandes empresas (que normalmente focam bem menos na qualidade do cultivo e do produto final), são pouquíssimos os fazendeiros que conseguiram regularizar suas atividades sem sentir o baque financeiro.
Além disso, justamente por conta dessas grandes empresas com investidores externos que entraram na indústria só para surfar no hype da legalização, hoje temos na Califórnia um mercado altamente saturado. E Frenchy não hesitava ao se posicionar sobre esse assunto.
No norte da Califórnia, existem pequenas fazendas comandadas por famílias há 30, 40 anos — ou até mais. Para eles, o negócio não é sobre dinheiro, é sobre sustentar uma cultura que já se tornou inerente à região. Então, os fazendeiros têm três preocupações principais: o ambiente onde se encontram, a planta e o seu sustento. E, infelizmente, no momento, as coisas não vão bem nesses quesitos para quase ninguém que deseja fazer parte do mercado legal.
Legalizar não resolve todos os problemas
“No momento, é super-policiado, super-regulado e super-taxado”.
Legalizar pode ser um movimento perigoso quando mal pensado. E a legalização na Califórnia não deveria servir como parâmetro para ninguém! A forma como a regulamentação foi pensada no estado não deu margem alguma para o que nos interessa, que é a reparação de danos para os prejudicados pela guerra às drogas e o incentivo aos pequenos produtores locais.
O que vemos é uma briga de cachorro grande, e são poucas as fatias de mercado que sobram para quem não tem nome na lista VIP. Por isso, muitos fazendeiros não conseguem se manter na indústria legal e acabam voltando para o mercado irregular, que é complicado, mas tende a deixá-los menos na mão.
Ou seja: legalizar pensando apenas no dinheiro pode dinamitar o mercado antes mesmo que ele se estabeleça. E nem todo mundo está pronto para essa conversa.
Forma como tratamos a planta define tudo
“A maneira como tratamos nossas plantas, como trabalhamos com elas, define nosso futuro”.
Frenchy Cannoli foi, em toda sua vida, uma pessoa extremamente inteligente e consciente em tudo o que se propunha a fazer. Entender melhor seus posicionamentos e opiniões foi um ponto forte do documentário, mas não podemos negar que alguns dos momentos mais impactantes envolvem enxergar de perto sua relação com as plantas e as extrações.
O professor nos ensina que, como fazendeiros, é essencial criar uma conexão com a planta e entender todas as suas necessidades. O cultivador deve pensar como a maconha pensaria.
Já como hash makers, precisamos estar conectados não apenas com a planta, mas também com cultivadores que colocam toda sua energia e paixão na terra. São eles que trarão os melhores e mais maduros tricomas para suas mãos.
E, por último, não podemos esquecer de prensar a resina para ativar suas propriedades! Contamos como fazer isso aqui, em nosso artigo sobre temple balls.
E aí, também se sente mais inspirado ou inspirada pelos ensinamentos do nosso querido Frenchy? Nós trazemos sempre suas palavras em tudo o que fazemos, pois acreditamos que o seu conhecimento é grande demais para ficar guardado como segredo. O que precisamos fazer é espalhar esses saberes, para que, pouco a pouco, eles cheguem em quem mais precisa.
Não esqueçam de seguir a gente lá no @girlsingreen710 para mais informações sobre extrações, haxixe, Redução de Danos e muito mais.
Até a próxima!
Muito bom esse artigo!!